Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, dezembro 19, 2012

Moral lullopetista

POR uma questão de honra, a vítima de acusações caluniosas é sempre a principal interessada na imediata e rigorosa apuração das maquinações que a atingem, para que a verdade cristalina venha à tona, eliminando qualquer resquício de dúvida sobre uma reputação ilibada. Por que será, então, diante da torrente de denúncias que têm colocado a reverenciada figura de Luiz Inácio da Silva (PT-SP) na berlinda, ele próprio e o Partido dos Trabalhadores (PT) têm preferido atacar a se defender, esforçando-se para desqualificar liminarmente os acusadores e as acusações? Por que a presidente da República, dona Dilma Wana Rousseff (PT-RS), que vinha primando por manter prudente distância do mar de sujeira que ameaça o lullopetismo, decidiu agora mobilizar o governo na tentativa de blindar seu padrinho político? Por que não exigem, todos, que se abra rapidamente uma investigação oficial do Ministério Público (MP) que coloque em pratos limpos toda “essa infamante campanha articulada pelas forças do mal” para destruir politicamente Luiz Inácio da Silva e o PT? Afinal, quem não deve não teme.



MAS a verdade, e é por isso que o lullopetismo anda batendo cabeça em evidente sintoma de pânico, é que o ex-presidente da República (2003-10), Luiz Inácio da Silva deve, sim. Deve, pelo menos, muitas explicações à Nação.



MUITOS preferem não ver, outros não conseguem, mas o desapreço do “grande chefe” por aquilo que os petistas ideológicos chamam de "moral burguesa" é marca registrada de seu comportamento. Até mesmo como chefe de governo, Luiz Inácio da Silva deu claras demonstrações desse desvio de conduta nas várias oportunidades em que, ao longo de seus dois mandatos, não hesitou em tratar publicamente com indulgência ou com inconveniente deboche os companheiros "aloprados" pegos com a boca na botija. E despediu-se da Presidência da República em 2010 demonstrando em grande estilo como se sente "mais igual" do que todo mundo, ao ordenar ao obsequioso ministro de Estado das Relações Exteriores, Celso Amorim (PMDB-RJ) que, ao arrepio da lei, distribuísse passaportes diplomáticos para toda a sua prole. E logo depois, já como ex-presidente da República, "a convite" do então ministro de Estado da Defesa, foi refestelar-se às expensas do agradecido povo brasileiro em dependências do Exército nas praias do Guarujá (SP). Comportamento típico de quem se considera todo-poderoso, acima do bem e do mal. Não exatamente de alguém que, como apregoam seus acólitos, ostenta "reputação ilibada".



LUIZ Inácio da Silva, portanto, deve realmente muitas explicações ao País. Mas prefere, com o apoio da habitual corte de bajuladores e beneficiários de sua liderança, fazer aquilo em que ele próprio e o PT são craques: atacar.



ESSA estratégia para blindá-lo está se desenvolvendo em vários planos: no comando do partido, na base aliada e nos quadros governamentais, por decisão, até certo ponto surpreendente, de dona Rousseff. Vários ministros de Estado já procuraram jornalistas para protestar contra a "falsidade impressionante" das denúncias que envolvem o “grande chefe”.



A DIREÇÃO nacional do PT, por sua vez, divulgou mais uma nota oficial, desta vez conclamando a militância, parlamentares e governadores de Estado a "expressarem sua indignação diante de mais esse ataque, essa sucessão de mentiras envelhecidas que a mídia conservadora, com setores do Ministério Público, insiste em continuar veiculando". Como de hábito em manifestações de autoria do deputado estadual Rui Falcão (PT-SP), boa parte da nota, e do depoimento gravado veiculado pelo site oficial do PT na internet, dedica-se a atacar a Imprensa, porque dá ouvidos às mentiras de "um condenado". Para o PT, definitivamente, o empresário mineiro Marcos Valério de Souza não está entre os condenados injustamente pelo Supremo Tribunal Federal (STF).



NA base aliada do governo Rousseff no Congresso Nacional, além do notório presidente do Senado Federal, José Sarney (PMDB-AP), para quem Luiz Inácio da Silva está acima de qualquer suspeita, agora o ex-presidente da República (1990-92) e senador da República, Fernando Collor de Mello (PTB-AL) - logo quem! -, dá uma mãozinha, como presidente da Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Senado Federal, ao fogo de encontro solicitado pelo líder do PT na Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto (PT-SC): propôs o convite a ao ex-presidente da República (1995-2002), Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) e ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para deporem sobre supostas irregularidades cometidas, no passado, sob suas respectivas responsabilidades. Como explicou Tatto, "se eles querem guerra, vão ter".



NÃO! Não há dúvida. Pela primeira vez, desde que chegou ao governo em 2003, Liz Inácio da Silva sentiu um golpe. Pela primeira vez teme as consequências dos seus atos.



E ESTA imbróglio está apenas sendo desenrolado.