Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, março 13, 2017

O legado do dono do poste


No mesmo dia em que tomou conhecimento do escabroso volume de dinheiro sujo usado pela empreiteira Odebrecht para, no dizer do ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), “apropriar-se do poder público”, o País foi apresentado ao resultado negativo do Produto Interno Bruto (PIB) de 2016. Poderiam ser dois dados estanques que apenas por uma infeliz coincidência vieram à luz ao mesmo tempo. Mas não são. Está-se diante do mais eloquente painel do desastre que representou o governo (2003-10) do ex-presidente da República, Luiz Inácio da Silva, um tétrico quadro dos males infligidos aos brasileiros pelo lullopetismo.

É ESTE o verdadeiro legado de Luiz Inácio da Silva (PT-SP) – a pior recessão econômica desde 1948, quando o PIB passou a ser calculado pelo IBGE, e uma rede de corrupção sem precedentes, cuja voracidade por dinheiro público parece não ter deixado incólume sequer uma fresta do Estado Democrático de Direito.

EM depoimento prestado ao TSE no processo que apura o abuso de poder econômico da chapa eleitoral Rousseff-Temer na última eleição presidencial (2014), Hilberto Mascarenhas Filho, ex-executivo da Construtora Odebrecht, afirmou que entre 2006 e 2014 a empreiteira destinou US$ 3,4 bilhões – mais de R$ 10 bilhões – para o financiamento de campanhas eleitorais por meio de caixa 2 e para o pagamento de propinas, no Brasil e no exterior, como contrapartida ao favorecimento dos negócios da empresa por agentes públicos.

IGUALMENTE grave foi a divulgação da queda de 3,6% do PIB no ano passado, embora este resultado já fosse previsto pelo mercado. Em 2015, a retração da atividade econômica havia sido ainda mais expressiva – 3,8% –, de modo que os dois últimos anos representaram um encolhimento de 7,2% da economia brasileira. Considerando o crescimento da população no período, em média, os brasileiros ficaram 11% mais pobres no último biênio.

ALGUNS colegas analistas atribuem ao presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP) parte da responsabilidade pelo resultado negativo de 2016, tendo-se em vista que em maio do ano passado ele assumiu o governo após a aceitação, pelo Senado, da abertura do processo de impeachment contra a ex-presidente da República Dilma Vana Rousseff (PT-RS). É caso de desinformação, uma absoluta ignorância da dimensão do dano causado às contas públicas por seus antecessores, ou simplesmente malícia. Aqueles que não deixam a catarata ideológica obnubilar a clareza dos números não têm maiores dificuldades em responsabilizar os que, de fato, devem ser responsabilizados. A profunda crise econômica por que passa o País é resultado direto da mais nociva combinação de atributos que pode se esperar em um governante: inépcia e má-fé.

LUIZ Inácio da Silva é corresponsável pelos crimes cometidos por Rousseff, que, com justiça, lhe custaram o cargo. Mais do que uma escolha, Rousseff foi uma imposição de Luiz Inácio da Silva ao Partido dos Trabalhadores (PT) como a candidata do partido nas eleições de 2010. Jactava-se Luiz Inácio da Silva de ser capaz de “eleger até um poste”. De fato, elegeu um, que tombou deixando um rastro de destruição.

ESTIVESSE verdadeiramente imbuído do espírito público que anima os estadistas que escrevem as melhores páginas da História, Luiz Inácio da Silva poderia ter conduzido o País na direção daquilo que por muito tempo não passou de sonho. Nenhum governante antes dele reuniu apoio popular, apoio congressual – hoje se sabe a que preço –, habilidade política e uma conjuntura internacional favorável, tanto do ponto de vista macroeconômico como pessoal. O simbolismo de sua ascensão ao poder era, a priori, um fator de boa vontade e simpatia. Todavia, apresentado aos caminhos históricos que poderia trilhar, Luiz Inácio da Silva optou pelo próprio amesquinhamento, para garantir para si, sua família e apaniguados uma vida materialmente confortável.

CADA vez mais enredado na teia da Operação Lava Jato (empreendida pelo Ministério Público Federal e capitaneada pelo Departamento de Polícia Federal em uma força-tarefa), Luiz Inácio da Silva apressa-se em lançar sua candidatura à Presidência da República do Brasil em 2018. Como lhe falta a substância da defesa jurídica bem fundamentada – tão fortes são os indícios de crimes cometidos por ele apurados até aqui –, resta-lhe o discurso político como derradeiro recurso.

QUANDO condenado em segunda instância, Luiz Inácio da Silva ficará inelegível conforme aplicação da Lei da Ficha Limpa. Mas se o tempo da Justiça não for o tempo da próxima eleição, que a retidão dos brasileiros genuinamente comprometidos com a construção de um País melhor seja implacável no julgamento das urnas.