Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, agosto 16, 2006

Notícias da nossa guerra particular


WLADMIR ÁLVARO PINHEIRO JARDIM
BELO HORIZONTE


O Brasil, que está fora da rota internacional do terrorismo, tem sua rede terrorista própria, “made in Brazil”. Uma organização criminosa autodenominada de Primeiro Comando da Capital (PCC), que vem promovendo uma série de atentados em várias cidades do País, com ênfase na capital paulista, desta vez extrapolou. O grupo seqüestrou, na manhã do último Sábado, 12, o colega e jovem repórter Gilberto Portanova e seu auxiliar técnico Alexandre Lacerda Calado, ambos da TV GLOBO, numa tática para obrigar que a maior e mais influente emissora de TV do Brasil divulgasse um comunicado denunciando as más condições carcerárias dos presídios brasileiros, sob risco de executar os dois profissionais.

A direção da TV GLOBO cedeu à pressão, interrompeu sua programação e divulgou o comunicado em rede nacional, na madrugada do Domingo, 13, exibindo as imagens, gravadas no melhor estilo Al Qaeda, com homens encapuzados e mensagens com um tom de guerrilha. Ou seja, cada vez mais, o PCC deixa de ser uma organização meramente criminosa – o que, por si só, seria muito grave – para se transformar num poderoso grupo paramilitar, com objetivos escusos.

Entre as várias autoridades ouvidas, um coronel da reserva do Exército brasileiro criticou o descaso das autoridades brasileiras para com o setor de segurança e espionagem, após a chegada ao poder do ex-presidente da República Fernando Collor de Mello (1990-2). Com o intuito de apagar da memória dos brasileiros os momentos nefastos da ditadura militar (1964-85) – simbolizado pelo Doi-Codi (que se encarregava de deter os cidadãos insatisfeitos com o regime de exceção) -, desarticulou-se o sistema de inteligência do País. Assim, a polícia e as forças armadas do Brasil não conseguem detectar os focos de articulação para agir com rapidez e neutralizar as ações dos marginais.

Some-se a isto a falta de integração entre os vários órgãos policiais – o Departamento de Polícia Federal (DPF), a Polícia Civil e a Polícia Militar nos Estados e no Distrito Federal (DF). Uma ação efetiva de órgãos de inteligência conseguiria desmantelar a estrutura de uma organização do porte do PCC, identificando a hierarquia do grupo e agindo antes deles. Como o próprio coronel exemplificou, “muitas vezes um contador, que pouco aparece, é muito mais importante para o grupo do que as lideranças, porque é ele o encarregado da lavagem de dinheiro, entre outras coisas”.

São Paulo (SP) não está muito distante de Bagdá e Beirute. O governo democrático da Colômbia teve que pedir ajuda ao governo norte-americano e vem conseguindo, com sucesso, neutralizar as ações dos narcotraficantes e da guerrilha que já haviam tomado conta daquele país. Tomara que aqui no Brasil não precisemos disso!

Na verdade, minha idéia hoje era escrever uma análise conjuntural sobre os problemas que os passageiros de vôos internacionais voltaram a enfrentar, após o desmantelamento pelo serviço secreto britânico de um suposto plano terrorista do Al Qaeda que previa a explosão de dez aviões da rota Reino Unido da Grã-Bretanha / Estados Unidos da América (EUA).

Em conseqüência, os passageiros não podem mais carregar uma série de itens considerados “perigosos”, tais como soluções para lentes de contato e colírios, cremes, qualquer tipo de bebida, inclusive os refrigerantes e a água mineral, creme dental, maquiagem líquida, perfume, desodorante, gel para cabelos, xampu, bronzeador e spray para cabelos.

A continuar neste ritmo, daqui a pouco os passageiros vão ter de viajar nus, porque qualquer item adicional pode ser classificado como potencialmente perigoso. Além disso, precisam passar por uma rigorosa revista na qual tudo é escrutinado de maneira detalhada. E as pessoas já estão se acostumando, nem mais reclamam de ter de se submeter a esta revista, porque sabem que, no fundo, isto é para o bem de todos.
Enfim, mesmo sem ter conseguido atingir o objetivo principal – causar uma comoção mundial -, os terroristas detonaram um clima de neurose coletiva que coloca em estado de alerta as autoridades de segurança do mundo inteiro, sobretudo nos EUA, na Ásia e na Europa.