Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Começar de novo!

Barack Hussein Obama (BHO) é uma mensagem mais importante sobre a reinvenção norte-americana do que suas próprias palavras.


Afinal, as palavras serão apenas memoráveis se BHO passar à história como um grande presidente. Mas na terça-feira, 20, frígida em Washington (DC) os norte-americanos e pessoas de todas as partes do mundo tomaram nota e se comoveram com a mensagem e o mensageiro. E como não se emocionar com as imagens de gente com 100 anos de idade que sofreu segregação brava na vida e fez questão de prestigiar a posse do primeiro presidente negro?


Houve um tom churchilliano de necessidade de sacrifícios no discurso e rondavam os fantasmas de George Washington, Abraham Lincoln, Franklin Delano Roosevelt e John Fitzgerald Kennedy (coragem, união nacional, superar o medo e a passagem da tocha para uma nova geração), mas a excitação deve acabar. Barack Hussein Obama já é o quadragésimo - quarto presidente da República dos Estados Unidos da América (EUA). Terminada a coroação na república norte-americana, já é hora de tirar o pedestal e despencar na realidade.

BHO, aliás, merece o crédito por uma eloqüência e constatação do maravilhoso momento histórico que se mesclavam com sobriedade. A expressão era muito séria, quase sombria... E nem poderia ser diferente. A barra está muito pesada. O discurso precisava ser uma tijolada nas ilusões. Na TV NBC, o veterano âncora Tom Brokaw observou que se em seis meses não surgir luz no fim do túnel econômico acaba a lua-de-mel da massa com Obama.

BHO não é o novo Capitão América e, de qualquer forma, neste quarto parágrafo do texto ainda estou procurando uma metáfora apropriada para momentos históricos como este. Vou roubar uma de Anne Applebaum, do jornal Washington Post. Os EUA de Obama estão como o vôo 1549 da US Airways do piloto que conseguiu fazer o pouso forçado no rio Hudson, em Nova York, na semana passada. Foi uma espécie de 11 de setembro às avessas. Um avião voa baixo por Manhattan e seus pilotos não alvejam um arranha-céu para matar milhares de pessoas. O alvo é o rio para salvar todas as 155 pessoas a bordo.

BHO é o piloto do avião cujas turbinas explodiram (o piloto anterior não era muito bom para checar a manutenção). Obama precisa de sangue frio para impedir uma catástrofe. Para tal, deve demonstrar competência e profissionalismo, qualidades tão raras que aqueles que as possuem são saudados como heróis. O apelo para que os americanos assumam suas responsabilidades na crise, deixando de lado "coisas infantis" (na expressão de BHO) permite avançar a metáfora do piloto.

A missão de salvamento apenas será bem sucedida se os passageiros estiverem calmos e colaborarem. Eles (ou os cidadãos) não podem agir na base do salve-se-quem-puder. O piloto parece muito bom e promete, mas não faz milagres.