Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, dezembro 20, 2009

Despesas que não param de crescer

A AUTORIDADE econômica do País – o Banco Central do Brasil (BC), que na sua análise das contas externas de outubro havia previsto um déficit das transações correntes do balanço de pagamentos de US$ 29 bilhões em 2010, revisou a previsão para US$ 40 bilhões, mostrando assim que estava detectando uma forte deterioração dessa conta. Mas isso foi recebido com tranquilidade, considerando que o fluxo de capitais externos pode cobrir o déficit.

HOUVE uma forte aceleração desse déficit nos últimos meses: em agosto as transações correntes apresentavam superávit acumulado de US$ 9,5 bilhões; em novembro, o resultado acumulado era um déficit de US$ 18 bilhões, o que obrigou a diretoria do BC a prever US$ 22 bilhões para 2009.

NESSA previsão do BC de aumento de US$ 18 bilhões do déficit das transações correntes, o déficit da balança comercial seria de US$ 11 bilhões, apesar de um aumento de US$ 18 bilhões das exportações, anulado por uma elevação de US$ 27 bilhões das importações. Registra-se também uma elevação de US$ 7,9 bilhões do déficit de juros e dividendos. No entanto, nas previsões do BC, o déficit das transações correntes será coberto pela conta de capital, positiva em US$ 67,4 bilhões, com crescimento de US$ 17,5 bilhões. Os grandes bancos estão projetando um déficit das transações correntes de US$ 60 bilhões, sem ver nisso um grave problema para 2010, dadas as reservas internacionais do País.

TAL preocupação é com um novo governo em 2011. Este herdará uma economia com compromissos anteriores que incluirão uma série de investimentos muito elevados, vinculados ao trem-bala, à modernização da infraestrutura, à Copa do Mundo de Futebol em 2014 e aos Jogos Olímpicos em 2016, sem falar dos gastos decorrentes da política anterior para os salários dos servidores públicos federais e as contas da Previdência e Seguridade Social.

OS PESADOS investimentos necessários para a exploração do pré-sal demorarão muitos anos para serem compensados.

A QUESTÃO é saber se todos esses investimentos, que exigirão grande captação de recursos externos, poderão de fato ser financiados e a que custo. Hoje o Brasil atrai o capital estrangeiro que não encontra aplicações mais rentáveis do que aqui. Sabemos, no entanto, que isso flutua e que a reconstrução da economia dos países ricos exigirá grandes investimentos, privando o Brasil de alguns fluxos. Seria necessário que contássemos com um aumento da poupança interna, mas somos um país ensinado a tomar emprestado e gastar tudo.