Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, agosto 10, 2009

Sob o mando do “CARA”

RIO DE JANEIRO - O VOSSO presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), recebeu no início dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobrás, na última Quinta-feira, 06, os primeiros dividendos substanciais deste ano legislativo do seu investimento na montagem e sustentação de um esquema de controle do Congresso Nacional. Centrado no fisiológico Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), liderado pelo grupo dos senadores José Sarney (PMDB-AP), Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-PI) e do deputado Michel Temer (PMDB-SP), o aparato se estrutura numa coalizão-ônibus que só não tem espaço para quem não queira nela embarcar. Rigorosamente dentro do previsto, Jucá, o líder do governo no Senado da República escolhido a dedo para relator da CPI - o que por si só escancara a subordinação do Legislativo aos desejos do “CARA” -, propôs de uma tacada a rejeição de 66 dos 88 requerimentos apresentados, na maioria, pela Oposição para dar sentido à sua iniciativa de promover a investigação sobre a estatal. Qualquer semelhança com o engavetamento das onze denúncias contra Zé de Ribamar Sarney no Conselho de Ética do Senado Federal não é coincidência.

ZÉ DE RIBAMAR Sarney foi o beneficiário imediato do zelo com que Jucá colocou em movimento a operação-abafa na CPI. O oligarca maranhense será poupado da apuração do convênio da fundação que leva o seu nome com a Companhia Petrobrás S/A. A empresa patrocinou com R$ 1,3 milhão um projeto cultural da entidade que não saiu do papel. Desse total, R$ 500 mil foram parar em empresas fictícias ou da rede de comunicação da família de seu presidente vitalício. "Qual é a intenção: começar a discutir patrocínio por causa da Fundação Sarney ou discutir seriamente patrocínio?", perguntou retoricamente o relator, como se uma coisa e outra não tivessem a menor relação. Ele barrou também a convocação da ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, demitida pouco depois de considerar irregular, em nota oficial, o arranjo contábil pelo qual a Petrobrás modificou o seu regime tributário, no ano passado. Jucá alega que a questão poderá ser coberta pelo secretário interino da Receita, Octacílio Dantas Cartaxo, que deporá nesta Terça-feira, 11.

ESTA CPI ouvirá o presidente da companhia pública de petróleo, José Sérgio Gabrielli, oito dos seus diretores, o presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, e quatro dos seus diretores - mas não as sócias de uma empresa que teria recebido R$ 260 milhões em comissões de prefeituras que a contrataram e tiveram aumentados os respectivos repasses de royalties do petróleo. Uma das sócias é casada com um diretor da ANP. "O relator optou por convidar apenas aqueles que supostamente defenderão a causa governista", reclamou, com toda razão, o senador oposicionista Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do pedido de criação da CPI. "Teremos aqui um tribunal só com advogado de defesa e sem promotor". Ele está no seu papel de espernear, mas decerto não tinha ilusões sobre a conduta dos representantes do governo na comissão de 11 membros titulares. Eles somam 8 senadores, a começar do presidente do colegiado, o senador João Pedro (PT-AM). Foram escalados, em última análise, para desmentir o dito de que se sabe como uma CPI começa, mas não como termina.

NA SEXTA-FEIRA, 07, foi a incolumidade do presidente do Senado, Zé de Ribamar Sarney. Hoje é o inquérito sobre a Petrobrás. Amanhã será o destino, entre outros, dos projetos para regulamentar a exploração do petróleo do pré-sal. Depois de amanhã será o desdobramento da coalizão de governo na coligação eleitoral em torno da candidatura da ministra-chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff (PT-RS), com um vice do PMDB, ao qual o Partido dos Trabalhadores (PT) será forçado a ceder a primazia nas disputas para o governo de diversos Estados. O apoio a Zé Sarney é peça-chave nessa formidável construção de poder que “O-CARA” rege pessoalmente porque considera a sua prioridade número um. No primeiro mandato, “O-CARA” não raro delegou as articulações políticas do governo ao ex-deputado federal cassado e ex-comissário-mor do lulismo, Zé Dirceu (PT-SP) e aos ex-ministros de Estado da Justiça, Márcio Thomaz Bastos (PT-S), e da Fazenda, Antonio Palocci Filho (PT-SP). Neste segundo período, escaldado pelos tropeços no escândalo do mensalão empreendido pelo delubiovalerioduto no Congresso Nacional (2003-05), e até por falta de alternativas, tornou-se ele próprio o seu principal operador político.

O VOSSO presidente da República, Luiz Inácio da Silva (2003-10), tem demonstrado nisso uma competência comensurável pela falta de escrúpulos em fazer a sua parte nos arreglos com as figuras que aproximam o noticiário político das páginas policiais da Imprensa. De há muito “O-CARA” aposentou os últimos vestígios de desconforto com a insalubridade moral da política brasileira. Até agora, com um sucesso que é a garantia de que o amoralismo reinará na cena política brasileira enquanto ele for o regente do espetáculo. Sob o mando do “CARA”.