Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, abril 20, 2009

Sinal de boa vontade

CONSERVATÓRIA (RJ) - Esta reunião da Cúpula das América, realizada em Trinidad & Tobago neste fim de semana, serviu para aproximar o presidente dos stados Unidos da América (EUA), Barack Obama, dos líderes do continente latino-amaericano. Mais do que tudo serviu para apagar a má imagem que muitos deles têm do Grande Irmão do Norte, justa ou injustamente.

Pois não é que até o folclórico Hugo Chavez fez questão de apertar a mão do mandatário norte-americano e lhe dar de presente o livro do escritor uruguaio Eduardo Galeano: “As Veias Abertas da América Latina”. Bom livro, sem dúvida, mas um tanto quanto datado e superado pelo tempo.

Tal como o conteúdo do livro presenteado por Chavez, o relacionamento conflituoso entre os norte-americanos e os latino-americanos pode (e deve) ficar no passado. Afinal, até pelo aspecto geográfico são parceiros naturais.

No entanto, é preciso haver mudanças dos dois lados. Por parte dos EUA, está mais do que na hora de o país deixar de assumir uma atitude imperial e tratar as outras nações do continente como mero vassalos. Além disto, não deve mais deixar de lado as aflições dos latino-americanos, como se, por serem aliados naturais, devam aceitar tudo que é determinado pelos EUA sem contestar. Não dá mais para o Governo norte-americano take for granted tudo que determina aos latino-americanos. Como ponto positivo, Barack Obama já identificou esta falha e se propõe a corrigi-la.

Porém, pelo lado dos latino-americanos, também não tem mais cabimento culpar o Governo dos EUA pela pobreza e pela incapacidade de desenvolvimento do continente. É mais do que necessário as novas lideranças da região assumir as responsabilidades e cuidar de solucionar seus problemas, sem buscar desculpas no comportamento alheio. E também não tem mais sentido este esquerdismo infantilóide que vê nos enviados dos EUA à região apenas um bando de espiões e conselheiros de tortura, além de preparadores de golpes de estado.

Passo importante foi dado pelo Governo norte-americano no sentido de liberar viagens e envios de dinheiro de cubano-americanos à ilha de Cuba. Embora o embargo ainda não tenha sido suspenso, Barack Obama passou a bola para os dirigentes cubanos, que logo entenderam o recado e se prontificaram a dar sua cota de contribuição.

O presidente cubano Raul Castro admitiu, pela primeira vez, que a revolução comunista pode ter cometido equívocos e afirmou estar disposto a discutir todos os pontos que o Governo dos EUA quiserem: direitos humanos, liberdade de imprennsa, reforma eleitoral, presos políticos, inclusive com troca de presos entre os dois países.

Tal declaração provocou reações contraditórias na comunidade cubana da Flórida. Os mais renitentes ainda não se convenceram da sinceridade do caçula dos Castro e afirmaram que isto não passa de um jogo de palavras. Os moderados – geralmente os mais jovens – veem com bons olhos esta reaproximação, que pode ser benéfica para todos: EUA, Cuba e todo o continente norte-americano.

Parace-me lógico, Castro precisa manter a promessa e promover as mudanças necessárias para demonstrar a real intenção de reinserir Cuba no contecto internacional e deixar de ser uma ilha isolada no Mar do Caribe. Aí, caberá ao Governo dos EUA estender a mão, suspender o embargo – cruel para com o povo cubano e inefetivo com instrumento de pressão política.

Havendo bom senso de todos os envolvidos, a próxima Cúpula das Américas poderá contar com mais um participante em sua sala de reuniões: Cuba.