Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, novembro 15, 2005

O sparring da hora

WLADMIR ÁLVARO PINHEIRO JARDIM
RIO DE JANEIRO


O ex-todo-poderoso comissário da esplanada dos Ministérios, e ainda deputado federal, Zé Dirceu (PT-SP) já foi queimado; agora, o ministro de Estado da Fazenda Antônio Palocci Filho (PT-SP), outrora Czar da economia deste governo, começa a arder na fogueira. Na fila do bombardeio, ainda temos o ministro de estado da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o subsecretário de Comunicação Institucional da Presidência da República, Luiz Gushiken (PT-SP), o Japa do PT. Outros viriam, dentro de um plano de detonação em seqüência das figuras de proa deste governo, até que o vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP) não tenha a mínima condição de pensar em disputar a reeleição em Outubro de 2006.

Tal plano é confirmado parcialmente pela frenética Oposição e pelo menos um grão-petista que ainda tem conexões com os peessedebistas ouviu de um deles que este é o rumo. Não haverá trégua ou arrefecimento da crise. As Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPIs) que pipocam no Congresso Nacional neste momento estão prorrogadas e há muita pólvora para ser queimada. O petista saiu apavorado desta conversa dura, porém, leal e franca. “É a operação Dresden”, resumiu para um companheiro.

A comparação pode ser imperfeita, pois o crime dos habitantes de Dresden foi apenas o de viver na Alemanha de Adolph Hitler. Os antigos líderes do Partido dos Trabalhadores (PT) cometerem crimes que precisam ser investigados e punidos. No fim da Segunda Guerra Mundial (1945), já próxima a vitória dos aliados, o então Primeiro-ministro britânico e Senhor da Guerra, Winston Churchill, autorizou o bombardeio indiscriminado da cidade. Em seu livro de memórias publicado anos depois, diz ter-se arrependido. Dos aviões ingleses caíram 1.478 bombas explosivas e 1.182 incendiárias. Os norte-americanos fariam seu espetáculo lançando as fortalezas voadoras e 1.800 bombas. Dresden ardeu em poucas horas, sob um calor de mais de 800 graus centígrados que matou quase toda a população civil.

Essa “operação Dresden” em marcha comandada pela Oposição contra o PT não é apenas para evitar uma nova candidatura de Luiz Inácio da Silva à Presidência da República em 2006, mas para que “a raça petista suma do mapa por uns 30 anos” como disse outro dia o senador Jorge Bornhausen, conforme relato de um líder petísta no Congresso Nacional. Mas como o PT não deve desaparecer, o saldo pode ser um prolongado acerto de contas, que também seria uma forma de atraso político. “Não temos um plano de bombardeio com mero objetivo político. Quem produziu o recrudescimento foi os líderes do PT, que resolveram nos atacar no primeiro refresco da crise. O que não é mais possível é contemporizar com ninguém, nem mesmo com o ministro Palocci, pois a ninguém pode ser garantida imunidade diante de indícios fortes, que não estamos fabricando, mas ouvindo de gente como seus ex-assessores, o advogado Rogério Buratti e o economista Vladimir Poleto”, disse-me o deputado peessedebista Eduardo Paes (PSDB-RJ) esta semana.

E o vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva diante disso? Na Segunda-feira da semana passada, 07, depois de dizer na entrevista ao programa “Roda Viva” (TV Cultura) que ainda não decidiu se concorrerá, ele fez uma avaliação com outro importante petista. Até o estouro da crise, teria estado propenso a não disputar. Com a economia indo bem, preferia ficar apenas com os quatro anos. Deixaria como legado as condições para o país crescer continuamente alguns anos e algumas obras físicas importantes. E ainda uma lista de realizações para os mais pobres, na linha do Programa Bolsa Família. Mas a crise, disse ele, vai tornando inevitável a candidatura em 2006. E quando mais espancado, mais obrigado estará a ser candidato, seja para garantir a sobrevivência do PT, seja para travar o combate e defender seu governo na campanha eleitoral. Admite que será difícil ganhar mas acha que será competitivo. E que por isso mesmo a Oposição partiu para a guerra.

Sendo assim, o fogaréu continuará alto até a eleição de 2006. No início do ano, a Oposição planejaria lançar uma bomba voadora, um pedido de impeachment. Não para consegui-lo, faltando tão pouco tempo para o fim do mandato. Mas para levar Luiz Inácio da Silva à insustentável condição de presidente da República (2003-6) que disputa o segundo mandato sob o risco de sofrer o impedimento.

Já nesta Sexta-feira, 18, toma posse a nova direção do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Presidente da legenda, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE); secretário-geral, o deputado federal Eduardo Paes (PSDB-RJ). Este é ligado ao governador do Estado de Minas Gerais Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG), mas sua indicação foi endossada pelo prefeito de São Paulo e ex-presidente do partido José Serra (PSDB-SP). A bicadaria interna está suspensa no ninho. A disputa entre Serra e o governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB-SP) pela candidatura presidencial em 2006 também está contida. A prioridade agora é detonar o PT. Com os pefelistas, entendimento perfeito.

Há no próprio PSDB quem acredite, como o deputado federal Jutahy Magalhães Júnior (PSDB-BA), que com a posse da nova direção o partido terá uma linha mais unificada diante da crise. Não contemporizadora, porém menos exaltada. Desde Julho último, quando o senador da República Eduardo Brandão Azeredo (PSDB-MG) foi alvejado por denúncias, o partido ficou meio solto, cada qual atirando para um lado.

Mas com a dupla Jereissati-Paes nos dois cargos mais importantes da legenda, é pouco provável que isso ocorra. Ademais já está decidido quem será o candidato de consenso do partido na campanha pela sucessão de Alckmin em São Paulo: o economista e ex-ministro de Estado da Educação (1995-2002) Paulo Renato Souza (PSDB-SP). Sob à benção do ex-presidente da República (1995-2002) Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP).É o tucânato cerrando fileiras e colocando o bloco na rua numa disposição claríssima pela oportunidade do retorno ao centro do poder.