Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Barba, cabelo e bigode

Dificilmente as candidaturas de José Sarney (PMDB-AP), para a Presidência do Senado Federal, e de Michel Temer (PMDB-SP), para a Presidência da Câmara dos Deputados, deixarão de ser vitoriosas, na próxima Segunda-feira, 02. No caso de Temer, o presidente nacional do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) não apenas tem apoio de 14 partidos, como conta com simpatia indisfarçável do vosso presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP). Temer, segundo um deputado mineiro que o tem recebido na copa e na cozinha de seu apartamento em Brasília (DF), deverá vencer de balaiada de seus concorrentes Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Ciro Nogueira (PTB-SP) - este, aliás, deverá ter mais votos do que Rebelo.


Já o senador e ex-presidente da República José Sarney pode ter alguma dificuldade para derrotar o senador Tião Viana (PT-AC), mas o vencerá assim mesmo. Sarney, embora tenha dito diversas vezes que não seria candidato a presidente do Senado, é da velha escola política da dissimulação. Enquanto dizia ao presidente da República que não seria candidato, trabalhava a sua candidatura à sorrelfa, talvez para não ficar devendo a vitória ao presidente. Sarney não é desse mundo! É por coisas assim que o saudoso ex-deputado federal Ulysses Guimarães (PMDB-SP) dizia que o diabo é perigoso não é porque é o diabo não, mas por ser antigo nas artes.

De forma que o vosso presidente da República já será surpreendido por Sarney, que de duas semanas para cá deixou de trabalhar sorrateiramente para assumir a candidatura, cavalgando a velha desculpa de que não é candidato de si mesmo, mas da bancada que lhe fez irrecusável apelo. De certa forma ele tem razão. A bancada não queria Tião Viana, por influência do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), mas também não queria reconduzir o atual presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), até mesmo porque essa candidatura poderia ser questionada na Justiça. Como a Oposição não tem ninguém que poderia ganhar a disputa, sobrou para Sarney, que já sabia disso desde o ano passado. O resto ele acabou acertando ao distribuir cargos na Mesa e nas comissões para os partidos que o estão apoiando, inclusive o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), cuja liderança tinha conversas adiantadas com Tião Viana.


O fato é que se a vitória de Michel Temer na Câmara obedece a um quase ritual, afinal o PMDB não apenas é o maior partido como é credor do Partido dos Trabalhadores (PT), por ter cedido à vez na última eleição para o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), no Senado a conversa era outra. A liderança do PT e o Governo queriam a vaga para Tião Viana para não ter que deixar as duas Casas do Congresso Nacional nas mãos de um só partido, no caso, o PMDB. Há quem argumente que isso seria inevitável. Afinal, o partido é majoritário tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal. Neste caso, a resposta é uma só: isso é uma tradição, não é uma lei nem está no Regimento Interno. Ademais, o Governo, qualquer que seja ele, não tem porque admitir essa duplicidade de comando, tornando-se presa de uma só legenda.
Mas isso agora é inevitável. E mostra não apenas a vocação do PMDB para essas jogadas de oportunidade como reafirma a fluidez da base de apoio do Governo no Congresso Nacional. É uma base que se move por interesses imediatos,não tem compromisso programático e vive desses expedientes. É o pragmatismo levado ao extremo, o que reforça a idéia de que o país não pode continuar vivendo sob essa legislação que favorece os espertos e pune os corretos. A propósito, o senador Pedro Simon (PMDB-RS), se negou a endossar a candidatura de Sarney, argumentando que há coisa de dois anos vem ouvindo, do próprio Sarney, que ele não seria candidato “em nenhuma hipótese”. Acabou sendo, na hipótese mais boba, a de que atende a uma convocação irrecusável da bancada. Não é o que pensa Simon, pelo visto.


De mais a mais, ao assumir a presidência tanto da Câmara dos Deputados como a presidência do Senado Federal, o PMDB inevitavelmente ganha cacife para negociar com o Governo e a Oposição o seu apoio nas eleições presidenciais de 2010. O cacife parece ser tão alto, aliás, que vozes peemedebistas já começam a dizer que assim o partido pode ter até candidato próprio à Presidência da República. Tolice. O que o PMDB tem é a tradição de apoiar os dois candidatos - o do Governo e o da Oposição. Sempre foi assim, desde a cristianização do saudoso Ulysses Guimarães em 1989. Foi assim com o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) e foi assim com o presidente Luiz Inácio da Silva. Será assim também com José Serra (PSDB-SP) ou Aécio Neves (PSDB-MG), e também com a ministra-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff (PT-RS).