Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, novembro 08, 2010

Péssima notícia para o comércio bilateral

SÃO PAULO (SP) - DEVE custar caro ao Brasil a decisão do Federal Reserve (Fed) - o banco central dos Estados Unidos da América (EUA) - de lançar mais US$ 600 bilhões em circulação até o meio do próximo ano. O plano é emitir cerca de US$ 75 bilhões por mês em mais um esforço para reanimar a economia dos EUA, ainda com baixo ritmo de atividade e desemprego acima de 9% da força de trabalho. Em troca desse dinheiro o Fed comprará títulos federais em poder do público. Dólares continuarão inundando os mercados e forçando a valorização do real e de outras moedas. Produtores brasileiros terão maior dificuldade não só para exportar, mas também para competir no mercado interno, porque a sua moeda já é uma das mais valorizadas do mundo. Chineses continuarão levando vantagem sobre a maior parte dos concorrentes, porque darão um jeito de manter o yuan desvalorizado, talvez um pouco menos do que antes para mostrar alguma boa vontade.

O OBJETIVO concreto do Fed, segundo a explicação oficial, é estimular as operações de crédito para animar o consumo e movimentar a produção. Todos torcem pela recuperação da economia norte-americana, a mais importante do mundo, mas nem todos aplaudem a política monetária dos EUA, por causa de seus efeitos no mercado internacional de câmbio. Na prática, os americanos exportam sua crise para o resto do mundo, em vez de contribuir para a reativação global.

O FED já havia indicado a disposição de emitir mais dinheiro. Seria a segunda grande operação desse tipo. A única surpresa foi o montante, porque os analistas apostavam em US$ 500 bilhões. Com os juros básicos na faixa de zero a 0,25% ao ano desde Dezembro de 2008, as possibilidades de ação do banco central americano estavam muito limitadas. Pouco ou nada restaria além de jogar mais dólares no mercado.

CRÍTICOS da política norte-americana, como o ministro de Estado da Fazenda do Brasil, Guido Mantega (PT-SP), e alguns de seus colegas europeus, têm defendido outra solução. Seria melhor, segundo seu raciocínio, continuar recorrendo a estímulos fiscais para reativar o consumo e a produção nos EUA. O cardápio clássico poderia incluir mais investimentos públicos, forma direta e eficiente de criar empregos e de movimentar indústrias de equipamentos e de materiais.

ESSA derrota eleitoral do presidente da República dos EUA, Barack Houssein Obama, nas eleições legislativas do meio do seu mandato, foi uma péssima notícia para quem torcia por uma solução daquele tipo. Os principais vitoriosos são os grupos mais conservadores do Partido Republicano. Eles nunca se mobilizaram para deter a gastança do ex-presidente da República dos EUA, George W. Bush, responsável por uma devastação nas contas públicas. A contenção dos gastos públicos federais foi, no entanto, uma de suas principais bandeiras na campanha recém-terminada.

QUANDO a crise se agravou, no terceiro trimestre de 2008, o orçamento federal dos EUA já estava em más condições. Novas despesas foram realizadas para o combate à recessão. Durante algum tempo, essa política pareceu dar algum resultado. Mas a economia voltou a fraquejar e necessita, agora, de mais um bom empurrão.

QUALQUER novo programa de estímulos fiscais apresentado pelo Poder Executivo será recebido, quase certamente, com forte resistência no Congresso Nacional. O Partido Republicano conquistou a maioria na Câmara de Representantes e a vantagem democrata no Senado Federal tornou-se mais apertada. O presidente Barack Obama terá maior dificuldade para negociar novos pacotes antirrecessivos.

ESTA tem sido, pelo menos, a avaliação mais comum dos analistas. Se estiver correta, a economia norte-americana dependerá quase exclusivamente do afrouxamento monetário para ganhar algum impulso. Nada garante esse resultado. Seria muito mais confiável uma política de gastos públicos, principalmente se orientada para investimentos.

QUANTO à política de comércio, dificilmente será influenciada pelo resultado das eleições. Republicanos tendem a ser menos protecionistas que democratas, mas todos, ainda por um bom tempo, tentarão proteger a produção nacional. Quanto mais lenta a recuperação, mais duradoura será a tendência ao fechamento comercial. Não há perspectiva imediata de grandes novidades positivas.