Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, abril 02, 2010

Plano audacioso mesmo para a Petrobras

CONSERVATÓRIA (RJ) - NO QUINQUÊNIO 2010-2014 os investimentos da Companhia Petrobrás S/A passarão de US$ 174 bilhões para US$ 200 bilhões a US$ 220 bilhões, segundo a diretoria da empresa pública. Aplicados com eficiência, esses recursos permitirão que o Brasil melhore sua posição relativa no mercado global de petróleo. Com a crise de 2008/2009, houve redução dos investimentos globais esperados para o setor, em contraste com as perspectivas de retomada da demanda de longo prazo.

ESSE PLANO qüinqüenal de investimentos agora anunciado é 15% a 26% maior do que o anterior, que abrangia o período 2009-2013. Os números, segundo o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa (PT-BA), ainda não são definitivos. Mas dão uma boa ideia da disposição de investir não apenas na exploração do óleo negro na camada do pré-sal, como em campos marítimos menos profundos - onde o custo da produção é mais bem conhecido.

NA REPORTAGEM do Jornal Financial Times (FT), de Londres, publicada no último dia 22 de Marco, a importância do assunto foi ressaltada pelo repórter-especial inglês Jonathan Wheatley, ao afirmar que "a indústria internacional de petróleo observa o Brasil com crescente atenção nos últimos três anos, desde a descoberta dos campos do pré-sal". Um diretor da conhecida consultoria Cambridge Energy Research, Enrique Sira, considerou que o aumento dos investimentos da companhia pública brasileira está alinhado com as estimativas de custo de exploração do pré-sal

O PRESIDENTE da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e ministro de Petróleo do Equador, Germanico Pinto, em entrevista à reportagem do JORNAL O GLOBO, semana passada, afirmou que o impacto do petróleo do pré-sal para o Brasil "será positivo", mas ressalvando que, a curto prazo, não "terá grande impacto no mercado mundial".

SEGUNDO o dirigente da Opep, o ingresso de novos exportadores significa aumento da oferta e, portanto, preços menores. Mas, se o Brasil dobrar a capacidade de produção de petróleo, para 4 milhões de barris/dia - o que não é uma façanha improvável -, passará a ser um dos seis maiores produtores, abaixo de Rússia, Arábia Saudita e Estados Unidos da América (EUA), disputando colocação com Irã e China.
GERMANICO Pinto admitiu que "os preços atuais permitem que retornem os investimentos em extração", lembrando que, no ano passado, "com a queda no valor do barril, projetos foram adiados e cancelados". Em 2009, o Brasil investiu 33% mais do que em 2008. Neste ano, a Petrobrás prevê investimentos de R$ 88,5 bilhões, 25% mais do que em 2009. Até Junho, afirmou o presidente da companhia, Sérgio Gabrielli, a Petrobrás precisa de US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões a título de capital - ou seja, não pode esperar que o projeto de capitalização seja votado.

ANALISANDO o Relatório do Mercado do Petróleo de Março levantado pela Agência Internacional de Energia (IEA), descobrimos que o consumo global voltou a crescer, após uma queda estimada entre 1,2% e 1,4% em 2009. A demanda, estima a IEA, deverá aumentar de 85 milhões de barris/dia, em 2009, para 86,6 milhões de barris/dia, este ano - e uma forte contribuição virá dos países que não estão na Opep. Além do mais, os preços são considerados justos (O preço está certo é o título do editorial do Relatório do Petróleo.)

PORTANTO, justificam-se os vultosos investimentos da Petrobrás e de outros grupos, estrangeiros e nacionais, como a Shell e a BP. Justifica-se, ainda, a tomada de crédito para fazer caixa: R$ 74 bilhões foram captados no mercado, no ano passado, a maior parte proveniente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas também do Eximbank (norte-americano) e da China, que adiantou US$ 10 bilhões e receberá petróleo em troca. O endividamento da Petrobras S/A atingiu R$ 100,3 bilhões em 2009, segundo Barbassa, mas o prazo médio de pagamento da dívida passou de 4,2 anos para 7,5 anos, "mais tempo para aumentarmos a geração de caixa e fazermos as amortizações".

O AUMENTO da produção deve fortalecer a posição do Brasil no mercado de petróleo, ao médio e ao longo prazo, pois, como notou o presidente da Opep, "a base energética mundial não vai mudar" nos próximos 10 anos. Se a economia mundial se recuperar, o Brasil colherá os frutos do aumento dos investimentos em petróleo, enquanto os outros hesitavam.