Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, junho 19, 2006

Irreverência incomum

WLADMIR ÁLVARO PINHEIRO JARDIM
RIO DE JANEIRO

Coincidentemente ele fazia aniversário no mesmo dia que este articulista. Na certidão de nascimento: Cláudio Besserman Vianna nasceu em 25 de Junho de 1962, no Rio de Janeiro.. Era casado e pai de uma menina. Bussunda, como gostava de ser chamado, era uma estupenda personalidade do besteirol brasileiro, começou a carreira como redator do jornal humorístico Casseta Popular que, no início da década de 1980 fez sucesso ao combinar humor com crítica política. Na época, Bussunda ainda era estudante do Curso de Jornalismo na Escola de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ).

Em 1988, Bussunda iniciou suas participações na TV como redator do programa TV Pirata, um verdadeiro clássico da renovação da TV brasileira. No ano seguinte, o show "Eu vou tirar você desse lugar" daria início à parceria com o grupo que fazia jornal humorístico Planeta Diário, surgindo então a Turma do Casseta & Planeta Urgente! (TV GLOBO).

Mesmo após a criação do programa em 1992, Bussunda continuou a atuar como cronista e jornalista independente. Escreveu 11 livros, atuou em dois filmes, gravou três CDs com a Turma do Casseta & Planeta Urgente!, atuou no Teatro e também trabalhou como dublador em desenhos animados dos estudios Walt Disney.

Aqui no nosso Baixo Leblon, contam a lenda de que o nosso saudoso Bussunda guardava no umbigo as moedas com que pagava a passagem de ônibus para ir à Praia do Posto 9, em Ipanema. Ele estava no fim da adolescência e já fazia piada de si próprio. Eu me lembro muito bem daquela figura que chamava atenção na areia da Praia: sempre sorridente, um sorrisão tranqüilo, quase oriental, e uma cabeleira enorme. Acho que a história da moeda no umbigo virou piada “oficial” no pasquim Casseta popular que ele começou a fazer, quando ainda freqüentava as aulas de Jornalismo no Campus da UFRJ, com o economista Marcelo Madureira, o advogado Cláudio Manuel, o engenheiro Hélio de la Pena e o arquiteto Beto Silva. E depois ganhou uma versão na TV GLOBO, quando Hubert e Reinaldo, que faziam outro jornalzinho “alternativo”, o Planeta Diário, se juntaram ao grupo.

O Casseta popular era um absurdo de engraçado e sem os freios politicamente corretos que costumam atrapalhar tudo, principalmente o humor. Eles brincavam com todo mundo e todo mundo gostava de ser citado ali, mesmo quando, no caso das meninas, fosse de uma maneira, digamos, mais sem limites. O grupo promovia happenings para lançar cada edição do jornal.

Uma vez minha saudosa prima, a jornalista Maria Helena Santos, na época já dinâmica âncora em telejornais na TV GLOBO, participou de um vídeo deles gravado num barzinho em Botafogo, uma grosseria só. Jornal alternativo e barzinho em Botafogo, coisas bem típicas daquela época. E lá estava Bussunda, com seu sorriso oriental. Para nós, ele já era uma estrela. Só que uma estrela particular, da galera que freqüentava a Zona Sul da Cidade Maravilha Mutante .

A última participação de Bussunda em telejornais foi no último dia 09 deste mês, na Alemanha. Em entrevista ao repórter Tadeu Schmidt, no matutino "Bom Dia Brasil" (TV GLOBO), ele interpretou um de seus personagens mais populares, o atacante Ronaldo Fofômeno.

Na matéria, Tadeu Schmidt inicia a entrevista a Ronaldo Fofômeno, perguntando se ele continuava com febre, numa alusão à indisposição sentida pelo boleiro da camisa 9 nos dias seguintes após a estréia do time brasileiro na Copa do Mundo deste 2006. Em resposta, o personagem respondeu, sempre com o humor que caracterizou a atuação de Bussunda: “Não, não; já melhorei. Queria até aproveitar para dar um recado para a Imprensa brasileira: gordo é a....”, disse o personagem, impedido de completar a frase por outros "boleiros da seleção”, interpretados pelos demais integrantes da Turma do Casseta & Planeta Urgente!.

O talento de Bussunda para rir de si próprio foi um dos maiores trunfos da Turma do Casseta & Planeta Urgente!, que fez do humor despretensioso a sua profissão. Este humor que nasceu no movimento estudantil e muito provavelmente em oposição à sisudez que reinava ali.

Com o passar dos anos, Bussunda, como todos os seus companheiros, foi se transformando também em ator. Lançaram um humor novo e reviveram um humor antigo. Prova do talento da turma é a longevidade do programa, no ar desde 1992. Turma é mesmo a melhor palavra para definir este grupo formado por amigos unidos como poucas vezes se vê no mundo artístico. Apesar do enorme sofrimento, é essa amizade tão antiga que certamente ajudará a levar adiante o trabalho ímpar da trupe: nos fazer ri diante da TV, no horário nobre das Terças-feiras; mesmo após o noticiário indigesto repleto de reportagens sobre a vida real das grandes metrópoles, os gazeteiros e sanguessugas do Congresso Nacional, os mensaleiros e o delubiovalerioduto gerenciado nas hostes deste governo Luiz Inácio da Silva (2003-6).

Apaixonado rubro-negro, Bussunda era bem gordinho desde a época em que guardava as moedas no umbigo. Ria disso. Ria de tudo. Já famoso, manteve o jeito doce. Sempre recebeu bem os pedidos de entrevista e quando chegavam o repórter e o fotógrafo ou cinegrafista, lá estava ele com seu eterno sorriso. Era o mesmo cara que corria à Praia, barriga à mostra, balançando aquela cabeleira nos anos 1980. Essa é a imagem que fica. E que Zambi lhe guarde consigo, Oxalá!