Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, julho 22, 2012

E o caldo engrossou!


TORONTO (CANADA) – ESSA greve dos servidores (funcionários e docentes) das Instituições Públicas de Ensino Federal (IFES) já ultrapassou dois meses, após a realização de uma marcha, em Brasília (DF), para pressionar o governo a atender às reivindicações dos grevistas. Além de reclamar da defasagem salarial com relação a outras carreiras federais, a categoria exige mudança na estrutura de cargos, melhores condições de trabalho, incorporação de gratificações e unificação da carreira, com 13 níveis de remuneração e variação de 5% entre esses níveis.

BASEANDO-SE nos índices pesquisados e disponibilizados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os docentes públicos federais pleiteiam ainda um aumento de R$ 1.597,92 para R$ 2.329,35 no piso salarial para o regime de 20 horas semanais. E, também, criticam o Programa de Apoio à Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que foi lançado pelo então presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP) em 2007. Segundo eles, a criação de novas IFES e a construção de novas unidades por Instituições já existentes foram feitas às pressas, com salas lotadas, excesso de disciplinas, orientações pedagógicas conflitantes e ausência de laboratórios, de bibliotecas, de estrutura para pesquisa e de política de assistência ao estudante.

HÁ mais de dois meses, quando essa greve foi deflagrada, o ministro de Estado da Educação, Aloysio Mercadante (PT-SP), afirmou que não via sentido na paralisação, uma vez que o governo federal vinha cumprindo o acordo firmado no ano passado, que previa um reajuste de 4% nos salários dos docentes das IFES. Em nota, o Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes) alegou que o acordo de 2011 foi "emergencial". Disse que as autoridades educacionais haviam prometido negociar um novo plano de carreira. E pediram "o agendamento de reuniões com urgência", para evitar um impasse.

O MINISTRO Mercadante dispôs-se a receber os líderes dos grevistas e alegou que a demora para o início das discussões foi causada pela morte, em Janeiro último, do secretário executivo do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão, Duvanier Paiva (PT-SP), o principal negociador do governo. Contudo, a reunião marcada para a semana seguinte com o comando de greve e a direção do Andes foi cancelada a pedido do próprio Mercadante, que alegou estar com "problemas de agenda".

OUTRA reunião com o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão, Sérgio Mendonça (PT-SP), também foi desmarcada. A justificativa foi de que a equipe econômica do governo tem de reavaliar sua posição, antes de apresentar uma nova contraproposta de reajuste salarial aos grevistas. A presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), teme que todos os setores do serviço público federal, invocando isonomia, exijam o que for concedido aos servidores das IFES. Os sindicatos dos servidores da União Federal já acenaram com uma greve geral ainda este mês.

A GREVE dos docentes das IFES começou na segunda quinzena de Maio último, com a suspensão das aulas em 41 das 59 Universidades Públicas Federais. Quase três semanas depois, 49 Universidades e 4 dos 40 Institutos Federais de Ensino Técnico e Centros Federais de Educação Tecnológica estão com as atividades suspensas. Até as principais Universidades da rede federal - como as do Estado de São Paulo e do Estado do Rio de Janeiro - aderiram à paralisia. Na maior de todas as IFES - na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – os servidores não faziam greves desde 2001. As aulas também foram suspensas nas Universidades que o governo Luiz Inácio da Silva (2003-10), criou nos municípios onde estão os maiores redutos eleitorais do Partido dos Trabalhadores (PT). É esse o caso, por exemplo, da Universidade Federal do ABC Paulista (UFABC), com sede em Santo André (SP). Segundo o Andes, mais de 1 milhão de alunos estão sem aula, por causa da greve. No governo, a estimativa é de que a paralisação tenha atingido apenas 500 mil alunos. Convertida em entidade chapa-branca e de apóio incondicional ao petismo, de quem é cliente preferencial, a União Nacional dos Estudantes (UNE) limitou-se a emitir notas de apoio aos servidores das IFES, sugerindo que a receita a ser obtida com a exploração do pré-sal seja aplicada em educação.

O ENSINO público superior foi um dos principais redutos do PT, durante anos. A greve está mostrando que, se o partido continua controlando o movimento estudantil, perdeu sua hegemonia entre as entidades docentes.

MAS, o pobre, grande e bobo País paga um preço maior.