Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, julho 31, 2006

A estrela ao nosso redor

WLADMIR ÁLVARO PINHEIRO JARDIM
RIO DE JANEIRO

Finalmente, neste Domingo, 30, consegui aproveitar uma brecha na agenda curtinha destas férias de Inverno para conferi com a família (in loco) o novo show da cantora e compositora Marisa Monte aqui no Rio de Janeiro.

O show que estreou por essas bandas havia duas semanas, encerrou temporada ontem, no Claro Hall – casa de espetáculos com capacidade para 12 mil pessoas, localizada nas entranhas no Shopping Rio Park Center, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste desta Cidade Maravilha Mutante.

Esta foi a primeira temporada da musa do tribalismo na Cidade desde a passagem da turnê “Memórias, crônicas e declarações de amor”, em 2000.

E confesso estava ansioso pra vê-la no palco outra vez. O nome do novo espetáculo “Universo particular”!

Bem sei que depois dessas paragens a turnê de “Universo particular” deve seguir carreira Brasil afora e depois ganhar o mundo. Antes de assisti-lo, porém, é preciso anotar alguns pontos fundamentais para melhor usufruto do valor do seu ingresso.

“Aquela”, a música que abre o show, é tocada totalmente no escuro. Então, meu caro leitor certifique-se de estar na sua mesa (frisa ou poltrona) neste momento, porque as luzes se apagam de repente, a música começa e depois disso, elas só serão acesas novamente ao término da canção. Ou seja, será impossível chegar até o seu lugar neste período, e você ainda poderá trombar em garçons, tropeçar em pessoas e cair nos degraus mal iluminados.

O cineasta Cláudio Torres (irmão da atriz Fernandinha Torres) e diretor da Produtora Conspiração Filmes, reuniu os músicos no centro do palco. Eles aparecem logo após o breu, na segunda música, tocando juntos, posicionados em plataformas em níveis diferentes. Marisa Monte fica no patamar mais alto ladeada pelos músicos Dadi e Pedro Baby, este facilmente reconhecível em seu chapéu panamá. Os músicos ficam na mesma posição o espetáculo inteiro e, nem de longe, cansam o olhar do espectador.

Ralph Strelow, fotógrafo do filme “Redentor” (2003), do mesmo Cláudio Torres, optou por uma iluminação totalmente branca. Nada pisca, tudo anda. Gruas do Cinema carregam as luzes, se movem pra lá e pra cá, rudimento da casa de espetáculos, aparente, fundo sujo, fios à mostra. O resultado é sofisticado e simples, belo.

Marisa Monte ao vivo é melhor do que a Marisa Monte em CDs. A belíssima e conhecida voz bem treinada da cantora aliada à generosidade com que interpreta suas canções transportam o espectador para uma sala de estar de verdade. A sensação é a de se estar em uma festa entre amigos. O clima ‘barulhinho bom’ envolve a platéia de tal maneira que em algum momento do show ela brinca e até convida o público todo, avisando “que pode levar quem quiser” para um “chill-out” na casa de Dadi. “O apartamentinho dele é pequeno, mas o coração é de mãe”, nos diverte Marisa Monte.

As canções “Maria de Verdade”, “Pernambucolismo” e “Velha infância” até podem ser apontadas como destaques, mas é difícil realçar destaques em um show de repertório tão preciso.

Talvez melhor do que chamar a atenção para detalhes nos arranjos, a expertise dos músicos, e até a presença de um fagote entre os instrumentos, pode ser apontar a delícia que é ver a não-expressão corporal de Marisa Monte.

Sem fazer nada, ou fazendo muito pouco - como o balanço dos braços em algumas faixas – Marisa Monte mantém os olhos do espectador colados nela, o tempo inteiro.

E como nos disse o ator, diretor e dramaturgo Miguel Falabella (TV GLOBO), tais coisas “não se aprende, vem com você”.
Conclusão: o novo show de Marisa Monte é tudo!