Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, julho 24, 2009

Fragilidades do marco regulatório

CAMPOS DO JORDÃO (SP) - PASSADOS quase 12 meses patinando nos escaninhos da burocracia do lulismo, na semana passada foram definidas as regras básicas para a exploração de petróleo na camada do pré-sal. Será adotado um regime misto de partilha e concessões e criados uma nova estatal e um fundo para administrar os recursos gerados, conforme anunciou, o ministro de Estado das Minas e Energia (MME), Edison Lobão (PMDB-PI).

O REGIME de partilha é pouco atraente para os investidores e o anúncio do ministro Lobão não esclarece pontos importantes do sistema de exploração do pré-sal. Assim, não foram dissipadas as dúvidas que há um ano pairam sobre a questão.

ATUALMENTE, o modelo é o de concessão, baseado em leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP), seguidos da assinatura de contratos entre os vencedores e a União. Em caso de descoberta de petróleo, este pertence à empresa, que arca com os ônus tributários, os royalties e as participações especiais. Esse modelo é adotado nos Estados Unidos da América (EUA), Reino Unido, Argentina, Peru, Portugal e Noruega, entre outros países produtores.

SEGUNDO o modelo de partilha, o petróleo pertence à União e a empresa exploradora é ressarcida ou com parte do óleo bruto produzido ou em dinheiro. É um modelo que prevalece em países com reservas abundantes, como Angola, Equador, Índia, China, Venezuela, Iraque, Turquia, Moçambique e Líbia.

TAL regime agora adotado no Brasil é semelhante ao que prevalece na Rússia, Argélia, Nigéria, Cazaquistão, Dinamarca e Bolívia, ou seja, nele conviverão concessão e partilha - esta para o pré-sal e as grandes jazidas.

PORÉM, o MME deixou pontos em aberto, tais como a definição precisa das áreas onde a exploração estará submetida ao regime de partilha e a destinação dos recursos do fundo que será formado com as receitas do petróleo.

DE ACORDO com a revelação do ministro Lobão, o regime de partilha deverá prevalecer não apenas nos campos do pré-sal, mas em "áreas estratégicas", tanto marítimas, como as Bacias de Campos, Santos e Espírito Santo, como terrestres - onde houver muito petróleo, declarou o ministro. Entre estas áreas promissoras, revelou um assessor do MME, estariam os campos de gás na Bacia do São Francisco e de petróleo na Amazônia.

MAS o que é "muito petróleo"? É melhor afastar dúvidas com regras absolutamente claras, tanto para definir o que são "áreas estratégicas" como para evitar casuísmos que desestimulem a prospecção e a exploração de petróleo.

AS novas regras deverão estar definidas em duas semanas, segundo o MME. Serão três projetos de lei que o governo pretenderia pôr em discussão antes do envio ao Congresso, "em regime de urgência constitucional", segundo o titular do MME.

A RECEITA gerada será destinada a um "fundo social que receberá os recursos e os destinará à educação, saúde e questões trabalhistas", disse Lobão. Esta é a primeira vez que o governo inclui "questões trabalhistas" entre os itens da política de destinação dos recursos do novo fundo.

A CRIAÇÃO do fundo social inspira-se no modelo da Noruega, que constituiu um fundo soberano com recursos do petróleo capaz de acumular um patrimônio da ordem de US$ 480 bilhões. O fundo norueguês tem como objetivo a acumulação de riqueza para financiar projetos que amparem as futuras gerações, quando já não houver petróleo a ser explorado. Na Noruega, a distribuição dos recursos está limitada à renda das aplicações do fundo soberano, cujo capital é preservado e está investido em títulos públicos e privados e ações das maiores empresas globais.

ESSA descoberta do pré-sal é uma oportunidade única para o Brasil amealhar vultosos recursos, adquirindo capacidade de investir a longo prazo e podendo enfrentar em melhores condições fiscais os desafios do crescimento. Mas, para isso, terá de mostrar competência para explorar o pré-sal - e o primeiro passo é oferecer um modelo de regulação que preserve a Petrobrás, atraia parceiros privados e gere as receitas esperadas, destinadas à proteção e ao bem-estar futuros da população.