Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, julho 26, 2006

Mudancismo ou ruptura


WLADMIR ÁLVARO PINHEIRO JARDIM
SALVADOR (BA)




Ainda é cedo, mas já começam a surgir as primeiras especulações sobre a sucessão presidencial, e o que é mais importante, qual será a agenda de futuro para o País nos próximos anos. Um pouco mais adiante que a mera medição da competência da administração do líder do petismo Luiz Inácio da Silva em manter a situação ‘sob controle’ até o final deste 2006, o que está em jogo é uma atualização da agenda que o Brasil precisa e que só é impulsionada pelo bom e velho debate eleitoral, que se iniciará pra valer neste Agosto de Zambi que se avizinha.

Independentemente da aprovação ou popularidade do governo do vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP), existe uma certa impaciência nos formadores de opinião – as cabeças pensantes do Brasil - sobre alguns avanços que demoram a concretizar-se. O que cumprimos hoje é uma agenda basicamente formulada no primeiro mandato do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e que em muitos aspectos já se esgotou.
A tentativa de setores deste governo petista em imprimir uma agenda inspirada na velha Esquerda progressista da década de 1960 também pouco colaborou para esse quadro.

As grandes mudanças de rumo dependem da capacidade de captação do inconsciente coletivo deste País, e com certeza as mesmas lengalengas sobre emprego, o mesmíssimo nhenhenhém dos programinhas sociais e revanchismo do tipo ‘quem copiou a quem’ não são o suficiente para convencer ninguém de boa fé, sejam elas puxadas pelo Governo, seja pela Oposição.

Com certeza ainda estamos longe de nos vermos livres do perigo de aproveitadores trazendo um populismo barato e desbragado, mas acredito que uma verdadeira agenda modernizadora poderá decidir as eleições presidenciais, para quem fala sério. Tem a boa vontade da mídia e da classe média, formadora de opinião, quem souber assumir com coragem posições como:

- A desoneração tributária, a partir de uma reforma tributária e fiscal ampla – desde a época da “derrama” posicionar-se contra impostos é algo efetivo politicamente – nesse caso, efetivo e útil para o País;

- Uma visão ‘moralizante’ do serviço público, contra privilégios, corporativismos e a perda de credibilidade de instituições - o posicionamento pouco sério e sensível de lideranças desses Poderes e o ‘garroteamento’ da classe média assalariada da iniciativa privada é um combustível para uma “nova caçada aos marajás”.
Um poder público que arbitra em benefício próprio aumentos desproporcionais à realidade da população trabalhadora está deixando uma ‘avenida política’ pronta para ser canalizada;

- Um investimento pesado em Educação e tecnologia, invertendo a visão de política social como mero ‘coitadismo “– é uma prioridade com baixa rejeição, e sobram exemplos internacionais bem aceitos dessas políticas;

- A busca de novos investimentos para o País, principalmente em setores dinâmicos da economia mundial, de alta tecnologia – o Brasil precisa atualizar sua matriz produtiva e infra-estrutura;
- A ênfase em capacidade administrativa e profissionalismo, com um vago aspecto modernizante. “Reformas” e uma revisão ampla do papel do Estado passarão a ter o conforto político que não tiveram durante esses últimos quatro anos;

- A geração que hoje tem cerca de 30 anos de idade sente que não viu chegar “sua vez”, e que talvez essa não chegue sem reformas mais profundas no País. Era muito jovem para beneficiar-se totalmente do boom econômico entre 1995-98 e aprendeu com o lulismo que não existem milagres.

Enfim, se aceitarmos a hipótese de que somos historicamente um País que funciona intercalando períodos de transformação e “abertura” dos portos e cabeças, seguido de calmaria e até alguns retrocessos, existe uma certa expectativa e conforto para que o período 2007-2010 seja um desses períodos diferenciados.
Como foram o mandato de Juscelino Kubitschek de Oliveira, os anos JK (1956-61) e o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, na exuberância do Real (1995-98).

Se a conjuntura internacional ajudar, é plenamente factível que algumas reformas ocorram em ritmo acelerado.

Resta saber o quanto a classe política e as lideranças da nossa sociedade se dispõem a fazer desta campanha eleitoral um evento positivo para o desenvolvimento do nosso País, seja o vencedor final a continuísmo ou a ruptura.
E que se entenda o sentido de mudança como a necessidade de avanço, de sairmos da pasmaceira, e não mero ‘mudancismo’.