Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Década perdida?

CAMBURIÚ (SC) – A CADA dia multiplicam-se os problemas do governo federal relacionados aos preços dos derivados de petróleo, especialmente aos da gasolina. O rápido crescimento da frota de automóveis no Brasil tem aumentado muito a demanda do combustível em uma fase de recuo da produção de etanol. Como a capacidade de refino da companhia Petróleo do Brasil (Petrobrás S/A) está esgotada, a importação de gasolina vem disparando. A média diária de importação chegou a 45 mil barris em 2011, cinco vezes mais que em 2010 (9 mil barris/dia). Em Dezembro de 2011 e no início deste 2012, período de férias, a importação de gasolina bateu em 100 mil barris/dia, quase um quarto do consumo total do País, que é de 449 mil barris/dia. Com o congelamento há anos dos preços dos derivados, os investimentos na área do refino de petróleo em boa parte têm sido adiados.

TAÍ uma situação que não pode perdurar por muito mais tempo, considerando o cenário político no Oriente Médio, que tem mantido os preços do petróleo no mercado internacional acima de US$ 100 o barril. A isso, é preciso acrescentar os efeitos da inflação sobre os custos de produção, refino e distribuição de petróleo, bem como a elevação da cotação do dólar diante do real, que diminuiu recentemente, mas é apreciável em relação aos níveis de meados do ano passado.

ESSA questão dos preços dos derivados de petróleo tornou-se um tabu dentro do governo Dilma Rousseff (2011-14), que sempre teme os efeitos de uma alta dos derivados sobre os níveis de preços em geral, em uma fase delicada de combate à inflação. Naturalmente, os técnicos da Petrobrás S/A preferem não falar do assunto, sabendo que a decisão sobre preços de combustíveis só pode ser tomada no mais alto nível da República. Mas não há como conter o aumento do consumo de gasolina e de outros derivados, como o diesel, a prazo médio. A Petrobrás já alterou a sua previsão de importação para este ano para 55 mil barris/dia de gasolina, em média, esperando que, depois do pico nos meses de férias, o consumo passe a declinar. Paulo Roberto Costa, então, diretor de Abastecimento da Petrobrás S/A, pondera que, se o Produto Interno Bruto (PIB) crescer 4%, como gostaria o governo federal, o consumo de derivados deve crescer 6%, pelo menos.

SMENTE no mais longo prazo se pode esperar um aumento significativo da capacidade de refino do País, que é de 1,96 milhão de barris/dia, segundo recente relatório de mercado da Agência Internacional de Energia (AIE). O refino no Brasil só deve começar a aumentar com a entrada em operação da Refinaria Abreu e Lima, no Estado de Pernambuco, em julho de 2013. Em sua primeira fase, aquela unidade será voltada principalmente para a produção de óleo diesel. Até 2014, o País deve adicionar 400 mil barris à sua capacidade de refino, segundo estimativas da AIE, o que diminuiria bastante a necessidade de importação de derivados, se o consumo interno permanecer estável. O Brasil está ainda muito longe de alcançar a autossuficiência na área de derivados de petróleo, o que só ocorreria com a entrada plena em operação das refinarias Premium da Petrobrás no Estado do Maranhão e no Estado do Ceará, entre 2016 (primeira etapa) e 2019 (segunda etapa).

DE FATO em 2011 o Brasil consolidou sua posição como exportador líquido de petróleo bruto, tendo as vendas externas do produto atingido US$ 21,603 bilhões, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento da Indústria e do Comércio Exterior. Como as importações foram de US$ 14,080 bilhões, o superávit foi de US$ 7,543 bilhões, um bom resultado. No item óleos combustíveis, porém, as importações (US$ 7,882 bilhões) superaram as exportações (US$ 3,772 bilhões), deixando um déficit de US$ 4,110 bilhões. Nota-se que, no início deste ano, as importações brasileiras têm sido pressionadas pelas compras de combustíveis e lubrificantes.

CASO, como está previsto, forem adicionados 2,3 milhões de barris/dia de petróleo à produção brasileira até 2015, o País deve manter um descompasso semelhante entre petróleo bruto e derivados até o fim desta década, a não ser que haja um aumento substancial da produção de etanol, que depende de um preço mais alto da gasolina para ser vantajoso para o consumidor.