Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, janeiro 28, 2013

Obama II

CANCÚN (MÉXICO) – AGORA, concluídos os ritos da posse do segundo mandato (2013-16) do presidente da República dos Estados Unidos da América (EUA), o democrata Barack Houssein Obama, os norte-americanos e o mundo voltam-se para o calendário de confrontos entre o democrata e a oposição republicana, que controla a Câmara dos Representantes, com 233 cadeiras em 435, e detém no Senado Federal uma substancial minoria (45 em 100). Sob o domínio da facção mais intratável do fundamentalismo conservador americano, todas as decisões relevantes tomadas nos últimos quatro anos pelo Partido Republicano que já levou à Casa Branca gigantes políticos como Abraham Lincoln e modelos de moderação como Dwight Eisenhower se pautaram por um único objetivo: impedir a reeleição do primeiro presidente negro daquele país.



DERROTADA nas urnas em Novembro último, a Oposição teve um lampejo de inteligência na virada do ano, ao fechar com Barack Obama um acordo de última hora que, embora precário, poupou os EUA de cair no chamado abismo fiscal, com efeitos letais sobre a recuperação da economia nacional do colapso financeiro de 2008. Dois outros momentos decisivos para o novo governo já assomam no cronograma de do Pentágono. Em algum dia de Fevereiro, a dívida pública norte-americana baterá no teto de US$ 16,4 trilhões (ante um Produto Interno Bruto – PIB - da ordem de US$ 15 trilhões). Barack Obama quer elevar esse limite a um valor ainda indeterminado, bem como ter a prerrogativa de tornar a fazê-lo sempre que julgar necessário. Os republicanos aceitam apenas um aumento válido por três meses.



E SE a dívida furar o teto, o governo norte-americano será obrigado a suspender os pagamentos a seus financiadores, fornecedores e servidores - um vexame inédito. (O mais perto que se chegou disso foi o fechamento por alguns dias da administração federal no primeiro mandato do então presidente da República, Bill Clinton.) Enquanto durar o impasse, a Casa Branca ficará de mãos atadas para implementar novos projetos. Cientes das consequências do cataclismo para o resgate da imagem do partido, a liderança republicana na Câmara dos Representantes ensaiou um recuo da posição intransigente que adotara em relação à matéria. Mas convém não subestimar a nova meta dos ultrarradicais: já que Barack Obama se reelegeu, pelo menos que não ingresse no panteão dos presidentes que marcaram época.



O FUTURO do déficit público é outra batalha anunciada. No fim de Fevereiro expira o acordo sobre gastos federais. Sem um novo entendimento, o Poder Executivo será obrigado a eliminar US$ 560 bilhões em dispêndios até 2022 (US$ 100 bilhões já este ano). Os principais atingidos serão os programas sociais, mas tampouco o sistema de defesa ficará imune à compulsão republicana pela tesoura. Entre a reeleição e a posse, a aversão da direita ao "socialista" Barack Obama encontrou um motivo a mais para se nutrir: a decisão do presidente Obama, na esteira da chacina de Newtown, de anunciar, pela primeira vez nos EUA, um pacote de medidas - algumas delas a serem votadas pelo Congresso Nacional norte-americano em regime de urgência - para controlar o comércio de armas. Um senador texano ligado ao Tea Party prega o impeachment do presidente Barack Obama por isso.



NA agenda doméstica de Obama para o seu termo final, figuram duas questões em relação às quais as chances de obstrução republicana diferem. A Oposição pouco poderá fazer para impedir a regulamentação da lei de reforma da saúde, a entrar em vigor no próximo ano, cuja aprovação em 2010 foi um marco histórico e será o maior legado da era Barack Houssein Obama na Casa Branca. Mas, se o Partido Republicano continuar "com a cabeça enfiada na areia e ignorar o fato de que o país está mudando", como adverte o ativista (republicano) Ralph Reed, poderá aguar a reforma das leis de imigração desejada pelo presidente Obama. Trabalham e pagam impostos naquele país cerca de 11 milhões de estrangeiros ilegais (ou "indocumentados", naquela velha linguagem politicamente correta), a grande maioria latino-americanos. Em Novembro último, dois em cada três eleitores ditos "latinos" votaram em Barack Obama.



NA frente externa, a Oposição tem pouco a declarar sobre a nova prioridade asiática da diplomacia norte-americana, um híbrido de contenção e cooperação com a China. Mas fará um barulho ensurdecedor se Obama for "suave" com o Irã e pressionar Israel para valer na questão palestina. O Oriente Médio é o principal desafio de Barack Obama no mundo. Passa por ali a ida de Barack Houssein Obama para a História - e a volta dos republicanos à razão.