Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, abril 19, 2009

América invisível

RIO DE JANEIRO - Este é mesmo um continente em total efervescência. Diariamente ocorrem fatos relevantes, na América Latina, praticamente ignorados pela mídia hegemônica. Nos países ricos, há mais de duas décadas, e mesmo na periferia, os jornais e noticiários de rádio e TV só se interessavam pela América Lantina a partir de um fato com dez mortos. O tempo passou e com raras exceções a filosofia não se alterou, embora a região hoje seja um manancial informativo que daria tranqüilamente para editar uma ou mais páginas diárias, isso, claro, se houvesse boa dose de vontade política .

Destacamos aqui o exemplo da Bolívia, onde, além da greve de fome em favor de um regime eleitoral prevendo eleição em Dezembro e que o presidente da República Evo Morales participou, está sendo inaugurada uma universidade indígena localizada em Chimoré. Outras duas, a de Warisata e Macharetí estão a postos, inclusive participaram de teleconferência no dia da inauguração. Os estudantes em Chimoré terão aulas em língua quechua e em Macharetí, em guarani.

Disseram autoridades bolivianas que, em agosto de 2008, o presidente Evo Morales decretou a criação das primeiras três universidades indígenas, com o objetivo de descolonizar o país culturalmente, recuperar o saber, conhecimentos, cultura e as formas de organização dos povos originários, com a incorporação da interculturalidade e o plurilingüismo.

A partir da inauguração, o governo boliviano cumpre uma promessa de campanha e dá mais um passo decisivo no sentido de consolidar um novo país, distante dos tempos em que predominava a visão Ocidental totalmente afastada da realidade. Ou seja, acabou o tempo em que um país de base indígena era governado apenas por brancos e mestiços, que deixaram como herança uma extrema pobreza e muito próximo de uma confrontação interna.

Você não acha que a criação das universidades indígenas não deveria merecer a cobertura dos jornais e televisões? Se no Brasil o espaço na mídia fosse de fato democratizado, sem dúvida os brasileiros seriam mais bem informados, não só sobre o relevante acontecimento na Bolívia, como outros do mesmo nível.

A filosofia da mídia hegemônica é avessa a essas coisas, a prioridade é outra. Isso para não falar da manipulação que claramente visa indispor governos e povos, como aconteceu recentemente quando os espaços conservadores chegaram até a decretar uma “guerra do gás” entre a Bolívia e o Brasil.

No Peru, um ex-presidente da República eleito democraticamente foi condenado a 25 anos de prisão por responsabilidade em muitas mortes no período em que governou o país, de 1990 a 2000. O fato foi noticiado, mas praticamente nenhum dos jornais lembrou que Alberto Fujimori era considerado, juntamente com o então presidente mexicano Carlos Salinas de Gortari (1988 a 1994), exemplo de administrador em sucedido. E sabem o motivo desse destaque nos espaços conservadores? Simplesmente porque os dois colocavam em prática o modelo econômico neoliberal e eram considerados modernos.


Gortari hoje vive na Irlanda em completo ostracismo e se voltar ao México vai ter que responder na Justiça por uma série de acusações relativas à corrupção.

Vocês não concordam que a América Latina merece um outro tratamento da mídia?

Este fim de semana foi realizada em Trinidad Tobago a V Cúpula das Américas, reunindo representantes de 34 países americanos, com exceção de Cuba, e contou com a presença inaugural de Barack Obama, o que de alguma forma colocou a América Latina nas primeiras páginas do noticiário mundial.

A reunião da Cúpula serviu para sentir como será o relacionamento do governo Obama com a região.