Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, abril 12, 2010

Discursos afinados

BRASÍLIA (DF) - LEVANTA a plateia era a missão do ex-governador do Estado de Minas Gerais (2003-10), Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG), na cerimônia que o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) montou para lançar a pré-candidatura deo ex-governador do Estado de São Paulo (2007-10), José Serra (PSDB-SP), à Presidência da República, Sábado, 10, aqui em Brasília (DF). E ele conseguiu.

ESCALADO estrategicamente para se pronunciar antes de Zé Serra, Aécio Neves assumiu a postura de candidato de Oposição e subiu o tom nas críticas ao Partido dos Trabalhadores (PT) com uma contundência inédita. Ao final, Aécio convidou Serra para iniciar a pré-campanha por Minas Gerais.

AÉCIO, apesar do atraso na chegada, já entrou aclamado pelos militantes que entoavam o coro de "vice, vice, vice". Da lista dos correligionários ilustres do PSDB, ele foi o último a chegar ao evento, mas arrebatou o público no instante em que subiu ao palco. Disse que seu objetivo foi o de encorajar a militância a fazer todo tipo de embate durante a campanha, inclusive o ideológico e o da comparação entre os governos Luiz Inácio da Silva (2003-10) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

PEESSEDEBISTAS e aliados do Democratas (DEM) e do Partido Popular Socialista (PPS) não têm dúvida de que Aécio é o nome perfeito para compor a chapa "puro-sangue" do PSDB à Presidência da República do Brasil em 2010. Em sua fala, o ex-governador de Minas Gerais mostrou que está disposto a se engajar na candidatura do partido, fazendo a tradução política do anúncio de que não seria mais candidato a presidente da República, em Dezembro do ano passado. "Naquele momento, dei o primeiro sinal de que estaria a seu lado, Serra".

AÉCIO NEVES, ao longo do discurso, foi interrompido quatro vezes por aplausos e saudações. Sorriu, mas saiu dizendo que é candidato ao Senado Federal por Minas Gerais. Para muitos, no entanto, o neto e herdeiro político do saudoso ex-presidente da República eleito e ex-governador de Minas Gerais, Tancredo de Almeida Neves, deixou uma brecha para esta possibilidade, com uma frase dirigida a Serra: "Estarei a seu lado onde quer que eu seja convocado".

A CÚPULA do PSDB se encheu de esperanças e Serra comentou ali mesmo que ficara "felicíssimo" com o discurso. Mais tarde, porém, Aécio explicou que se dispusera a ajudar na campanha onde quer que o candidato o requisite, em Minas Gerais ou fora de seu Estado natal. Disse que não se referiu à chapa presidencial.

CITANDO governo a governo desde a eleição indireta do ex-presidente Tancredo Neves, Aécio disse que a participação do PSDB sempre esteve ligada aos grandes momentos da história brasileira, como o impeachment do ex-presidente da República (1990-92), e hoje senador da República, Fernando Collor de Mello (PTB-AL), e o lançamento do real, no governo do então presidente da República (1992-94), e hoje pré-candidato ao Senado Federal, Itamar Franco (PPS-MG), - cujo ministro de Estado da Fazenda era o Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP). "Não há nada do que nos envergonhar".

ESSA fala de Aécio deu mais força política ao discurso de Serra, que em seguida se auto-propagou como o "candidato da união". Aécio fez questão de afirmar que, a partir daquele instante, "o candidato de Minas Gerais é José Serra". Voltando-se ao pré-candidato, acrescentou: "Serra, a partir de hoje, sua voz será a nossa voz".

TODAS as delegações mineiras que se deslocaram para Brasília eram o retrato vivo do engajamento que Aécio alardeava no discurso. "Minas é Serra", lia-se em camisetas de militantes. Em outras, a frase era "Somos Aécio. Todos por Serra e Anastasia", em referência ao governador Antonio Augusto Anastasia (PSDB-MG), que sucedeu Aécio Neves.

TAL POSTURA oposicionista de Aécio Neves foi bem recebida, sobretudo porque, dias antes, a candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência da República, Dilma (Pinóquio) Rousseff (PT-RS), avaliara Aécio Neves como "governador exemplar". Rousseff chegou a falar em dobradinha entre os partidos em Minas Gerais, sugerindo uma chapa híbrida para presidente da República e governador do Estado de Minas Gerais, apelidada de "Dilmasia" ou "Anastadilma."