Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quinta-feira, janeiro 29, 2009

O trem tá cheio!

E passou tem horas. Pela menos é essa a impressão que se tem ao debruçarmos sobre as perspectivas na ante véspera das eleições presidenciais de 2010 aqui no Brasil.



O trem dessa história passou faz tempo no Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) levando a bordo o comandante-em-chefe da luta pela reconquista do cargo de primeiro mandatário do país. E embora, mineiro, o governador de Minas Gerais Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG) não reservou seu bilhete e perdeu a viagem. Mas trem bala que disparou da Paulicéia Desvairada há poucos meses não passará em branco pelas Gerais rumo ao terceiro andar do Palácio do Palácio do Planalto em Brasília (DF). Após os primeiros gestos do governador Aécio Neves, de se posicionar oficialmente como pré-candidato, cobrar a realização de prévias entre ele e o governador do Estado de São Paulo José Serra (PSDB-SP), e de iniciar a montagem de uma caravana hollyday, que vai rodar o Nordeste do País a partir deste Março, o alto tucanato reagiu no Palácio dos Bandeirantes (SP). Nem o governador Serra nem o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) querem prévias no PSDB. Quem está se fortalecendo, pesquisa após pesquisa, não deseja complicar a campanha com prévia, que é como casamento: sabe-se como começa, porém nunca como termina.
Quem, como Serra, está conseguindo declarações de apoio das principais lideranças nacionais do partido Democratas (DEM), não quer prévia. Quem tem também a adesão da secção paulista do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) liderado pelo ex-governador de São Paulo Orestes Quércia (1986-1990), pré-candidato a uma cadeira do Senado em 2010, com o apoio de Serra, não quer prévia.



Poder-se-ia dizer que Aécio Neves está em uma sinuca de bico. É pode ser. Serra também tem pelo menos dois grandes pepinos a descascar: o primeiro se chama Aécio. Sem Aécio, Serra certamente perderá Minas Gerais - e o estrago pode ser bem maior que apenas os mais de 14 milhões de eleitores mineiros, quase 11% do eleitorado nacional. O governador de Minas poderá simplesmente cruzar os braços, fingindo-se de Tonho e se preocupar apenas com sua campanha para outros cargos, certamente as duas vagas do Estado Senado Federal e a sua própria sucessão. Sem os votos de Minas, sem o apoio de Aécio, Serra fica fragilizado frente a uma candidatura governista.



O outro problema é o PMDB. O vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (2002-10) quer deixar o apóio do PMDB de herança para o seu escolhido candidato. Serra já tem o apoio do PMDB paulista. Falta, tanto ao vosso presidente Luiz Inácio da Silva (PT-SP) quanto a Serra, o apoio institucional do PMDB, ou seja, os preciosos minutos do partido na campanha do rádio e TV, um detalhe que pode fazer a diferença. Este problema, da adesão do PMDB, Aécio também terá, caso, remotamente, seja escolhido candidato tucano em detrimento de Serra. De qualquer modo, o PSDB, com Serra ou com Aécio, tem de buscar a adesão do PMDB, que vai somar com o DEM e o Partido Popular Socialista (PPS), agremiações que hoje estão unidos no campo da Oposição.



Os paulistas são truculentos na política, mas não será assim que este trem bala chegará ao Planalto Central. Por outro lado, as Minas Gerais também têm de desencostar do poste. Aécio ainda não decolou porque não disse a que veio. Qual sua proposta, além do choque de gestão? É pouco. Eu diria: trivial. Muito pouco e não atinge o eleitorado. Sequer motiva o alto tucanato. Falta tempero nesse angu. Falta algo, como tinha a estratégia de campanha do vosso presidente em 2002: a esperança vai vencer o medo. E como também teve Barack Obama: Mudança? Sim, nós podemos! Aliás, como se diz por ai, esta pré-campanha presidencial está uma “fartura”: “farta tudo”. Os pré-candidatos da Oposição e do Governo também não apresentaram, até agora, propostas capazes de despertar a atenção do eleitor e motivar o País.



Para os mineiros, o que mais preocupa é a insistência de parte das lideranças nacionais e formadores de opinião em atropelar Aécio Neves e divulgar que o candidato escolhido pelo PSDB é José Serra. E ponto final. E lembrar uma frase atribuída a Fernando Henrique Cardoso, de que “política tem fila”, ou seja, Serra, que fará 67 anos no próximo dia 19 de Março, teria preferência sobre Aécio, que fará 49 anos no mesmo Março. O ex-presidente da República também teria aconselhado Serra a fazer um acordo com Aécio, pelo qual o mineiro seria o próximo candidato do PSDB à Presidência. Tal acordo acabaria com a reeleição e instituiria um mandato presidencial de cinco anos.

Resta a Aécio sair pelo País com uma boa proposta, capaz de alavancar seu nome nas pesquisas. Caso contrário ficará difícil não fazer um acordo com Serra, que já se aproximou até do senador e candidato a presidência do Senado Federal José Sarney (PMDB-AP), quem o responsabilizou no passado pela ação do Departamento de Polícia Federal (DPF) que a encontrou aquela montanha de cento e cinqüenta milhões de reais em um escritório em São Luiz (MA) e que detonou a pré-candidatura da sua filha Roseana Sarney, em 2002.



Mas na minha humilde opinião Aécio perdeu a viagem nesse trem. O correto seria ter saído do PSDB em 2006, tentado a reeleição por um partido menor e agora estaria livre e credenciado como uma alternativa viável.



Agora, de espírito conciliador como e quando lhe convêm resta ao governador recolher as armas e apontá-las para a batalha que será a sua sucessão em Minas. Fazendo seu sucessor e elegendo as duas cadeiras do Senado Federal em 2010, Aécio fará uma saída triunfal deste imbróglio e com glorio, podendo refazer as baterias para uma nova batalha em 2014 0u 2015. Quem viver verá!