Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, abril 04, 2010

Vencendo obscuras resistências

CONSERVATÓRIA (RJ) – APESAR de, há muito tempo, as universidades públicas e estaduais federais virem expandindo o sistema de Educação a Distância (EAD), só agora a Universidade de São Paulo (USP) - a maior, melhor e mais importante instituição de ensino superior do País -, irá lançar seu primeiro curso com base nesse modelo pedagógico. Trata-se de uma licenciatura de ciências, que será oferecida aos interessados em geral, mas que foi especialmente concebida para qualificar os professores do ensino básico.

ESSE MODELO de Educação a Distância favorece quem reside em locais longínquos e não consegue acompanhar os cursos tradicionais de graduação, que são presenciais. Ela também beneficia quem decidiu voltar a estudar sem, contudo, precisar comparecer diariamente à universidade. Por isso, o aluno desse tipo de curso tende a ser um pouco mais velho do que os dos cursos universitários tradicionais. O projeto da USP prevê a abertura de 360 vagas, e os docentes da rede pública estadual que conseguirem ser aprovados no processo seletivo, que ficará sob responsabilidade da Fuvest, receberão um bônus do governo estadual.

PARTE do total de aulas, 52% serão à distância e 48% exigirão a presença dos alunos nos campi de São Paulo (SP), Ribeirão Preto (SP), Piracicaba (SP) e São Carlos (SP). Dependendo dos resultados, a reitoria poderá expandir essa forma de ensino, que sempre foi muito criticada na instituição. Apesar de a experiência vir apresentando excelentes resultados em universidades públicas estaduais e federais Brasil afora, no âmbito da USP permanece a oposição contra ela, que decorre mais de razões ideológicas do que de argumentos técnicos e pedagógicos.


O TOM crítico começou em Outubro de 2008, quando o então governador do Estado de São Paulo, e agora pré-candidato a Presidência da República nas eleições de 2010, José Serra (PSDB-SP), assinou o decreto que criou a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), envolvendo o Centro Paula Souza, a Fundação Padre Anchieta, a Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap) e a Fundação de Financiamento e Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), além das três universidades públicas estaduais - a USP, a Universidade de Campinas (Unicamp) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp). Inspirada na experiência da Open University, na Inglaterra, da Université Virtuelle em Pays de la Loire, na França, e da Universitat Oberta de Catalunya, na Espanha, a ideia era montar um consórcio acadêmico-tecnológico para ampliar a oferta de cursos gratuitos de graduação, pós-graduação e educação continuada no Estado de São Paulo.


SEGUNDO o decreto, a Univesp foi encarregada de definir o projeto acadêmico e a Fapesp, de assegurar o apoio financeiro. As três universidades, o Centro Paula Souza e a Fundap ficaram encarregados de formular os conteúdos dos cursos e produzir o material didático. E a Fundação Padre Anchieta se comprometeu a lançar um canal de sinal aberto para a transmissão dos cursos em tempo real, com programação de 24 horas ao dia. Os primeiros cursos foram abertos pela Unesp (em pedagogia) e pelo Centro Paula Souza (em tecnologia de processos gerenciais), sendo destinados ao magistério público e aos professores das Fatecs - as escolas e faculdades técnicas do governo estadual.

PARTICULARMENTE, na USP, a oposição à experiência partiu de facções de estudantes e servidores ligados a micropartidos da esquerda radical, como o PSTU e o Partido da Solidariedade e Liberdade (PSOL), e de setores docentes vinculados ao Partido dos Trabalhadores (PT). Na greve de 2009 deflagrada pela Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo (Adusp) e pelo Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo (Sintusp), a universidade virtual e o ensino a distância foram duramente criticados. A alegação é de que a Univesp teria sido concebida por Serra para esvaziar a autonomia universitária e que sua expansão comprometeria os padrões de excelência do ensino superior público. Houve, inclusive, quem acusasse o governo estadual de usar o ensino a distância para criar um sistema de qualidade diferenciada, oferecendo educação de segunda categoria para os setores mais carentes da sociedade. E houve ainda quem dissesse que a educação a distância dissocia o ensino da pesquisa e priva os alunos de "convívio democrático" que só os cursos presenciais propiciariam.