Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Caindo na real

RIO DE JANEIRO - NELSON BARBOSA, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, algumas semanas atrás, denunciou como terroristas, as pessoas que previam um aumento da Taxa Selic em 2010 por causa da deterioração das contas públicas. Solicitado pelo Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão para definir novos parâmetros na elaboração do Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa), recuou e tornou-se realista: os parâmetros propostos se aproximam muito das estimativas da última pesquisa Focus.

A ESTIMATIVA da Taxa Selic para o final de 2010 passou de 8,75% para 10,35%. A estimativa da pesquisa Focus é de 10,50%. O aumento das previsões do Ministério da Fazenda indica que a política de austeridade do Banco Central do Brasil (BC) deve ser mantida e a evolução da conjuntura no próximo ano justifica a elevação da taxa básica de juros.

O VOSSO presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), ao comentar a escolha de um novo diretor para o BC, insistiu na necessidade de não procurar inovar demais numa política que até agora deu certo.

HENRIQUE Meirelles (PMDB-GO), como presidente daquela instituição, lembrou que convém conter a expansão e não alimentar um crescimento que a produção não possa acompanhar.

O ECONOMISTA Nelson Barbosa parece ter levado em conta esses alertas e anuiu com as previsões do mercado, ficando só ligeiramente abaixo delas e procurando apenas justificar a elevação da Taxa Selic.

UMA VEZ que o governo prevê crescimento de 5%, aceito pelo mercado, a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 4,42% (ante 4,45% da Focus); e a taxa cambial média, em R$ 1,72 (R$ 1,74 da Focus).

EM UM país em que a poupança pública é insuficiente, um crescimento de 5% não poderá ser acompanhado por aumento suficiente da capacidade de produção, que será então substituída por importações a um custo muito menor do que poderia ser oferecido pela produção doméstica. Esta poderá crescer em torno de 6,88%, segundo a pesquisa Focus, mas certamente graças a componentes importados. Nessa perspectiva, haveria uma forte elevação do déficit das transações correntes acompanhando o crescimento do déficit da balança comercial.

CONTUDO, seguramente, o que mais preocupará a equipe do BC são as despesas públicas num ano eleitoral, que aumentarão o poder aquisitivo da população, elevando o descasamento entre demanda e oferta em paralelo com o início de um processo de deterioração das contas externas. A contrapartida do crescimento será um custo financeiro ainda elevado.