Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, julho 16, 2006

Esclerose múltipla

WLADMIR ÁLVARO PINHEIRO JARDIM
SÃO PAULO

Para os apressadinhos esclareço: não se fala aqui de velhice no sentido de idade. Afinal, o que não falta por aí são velhos com idéias novas, maturidade ajuda a evoluir; e novos com idéias velhas, porque juventude não é mesmo sinônimo de cabeça aberta.

Aliás, prova maior disso é a renovação no mundo da moda que assistimos nesses dias de São Paulo Fashion Week (SPFW) aqui nas instalações da Fundação Bienal. Estilo conceitual, atitude renovada de dentro pra fora.

O boleiro (de ouro) franco-argelino Zinedine Zidane, por exemplo, é o tipo de velho que pensa novo (e renova a tradição). Já o boleiro tupiniquim Roberto Carlos ao contrário é o tipo de velho que pensa velho (e encerra a tradição). Por outro lado o craque Robinho é novo pensando novo, enquanto o boleiro Adriano é o novo pensando velho.

Na política, nas instituições, no empresariado, nas relações familiares e sociais em geral, o mesmo acontece: predominam maneiras velhas de pensar, enquanto o novo fica no banco, na reserva e, muitas vezes, envelhece antes de entrar em campo: o velho se apropria de sua essência e dá à luz o velho com cara de novo, novo só na aparência, no discurso, velho nas idéias.

Um simples exame no quadro das próximas eleições permite atestar isso: que candidato, que proposta, que partido, representam os ventos da renovação? Não há. Simplesmente não há ventos de renovação! Ou, se há, estão represados, mal saíram das mentes para as bocas, para as antenas, para as telas. Pois no Brasil tanto o Governo quanto a Oposição são continuidade, quando não retrocesso, e partilham as mesmas engrenagens, as mesmas formas de fazer política, de governar, de dialogar com a Sociedade.

A Sociedade, por sua vez, pouco contribui, em mobilização, reflexão, propostas, para pressionar as instituições, pois sua maior porção (independentemente de classe social) sequer orbita qualquer núcleo de cidadania, sequer resvala em qualquer instrumento de ação, sequer distingue qualquer discurso de qualquer contexto, pois vige o “império do momento e do esquecimento”.

Engraçado como o esporte e a política se cruzam mesmo quando não há manipulação. Vocês já viram os candidatos ao posto treinador da seleção brasileira de futebol? Wanderley Luxemburgo, que fracassou uma vez no cargo, entrou mascarado no Real Madri e saiu escorraçado; aquele mesmo treinador profissional que gosta de chamar árbitro de boióla em entrevista coletiva, após a derrota. Felipão, com aquela velha marra, virou Dom Sebastião, mesmo em Terras de Além-mar, depois que o time do Brasil foi cuspido pelo selecionado da França (o sebastianismo felipanista arrefeceu depois que a Seleção da França fez bagaceira da uva lusa). Felipão está cotado para 2010! Da nova guarda tem também o Paulo Autuori... e teve gente até falando em Zico, o maior perdedor de Copas da história do futebol brasileiro. Isso se os cartolas turcos liberarem o galinho!

Quem são os treinadores do futebol da renovação? Das novas idéias? Têm pouca experiência? Bom, pelo que ficou da Copa, experiência não põe mesa. Estatística e recorde, então... dá vontade de gritar: que venha o Zidane dirigir o Brasil, o filho de imigrantes argelinos, ele é povo, não corrompido pela fama e pela fortuna. Venha, Zizo, ensinar o Brasil a jogar com talento, beleza e técnica!

Assim é também no terreno da política. Entra ano, sai ano, entra década, sai década, são os mesmos nomes, ou então outros nomes ligados aos caciques e aos padrinhos e aos cacifes que vêm dos vários caixas, 1, 2, 3, seja a oficialeza, a informália, a senatória, a deputice geral ou a marginália em particular, são os mesmos modos os que operam nas entupidas coronárias desse Brasil enrugado, seco de água boa e úmido de sangue mau; de matas pisoteadas e mares apodrecidos, de areias ácidas e pássaros que pingam óleo.
Ah! não tem nada haver com o assunto proposto pra essa análise, mas outro dia quase morri de rir ao ver um anúncio da Petrobrás citando-se como exemplo de responsabilidade ambiental, depois de emporcalhar um ecossistema inteiro com o maior vazamento da História deste País, ajudando a matar a nossa moribunda Baía de Guanabara.

O novo não pode vencer se não vier a campo. Mas parece que o jogo (e isso não se limita ao Brasil) é confundir idéia com corrida tecnológica: se você tem o aparelho de telefonia móvel mais equipado (e a capacidade de captar o momento certo de passar para o telefone celular da próxima geração da Tecnologia da Informação), pronto: estás conectado com o Novo Mundo, tens cuca fresca e aberta.
É isso: o novo, hoje, é estar conectado a algo, alguma comunidade, alguma idéia pré-fabricada, fresquinha, para comprar, propagar e jogar fora quando ficar passada, para depois comprar outra idéia, bom servo que és de sabe-se-lá-o-quê.