Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, outubro 10, 2010

Da Truculência a arrogância e o silêncio ensurdecedor

ITU (SP) – ATÉ nos parece ter sido escrito pelo vosso guia, Luiz Inácio da Silva (PT-SP) o “Decálogo do Chefe”, anedota que de longe muito corre o mundo. Segundo o seu primeiro mandamento que "o chefe sempre tem razão". O segundo determina que, "na improvável hipótese de alguma vez o chefe não ter razão, vale o mandamento anterior". Foi rigorosamente isso que o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva, quis transmitir nos encontros de Segunda e Terça-feira (04 e 05 últimos) com ministros de Estado, governadores de Estados e senadores da República e Deputados, eleitos, aliados da candidata governista Dilma Rousseff (PT-RS).

TAIS reuniões, a propósito, ocorreram no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República. Mas, para quem se esmerou em transgredir a legislação antes e durante a campanha eleitoral desse ano, não faz a menor diferença servir-se de novo de um bem público para fins eleitorais.

NAQUELAS reuniões no Palácio da Alvorada, tratava-se, do que foi considerada uma derrota, apesar da ampla vitória da candidatura governista nas urnas do último Domingo, 03: a necessidade de um segundo turno para a decisão final. E entre os correligionários de Rousseff ali presentes alguns dos mais importantes atribuíram ao comportamento agressivo do “CARA!” na fase crítica da disputa a migração de uma parcela dos votos dilmistas para a candidata Marina Silva (PV-AC).

TODOS esses recentes escândalos na Receita Federal do Brasil (RFB) e no Gabinete Civil da Presidência da República e a polêmica abordagem aborto na campanha governista fizeram o resto. Por sinal, foi a divulgação das violações do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao candidato da Oposição, José Serra (PSDB-SP), e do balcão de negócios instalado no centro do governo o que levou “O-CARA!” a voltar-se com esbugalhada hostilidade contra os veículos de comunicação de massa e da Imprensa livre. Quando, alertado, trocou a mordida pelo assopro, já no fim da campanha presidencial do primeiro turno, o estrago estava feito.

A IMPRENSA e a mídia não atrelada ao governo petista não foi o único alvo da sua ira. Num comício em Santa Catarina, concitou seus comandados à "extirpação" do partido Democratas (DEM), aguçando a inquietação daqueles setores da sociedade para os quais nem os êxitos do governo nem a popularidade estelar do seu condutor podem absolvê-lo pelo surto autoritário de que foi acometido. Eis que agora, numa das reuniões no Palácio do Alvorada, vosso guia invocou, para se justificar, um acerto de contas eleitorais. "Fui muito duro em alguns Estados por onde passei, mas precisava ajudar a eleger alguns senadores", confessou, candidamente.

EM SEU íntimo, Luiz Inácio da Silva há de saber que a truculência o situou na contramão da sua absoluta prioridade - eleger sua pupila, Dilma Rousseff presidente da República deste grande e bobo País. Em público, porém, se conduz de acordo com o segundo mandamento do “Decálogo do Chefe”: quando o chefe erra, prevalece a lei de que o chefe jamais erra. “O-CARA!”, como se sabe, não tolera críticas ou más notícias, para as quais sempre encontrará um causador que não ele. Assim, tão logo se confirmou que a sucessão ia para o segundo turno eleitoral, entrou na muda e saiu de cena. Não teve nem sequer a dignidade de aparecer no Domingo, 03, à noite ao lado da candidata de sua criação - e se manteve em silêncio decerto por mais tempo do que em qualquer outro momento de seu governo.

É DO caráter do vosso mandatário jamais assumir parcela de responsabilidade pelos erros e fracassos das equipes que comanda - no governo e em campanha eleitoral -, e, por outro lado, assumir com exclusividade os louros por seus êxitos e vitórias.

E POR isso, quando recobrou a voz, tratou de avisar que não tinha nada a ver com o que havia acontecido. "Teve sapato alto e clima de já ganhou, no primeiro turno", criticou, cobrando do seu Partido dos Trabalhadores (PT) "mais humildade". Logo ele que, no palanque que comandou, foi o único que proclamou a certeza de tal vitória. Não foi apenas para eleitor ver. Muitos dos companheiros a quem se dirigia no Palácio do Alvorada já tinham ouvido uma vez e outra de sua boca que a sucessão era assunto liquidado. Se, ao fim e ao cabo, der tudo errado, não faltarão culpados - a começar da própria candidata governista, a dona “Dilma-do-Chefe” ou simplesmente como diz a multidão de ignorantes nos grotões afora, a “Muler do Lula”, que não soube ser simpática com o eleitor. Se der tudo certo, o mérito, naturalmente, será todo de vosso guia.

PORÉM, faltou combinar com o eleitorado. A tática petista para o segundo turno terá a volta, de um lado, do “Lulinha, paz e amor”. De outro, da cantilena “do nunca na história deste País” e da velha e batida afirmação (em tom de ameaça) de que a ascensão de um peessedebista na Presidência da República abrirá as portas para novas privatizações. A fórmula funcionou no segundo turno das eleições presidenciais em 2006, mas, à parte qualquer outra consideração, não é fácil impingir ao público a visão de um José Serra privatista. Afinal, o resultado do primeiro turno mostrou que pelo menos 51,9% do eleitorado que é responsável e independente conserva sua capacidade de discernimento.