Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, dezembro 17, 2012

Na trilha da lambança lulopetista

MUITO embora realmente não contenham qualquer novidade, de fato são demasiadamente graves para não serem rigorosamente investigadas as denúncias do empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza sobre o envolvimento pessoal do então presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), com o escândalo do Mensalão. Como revelou a reportagem publicada no último dia 11 pelo Jornal O Estado de S. Paulo (Estadão), em 24 de setembro passado o operador do esquema criminoso, condenado na antevéspera pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas antes de ser apenado a 40 anos de prisão, procurou a Procuradoria-Geral da República para acusar Luiz Inácio da Silva de praticamente tudo de que ele já foi acusado desde que o ex-guerrilheiro e fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), Paulo de Tarso Venceslau foi expulso da legenda por ter revelado, em público, o método petista de governar visando, a qualquer preço, à maior permanência possível no poder e à ampliação máxima da esfera do governo. De novo, realmente, apenas as despesas pessoais de Luiz Inácio da Silva bancadas por dinheiro sujo que jorrava nos cofres do PT.



ALÉM disso, no depoimento que se estende por 13 páginas, Marcos Valério fez ainda diversas outras afirmações, entre elas a de que Paulo Okamotto (PT-SP), amigo próximo de Luiz Inácio da Silva e atual diretor do Instituto que leva o seu nome, o teria ameaçado de morte se não se "comportasse". Em Paris, onde foi colhido pela notícia, Luiz Inácio da Silva se limitou a dizer que é tudo "mentira". Para a presidente da República Dilma Wana Rousseff (PT-RS), trata-se de uma "lamentável" tentativa de destituir o antecessor da "imensa carga de respeito" do povo brasileiro por ele. Presidente do PT, o deputado estadual, Rui Falcão (PT-SP), declarou que "a mídia e o Ministério Público não deveriam dar crédito a alguém que, condenado, tenta reduzir suas penas caluniando o PT". Aqui e ali, talvez para fomentar uma conveniente confusão, se disse que o Estadão "denunciou" Luiz Inácio da Silva. O que o Jornal O Estado de S. Paulo fez foi apenas noticiar com apropriado destaque as denúncias do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.



ESSA desqualificação do denunciante, por sua vez, visa claramente a impedir que as suas imputações sejam apuradas. O que conta, como também é óbvio, não são os motivos que o levaram a falar aos procuradores da República, mas o que possa haver de verdadeiro nas suas palavras. A título algum, portanto, podem ser descartadas de antemão, por ser o que é quem as proferiu. Assim se manifestaram o presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa (que teve acesso "oficiosamente" ao texto), e dois de seus pares, os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, ao defender que Luiz Inácio da Silva seja investigado. A decisão cabe ao procurador-geral, Roberto Gurgel. Ele vai esperar o término do julgamento da Ação Penal 470 (que trata do Mensalão) no STF, esta semana, para resolver se tomará a si a incumbência ou se a encaminhará a uma instância inferior do organismo, dado que Luiz Inácio da Silva, ex-presidente da República, não goza de foro privilegiado. Estará decepcionando quem passou a admirá-lo pela atuação que teve no caso do Mensalão, se decidir pelo arquivamento das denúncias. Pressões nesse sentido não faltarão.



NO julgamento do Mensalão, Rousseff instruiu a sua equipe de governo a não se manifestar - o assunto, argumentou, não envolvia a sua administração (2011-14). Desta vez, porém, fez saber que o seu governo se engajará na blindagem de Luiz Inácio da Silva, desacreditando aquele que, pela primeira vez - e com presumível conhecimento de causa - apontou o dedo para o antecessor. A base aliada não perdeu tempo em fazer a sua parte, a começar do presidente do Senado Federal, senador José Sarney (PMDB-AP). Quando esteve no pelourinho por irregularidades naquela Casa do Poder Legislativo, anos atrás, Luiz Inácio da Silva disse que ele não poderia ser tratado como "uma pessoa comum". Agora, Sarney acaba de retribuir a barretada, alçando Luiz Inácio da Silva à condição de "patrimônio do País". Bons democratas que são, cada qual, portanto, considera o outro invulnerável por definição. A rigor, foi o que o ex-presidente vinha conseguindo, ao se manter no vestíbulo dos escândalos que inundavam a copa e a cozinha de seu governo e as dependências em geral de seu partido.



TAL mágica, ao que tudo indica, parou de funcionar. Algo realmente novo e mais grave do que tudo que se sabia ate agora surgiu há cerca de três semanas, quando o Departamento de Polícia Federal (DPF) expôs os atos suspeitos da dileta amiga de Luiz Inácio da Silva, Rosemary Noronha, na chefia do escritório da Presidência da República em São Paulo, para a qual ele a nomeou. Agora vem o empresário Marcos Valério pôr em xeque mais uma vez o alegado alheamento de Luiz Inácio da Silva das enormidades que os seus principais companheiros cometiam em benefício do governo petista. Essa história está apenas começando.