Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Ninho de intrigas

Há poucos dias, foi o governador José Serra quem levou a melhor, ao cooptar seu antigo desafeto no PSDB, o ex-governador Geraldo Alckmin, até então próximo de Aécio. Ontem, mal passada a comemoração de Serra, foi a vez de Aécio dar o troco, com a reeleição do deputado José Aníbal para a liderança do PSDB na Câmara, contra a vontade de José Serra e, de quebra, também do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.


Tudo bem que José Aníbal, de alguma forma, representa os interesses de São Paulo, paulista que é. Mas não era ele o candidato de José Serra, que torcia para o deputado Paulo Renato, ex-ministro da Educação do presidente Fernando Henrique Cardoso.



Na verdade, a liderança do partido na Câmara, segundo acerto entre Aécio e Serra, ficaria com São Paulo, com a primeira secretaria da Mesa Diretora sendo destinada a Minas Gerais. Essa preliminar quase foi derrubada, com o deputado Eduardo Gomes, de Tocantins, saltando na frente de Rafael Guerra com o argumento de que o cargo seria do PSDB, mas não necessariamente de Minas.




O governador Aécio Neves teve que endurecer o jogo e na hora apropriada, bem ao estilo do seu avô, chamou Eduardo a Belo Horizonte e conseguiu que ele cedesse em favor de Guerra. Com isso, ficou acertado definitivamente que a liderança, até então exercida pelo paulista José Aníbal, ficaria com São Paulo. Na hora de a onça beber água, Serra botou sua tropa de choque em campo, mandando até um secretário seu deixar o cargo e assumir o mandato em Brasília. Tudo para derrotar José Aníbal, tido pelos paulistas como mais chegado à visão política de Aécio do que à de Serra. Na reunião da bancada, anteontem, o tempo quase fechou, com três dos oito deputados mineiros tendendo a votar contra José Aníbal. Aécio, mais uma vez, endureceu e colocou os três rebeldes na linha, dando a totalidade dos votos de Minas para José Aníbal.





Resultado: José Aníbal foi reeleito por 36 votos, numa bancada de 58. Pior para José Serra que, derrotado, não soube conter a parte vencida, que ontem se rebelou contra Aníbal. Com efeito, 19 dos 21 rebeldes serristas divulgaram ontem um manifesto em que chamam de “golpe” a vitória de José Aníbal, ameaçando ainda não obedecer a sua liderança. E com isso o PSDB mostrou que está rachado não apenas na disputa para a Presidência da República, mas também na sua bancada de deputados. Curioso é que a mídia paulista, sempre cáustica com Aécio, não consegue ver a crise que se instala no ninho tucano, ou a ameniza como se a vitória de Aníbal e a rebelião dos derrotados fosse uma coisa corriqueira, enquanto acendem seus holofotes, por exemplo, para o fato de o PMDB ocupar o comando da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, atribuindo isso a uma derrota do vosso presidente da República.




Aliás, já na disputa para a presidência do Senado também apareceu a queda de braço entre os governadores José Serra e Aécio Neves. Serra mandou a bancada do PSDB votar no petista Tião Viana e Aécio pôs suas fichas no ex-presidente José Sarney. Serra perdeu com Tião. Aécio, ligado a Sarney desde a formação da chapa Tancredo-Sarney, ganhou mas preferiu ficar na muda, para agora dar o troco com a reeleição de José Aníbal.





Como disse, vai ser assim, daqui até quando o PSDB decidir quem irá representá-lo na disputa pela Presidência da República. E nessa toada o melhor que José Serra poderá fazer é tentar ganhar de Aécio com o cuidado necessário para não pisar nos calos do governador mineiro. Como disse Segunda-feira,02, em seu discurso de posse na Assembléia o deputado Alberto Pinto Coelho, num recado para além das Gerais: Minas não quer ser apenas coadjuvante nessa caminhada para o Palácio do Planalto. Pinto Coelho sabe do que está falando: 86% dos mineiros querem um conterrâneo disputando a Presidência da República e, claro, não aceitam que o Palácio da Liberdade, símbolo do poder em Minas, ao longo do tempo, seja tratado como uma tapera caiçara.