Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, março 24, 2009

Antena paranóica

O presidente da República dos Estados Unidos da América (EUA), o democrata Barack Obama, foi pra frente das câmeras de TV chamar de indignidade a distribuição dos bônus aos executivos da combalida AIG, num momento em que todo mundo está apertando o cinto nos EUA. Ele convocou o Secretário do Tesouro Nacional dos EUA, Tim Geithner, e lhe disse: "faça qualquer coisa, dentro da legalidade, para trazer de volta aos cofres públicos o dinheiro distribuído". Uma tentativa de acalmar a revolta popular contra os larápios do sistema financeiro que estão aparecendo aos borbotões.

Geithner veio com uma solução, no mínimo irresponsável: descontar os milhões pagos a título de bonus de uma nova injeção de dinheiro público na AIG, que está prometida, no valor de 40 bilhões. Ou seja, os espertalhões continuariam livres para gozar o “merecido” bonus, enquanto o contribuinte pagaria a farra dos executivos e ainda colocaria mais dinheiro na empresa quebrada.

Os deputados aprovaram uma solução engenhosa. Por 328 votos a 93, aprovaram às pressas uma lei para recuperar pelo menos a maior parte dos milhões de dólares injustamente distribuídos. O dispositivo legal, que retroage ao ano de 2008, cria uma taxação de 90% sobre bônus pagos aos funcionários de empresas que tenham recebido mais de 5 bilhões de ajuda do governo. E atinge funcionários que tenham tido uma renda familiar anual superior a 250 mil dólares. Ou seja, uma lei sob medida para pegar a gang da AIG e, de quebra, pega todas as empresas e bancos que se beneficiaram dos estímulos do governo. Mas o Senado Federal terá que ratificar a lei que, segundo alguns, é inconstitucional.

O inferno astral de Barack Obama continuou na última Quinta-feira, 19, quando ele deu uma entrevista num talk show noturno de grande audiência na TV norte-americana, o de Jay Leno, na rede NBC. Muito bem humorado e descontraído, ele declarou em tom de brincadeira que “joga boliche tão bem que poderia até participar de uma Olimpíada Especial”. Tão logo saiu do programa, certamente alertado por assessores, Barack Obama ligou para o presidente do comitê que cuida da organização dos jogos para deficientes físicos e desculpou-se da frase infeliz. Mas nessa altura, a Oposição já o estava malhando.

Ainda na semana que passou, Obama, que se declara um apaixonado pelo basquetebol, foi convidado por uma emissora de TV para dar um palpite sobre qual a equipe que ganharia o campeonato nacional de basquete universitário deste ano. No dia seguinte, o técnico da Universidade de Duke, que é também o treinador da seleção profissional do País, Mike Krzyzewski, já estava caindo de pau no presidente que “deveria se preocupar com a economia, em vez de palpitar sobre esportes”. Até porque Barack Obama apostou no time da Universidade de North Carolina, o maior rival de Duke.

Barck Obama optou por essa maneira de governar, aparecendo em eventos diários que têm a cobertura da TV. Além disso, não se furta em dar entrevistas a todo hora e de responder perguntas de populares nos eventos a que comparece. O resultado é uma super exposição na mídia que pode deixá-lo em situações embaraçosas, como aconteceu na semana que passou. De embaraços diários, já bastam os da crise econômica no País.

Se eu fosse o assessor de do presidente norte-amaricano, eu lhe diria: menos, presidente Obama, menos.