Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sábado, julho 24, 2010

A resiliência do risco soberano

BOSTON (EUA) - OUTRO episódio de suspense da crise econômica internacional acabou ontem, quando saíram as conclusões do teste de estresse aplicado em 91 bancos europeus. O teste demonstra quantos serão capazes de sobreviver a uma nova turbulência. Os vulneráveis foram aconselhados a buscar mais capital. Precisarão de um reforço estimado entre 75 bilhões e 95 bilhões, segundo estimativa do Instituto Internacional de Finanças, formado por grandes bancos de todo o mundo. Aqui nos Estados Unidos da América (EUA), 10 dos 19 bancos submetidos a um exame semelhante no ano passado precisaram levantar US$ 75 bilhões para reforçar suas defesas. Como sete instituições foram reprovadas na Europa, esse dado foi uma das poucas notícias positivas da semana sobre a economia do mundo rico. Nos dois lados do Atlântico Norte as últimas informações confirmaram uma recuperação muito lenta, desigual e insegura, com desemprego elevado e sem perspectiva de redução ainda por muito tempo.

DE FATO sete dos 91 bancos da União Europeia (UE) que foram submetidos aos testes de estresse não conseguiram atingir uma proporção de 6% de capital Tier 1 para ativos em dois cenários básicos, informou o Comitê de Supervisores Bancários Europeus (CEBS, na sigla em inglês). Os bancos que não passaram nos testes foram o grego ATEBank, o alemão Hypo Real Estate e cinco bancos de poupança espanhóis: Unnim, Diada, Espiga, Banca Civica e Cajasur.


O PORTA-VOZ do CEBS afirmou que o montante total de capital que será injetado nesses bancos para levá-los a atingir a proporção de 6% de capital Tier 1 será de 3,5 bilhões de euros. O capital Tier 1 inclui ações ordinárias e preferenciais, reservas em dinheiro e certos outros títulos de longo prazo "híbridos".
UM cenário mais adverso assumiu uma queda de 3 pontos porcentuais no Produto Interno Bruto (PIB) na UE durante os próximos 18 meses, efetivamente implicando em uma modesta dupla recessão e em um renovado surto de volatilidade nos mercados de bônus dos governos.

ALGUNS formadores de política da UE esperam que a publicação dos resultados reduza as preocupações dos investidores com a saúde do sistema bancário e com o potencial custo para os contribuintes do reparo dos problemas. No entanto, os testes não tomaram explicitamente como modelo um cenário que inclua default soberano, refletindo um argumento político de confiança de que nenhum membro da União Europeia ou da área do euro em particular possa declarar default.

DESTE modo, o "choque de risco soberano" incluído nos testes pede apenas que os bancos assumam as perdas com os bônus soberanos que eles vão manter em seus livros de operações, e não aqueles bônus que vão manter até o vencimento.

OS BANCOS que foram reprovados nos testes e que precisam de um capital adicional devem tomar as medidas necessárias para reforçar suas posições de capital por meio do setor privado, afirmaram a Comissão Europeia (CE), o Banco Central da Europa (BCE) e o CEBS. Se for necessário, os bancos reprovados podem utilizar linhas de crédito desenvolvidas pelos governos dos estados membros, obedecendo às regras da UE para ajuda governamental, segundo comunicado das três instituições.

PARA as instituições, de uma forma geral os testes confirmaram que os bancos da UE tem resiliência em uma época de crise. Os testes mostraram que os bancos são capazes de lidar com "uma situação macroeconômica negativa e choques financeiros, e são uma medida importante para restaurar a confiança do mercado", afirmaram as instituições os porta-vozes. Tais informações nos foram fornecidas pela assessoria de Imprensa do Down Jones (EUA).

AQUI na Terrinha de Tio Sam, o presidente da República dos EUA, Barack Houssein Obama, conseguiu do Senado Federal Norte-Americano a prorrogação do auxílio-desemprego de longo prazo, encerrado em maio. Mais de 15 milhões de pessoas estão desocupadas e 2,5 milhões foram diretamente prejudicadas pela demora na prorrogação. Apesar de algum aumento de atividade, a economia americana continua em marcha lenta e a recuperação dificilmente se consolidará enquanto o mercado imobiliário permanecer em crise. Em Junho último, o número de construções de residências encolheu 0,7%, segundo os últimos dados oficiais. Os alvarás para obras diminuíram 3%, depois de já terem diminuído em abril e maio. No fim do mês passado, os estoques de imóveis disponíveis em grandes cidades eram maiores que o de um ano antes. Mais de 30 milhões de mutuários estão com atraso igual ou superior a 30 dias no pagamento das prestações e a retomada de imóveis pelas financiadoras continua em alta.

LÁ NA Europa, os sinais de reativação continuam fracos e as perspectivas de crescimento neste e nos próximos dois anos permanecem modestas. A situação das contas públicas é precária na maior parte dos países. Alguns países adotaram programas severos de ajuste fiscal e isso comprometerá o crescimento a curto prazo. Se não o fizessem, o resultado poderia ser pior, porque a rolagem de suas dívidas seria mais difícil. Nesta semana, o Tesouro Nacional da Hungria conseguiu vender só uma parte dos títulos oferecidos. A insegurança aumentou no mercado quando o governo interrompeu o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

NA ÚLTIMA Quarta-feira, 21, o FMI divulgou uma avaliação da economia da Zona do Euro. De acordo com as estimativas, o crescimento econômico médio dos 16 países da união monetária será de 1% neste ano, 1,3% no próximo e 1,8% em 2012. A demanda interna continuará estagnada e a expansão econômica dependerá do aumento das exportações.

A EMPREGABILIDADE diminuirá em 2010 e em 2011 e crescerá ligeiramente em 2012. O desemprego passará de 10,2% neste ano para 10,4% em 2011 e recuará para 10,1% no ano seguinte. Na prática, ficará estável em todo esse período. As projeções terminam em 2012, mas não se prevê uma grande melhora nas contratações nos anos seguintes.

ESSE problema não é exclusivo da Zona do Euro. No Reino Unido da Grã-Bretanha já se anunciou uma nova política de imigração, destinada a preservar para a mão de obra local os poucos empregos disponíveis nos próximos anos.

UMA outra rara notícia positiva foi divulgada nesta semana pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS). No primeiro trimestre houve um aumento de US$ 700 bilhões no volume de crédito oferecido em todo o mundo. Foi a primeira alta em 18 meses. Apesar disso, o fluxo total, de US$ 29,7 trilhões, continuou inferior ao registrado em 2007, de US$ 33 trilhões. Na Zona do Euro, no entanto, a contração dos empréstimos continuou, por causa da precária situação geral das contas públicas. A quebra de um Tesouro Nacional poderia atingir bancos em quaisquer países. Nesse ambiente, é compreensível a decisão da maioria dos governos de iniciar a arrumação de suas contas. Não haverá crescimento sem um mínimo de segurança no setor financeiro.