Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, abril 09, 2010

Lulodependente compulsiva

NÃO há hipótese de a pré-candidata governista, à Presidência da República, Dilma (Pinóquio) Rousseff (PT-RS), como ela disse e tornou a dizer nos últimos dias, se "desvencilhar" do lullismo. Isso significa que não há hipótese de a pré-candidata ir para o embate sucessório como uma figura de projeção que, embora fiel ao presidente a quem tudo deve, e leal à administração da qual fez parte desde a primeira hora, tenha identidade própria, propostas próprias, em suma, vida eleitoral própria? A tática petista de transformar a campanha em um confronto entre o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e o atual já não se explica apenas pela expectativa de explorar a popularidade do vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), em favor de sua apadrinhada, que ainda não disputou nem uma vaga de síndica, diante de um adversário, o ex-ministro de Estado, ex-senador da República, ex-prefeito e, agora, ex-governador do Estado de São Paulo, José Serra (PSDB-SP), calejado nas urnas e na atividade pública.

PARA o lullismo, a preferência pela disputa plebiscitária - "nós e eles, pão, pão, queijo, queijo", na memorável descrição do presidente -, tende a ser cada vez mais um imperativo advindo de uma indigesta realidade: a esqualidez aparentemente irremediável do desempenho da candidata, apesar do curso intensivo a que a submetem alguns dos melhores nomes do ramo. À falta de uma Senhora Rousseff pessoa física, só resta aos seus mentores fazer dela uma pessoa jurídica - a representação encarnada do lullismo.

ESSE esquema exige, naturalmente, descarnar o opositor para criar a ficção de que os nomes à espera do eleitor na urna eletrônica serão, para todos os efeitos, os de dois governos. Daí as tentativas de (Pinóquio) Rousseff de descaracterizar as manifestações do pré-candidato da Oposição que, diferentemente dela, tem um perfil político estabelecido e fala por si.

A PRÉ-CANDIDATA governista não pode permitir que, dentro da camisa de força em que as suas limitações e os cálculos plebiscitários dos seus mentores a aprisionaram, Serra reconheça méritos neste governo e se proponha a ir em frente - que é, afinal, o que a população deseja de todos os candidatos presidenciais. Zé Serra tem de se comportar como os "lobos em pele de cordeiro", que Dilma diz enxergar nos oposicionistas quando defendem a manutenção das políticas sociais do lullismo (sem omitir que as suas sementes foram plantadas na gestão que o precedeu). À interdição das opiniões contrárias ao maniqueísmo atrás do qual oculta as suas carências, a candidata acrescenta a mentira pura e simples. Serra - ela disse isso duas vezes em poucos dias -, é o responsável pelo racionamento de energia em 2001 e 2002, por ter sido ministro de Estado do Planejamento Orçamento e Gestão do Governo do ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) -, 6 anos antes, fingiu esquecer.

TAL súbita agressividade da Senhora Rousseff, na sua ânsia de passar ao público mensagem do gênero "Dilma e Lula, tudo a ver", decerto reflete também o seu visível desconforto ao participar, sem a confortadora companhia do vosso presidente da República, de eventos preparados para promover a humanização de sua imagem. Nessas horas, temperamento e a lulodependência insatisfeita se combinam para fazê-la tropeçar nas próprias deficiências. O momento crítico, sempre, é o encontro com a Imprensa. Um dia, a ex-prisioneira torturada no regime militar (1964-85), quando solicitada a comentar as declarações de seu guia sobre as greves de fome de dissidentes cubanos, aproveitou para fazer uma comparação infame entre os presos políticos brasileiros. Estes, só a muito custo conseguiram falar com a Anistia Internacional. Já os cubanos, seriam privilegiados, deu a entender, "porque o acesso que eles têm à mídia é muito grande".

EM SUA produzida incursão sentimental a essas Minas Gerais, nesta semana, seu Estado natal e segundo maior colégio eleitoral do País, depois do Estado de São Paulo, Rousseff teve de se haver com uma pergunta sobre as razões que a levaram a começar a sua pré-campanha em "berço tucano", numa alusão ao popular governo Aécio Neves/Antonio Augusto Anastasia, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

SENHORA Rousseff reagiu então, agressiva, com 4 pedras em cada mão e um disparate na cabeça: "Minas é meu berço, viu? E eu não sou tucana", começou, para emendar: "Tancredo, que eu saiba, também não era tucano. Que eu saiba, Juscelino não era tucano". Ao que se saiba, o ex-presidente da República Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1960) morreu em 1976. O ex-presidente da República (eleito em 1984), Tancredo de Almeida Neves, faleceu em 1985. E o PSDB foi fundado depois, em 1988. Longe de seu guia e guru, logo se vê, Dona Dilma é uma autêntica anticandidata presidencial. O seu criador terá de fazer muito mais do que já fez pela criatura.