Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sexta-feira, dezembro 25, 2009

Bola murcha

RIO DE JANEIRO (RJ) - A DIPLOMACIA brasileira está em baixa na bolsa de prestígio político de Washington (DC). O entusiasmo demonstrado em Abril último pelo presidente da República dos Estados Unidos da América (EUA), Barack Houssein Obama - "esse é o cara", disse ele sobre o colega brasileiro, em Londres - parece haver murchado. Depois de vários atritos, é incerta a visita do presidente da República norte-americana a Brasília (DF) em 2010. O vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), tenta mostrar indiferença. Se Obama não vier, comentou, quem perderá será ele, porque deixará de ver como "o Brasil é importante, desenvolvido e tem muita coisa para mostrar". Mas não deixou de exibir certa condescendência: "Continuo com uma grande expectativa em relação ao governo Obama. Ele ainda vai ser uma surpresa", disse “O-CARA”, na ultima Segunda-feira, 21, durante o Briefing do “Café da Manhã” oferecido à Imprensa no Palácio do Planalto.

PRONUNCIANDO essas palavras, ele reiterou, de forma indireta e mais suave, o comentário recente de seu assessor para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia (PT-SP). Segundo Garcia, a política de Barack Obama tem sido uma decepção. O ministro de Estado das Relações Exteriores, chanceler Celso Amorim (PMDB-RJ), tentou na ocasião diminuir o estrago causado por seu colega de governo. Mas não teve êxito. As divergências em torno da eleição em Honduras e o apoio brasileiro ao presidente da República Islâmica do Irá foram muito além das diferenças normais entre governos.

TAL MAL-ESTAR contaminou a Imprensa e chegou ao Congresso Nacional dos EUA, onde o senador democrata Frank Lautenberg suspendeu a votação de medida benéfica a exportadores brasileiros. As isenções do Sistema Geral de Preferências perderão vigor no próximo dia 31. A votação interrompida pelo senador poderia estendê-las por um ano. Segundo a assessoria de Lautenberg, a ação do senador foi uma resposta à liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio de Mello do Supremo Tribunal (STF) contra a devolução imediata do menino Sean Goldman (que vive no País) ao pai, o norte-americano David Goldman.

O APOIO do “CARA” ao presidente iraniano foi desastroso perante a Imprensa norte-americana. Pressionado internamente e criticado na maior parte do mundo por seu programa nuclear, Ahmadinejad, segundo editorial do jornal Washington Post, procurou amigos no exterior e só encontrou, de início, os governos africanos de Gâmbia e do Senegal e os latino-americanos da Venezuela e de "dois de seus satélites, a Bolívia e a Nicarágua". “O-CARA” juntou-se a esse grupo quando os líderes da China e da Rússia condenavam a política iraniana. Assim, deu razão às democracias ocidentais para negar ao Brasil um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), acrescentou o editorial publicado pelo Post.

“O-CARA” também foi criticado pela Imprensa norte-americana e por analistas de política internacional qualificados por se meter na política centro-americana sem saber o bastante sobre a região. Sua intervenção em Honduras foi vista como um obstáculo à solução da crise - erro agravado com a insistência em não reconhecer a legitimidade das eleições.

SEGUNDO Moisés Naim, editor da revista Foreign Policy, "o governo do Brasil se comporta como sendo um governo de um país em desenvolvimento imaturo e ressentido". Diplomatas do Departamento de Estado Norte-Americano têm reagido às ações do governo brasileiro com perplexidade, mas em outras áreas do governo a reação é de mal disfarçada hostilidade, segundo relatou em artigo publicado na edição do último Domingo, 20, no Jornal O GLOBO, o jornalista Paulo Sotero, ex-correspondente do jornal O Estado de S. Paulo em Washington e hoje diretor do Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars.

A nova política externa brasileira é conduzida às vezes "com a petulância de novos ricos", segundo experiente diplomata estrangeiro citado em artigo pelo ex-embaixador do Brasil nos EUA, Rubens Ricupero. Nesse texto, publicado naquele mesmo Domingo, no Jornal Folha de S. Paulo, Ricupero contrastou o protagonismo do vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (2003-10), com a discrição do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao. "Queremos ser mediadores no Oriente Médio e em Honduras, onde nossa influência é quase zero, enquanto a Unasul, que fundamos, completa um ano sem conseguir eleger o secretário-geral", escreveu Ricupero.

EM TÃO curto espaço de tempo, “O-CARA” envenenou, sem nenhum ganho econômico ou político para o País, o ambiente de boa vontade existente durante o governo republicano e mantido no começo da gestão de Barack Obama. Para ter influência global, comentou o Washington Post, o Brasil teria de abandonar o terceiro-mundismo de sua política externa. Não é provável que isso aconteça com o Itamaraty sob o domínio ideológico do lulismo “que faz a cabeça” dos atuais formuladores da política externa deste grande e bobo País.