Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, abril 27, 2010

Um ator político apequenado

HOJE o Partido Socialista Brasileiro (PSB) concluiu as exéquias da candidatura do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) à Presidência da República. Se dependesse da cúpula da legenda, as pretensões presidenciais do deputado deveriam se desmanchar "espontaneamente", em fogo brando, como já sugerem as pesquisas de opinião e intenção de voto. Mas depois que - em um artigo tipicamente agressivo - ele chamou os socialistas às falas para se decidirem de uma vez por todas, o comando da agremiação resolveu antecipar o desenlace, mediante um golpe de graça para salvar a face de Ciro.

APÓS uma consulta aos diretórios regionais da sigla, na semana passada, a executiva socialista de 18 membros resolveu nesta Terça-feira o que de há muito resolvido está: o PSB não terá candidato próprio à sucessão de Luiz Inácio da Silva (PT-SP) à Presidência da República e se integrará à caravana dilmista. Numa de suas exortações para que o PSB fizesse o contrário, indo consigo à disputa, o deputado Ciro Gomes argumentou que, de outro modo, a sigla estaria fadada a imitar o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em matéria de subserviência ao governo federal. É verdade, mas não toda a verdade.

O CACIFE político daquela legenda era e é notoriamente insuficiente para contrariar a estratégia eleitoral lullista do "nós e eles", firmada depois que se dissiparam as dúvidas sobre a saúde da pré-candidata governista Dilma (Pinóquio) Rousseff (PT-SP). A sorte de Ciro foi, como se diz, selada a partir do momento em que “O-CARA!” e os líderes do Partido dos Trabalhadores (PT) concluíram que a entrada em cena de um segundo nome governista, embora garantisse que a sucessão só se decidirá no segundo tempo, representaria um risco incalculável para as chances de dona Rousseff.

E NÃO seria o lullismo que se exporia à eventualidade de ver migrar para ele parcela decisiva do eleitorado, à medida que as limitações da candidata se revelassem insuperáveis. No limite, melhor perder com Rousseff - hipótese que “O-CARA!” trataria de tornar inconcebível - do que ganhar na segunda rodada com o instável e boquirroto aliado, que ainda no último Sábado, 24, acusou Luiz Inácio da Silva de "navegar na maionese" ao se achar o "Todo-Poderoso". Ciro detesta os líderes do PT quase tanto quanto os líderes do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) ao qual já esteve filiado, considerando ambos faces da mesma suposta hegemonia política paulista.

ADEMAIS, no que dependesse da liderança do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), a candidatura Ciro morreria na praia. Não foi ele quem classificou a aliança PT-PMDB - neste caso coberto de razão - como um "roçado de escândalos"? (O que levou dona Rousseff a atribuir-lhe o pecado da soberba). De outro lado, com 28 deputados, formando a oitava bancada das 20 da Câmara dos Deputados, e apenas 3 governadores de Estado, o PSB precisa compor-se com o PT para não definhar no plano regional. Os socialistas têm 11 candidatos a governador, mas só 3 deles apoiados pelos petistas. E, correndo por fora, a anunciada aspiração do partido de "duplicar a bancada" federal se tornaria ainda mais despropositada do que já parece.

E POR fim, o próprio Ciro não tem moral para se queixar do presidente ou de seus correligionários. Afinal, ele aceitou prestar-se à ostensiva jogada lullista para tirá-lo do pleito nacional, concordando em transferir do Ceará para São Paulo, seu Estado natal, o seu título de eleitor. Com isso, Ciro apequenou a sua alardeada imagem de altivez e independência, mesmo sabendo serem praticamente desprezíveis as chances de o PT paulista fechar com a sua candidatura ao governo estadual. Numa versão caridosa, ele teria querido dar uma prova de lealdade ao “CARA!”, na expectativa de que, ao fim e ao cabo, o "Todo-Poderoso" o deixasse competir no páreo principal. Se assim entendesse, agiria como um néscio - o que ele não é.

ESSE tão aguardado fim da quimera de Ciro privará a campanha de uma presença desejável, como desejável é a da senadora Marina Silva (PV-AC), para, entre outras coisas, ampliar o debate das questões nacionais.

E ACHO que deploráveis que sejam os seus rompantes temperamentais e os estereótipos nos quais se enreda com frequência, é inegável que Ciro Gomes demonstra ter luz própria quando fala sobre o País - mais do que a escolhida do lullismo, que outra coisa não diz a não ser que o seu padrinho (O-CARA!) é o máximo. Também por isso, talvez, Ciro julga o pré-candidato oposicionista à Presidência da República, José Serra (PSDB-SP), "mais preparado, mais legítimo, mais capaz" do que dona Dilma (Pinóquio) Rousseff.