Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sábado, fevereiro 11, 2012

Onde o gato escaldado não teme a água fria?!...

COM aquele desfecho da novela protagonizada por Mário Negromonte (PP-BA), entre os partidos que participam do condomínio do governo só falta agora o Partido Socialista Brasileiro (PSB) - e não é por falta de candidato - ter um ministro de Estado demitido em consequência de denúncias de irregularidades. No dia 1º, após despachar Negromonte por 15 minutos, a presidente da República Dilma Wana Rousseff (PT-RS), aceitou o seu "pedido de demissão". Ela já havia decidido que o Negromonte não permaneceria no cargo, fazendo o comunicado de praxe à direção nacional do PP e ao governador do Estado da Bahia, Jacques Wagner (PT-BA), padrinho político de Negromonte. Parece, no entanto, que dona Rousseff está disposta a dar chance para o azar: sobre o substituto já empossado, ministro Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), perfeito exemplar de uma oligarquia nordestina, pesam suspeitas de favorecimento político a familiares, por meio de programas do Ministério das Cidades que Ribeiro acabou de assumir. No Palácio do Planalto, gato escaldado não tem medo de água fria.

TODA aquela encenação em torno da substituição de Negromonte - a mais enrolada dentre todas as que, em 13 meses, resultaram na demissão de sete ministros de Estado neste governo Rousseff (2010-14), por denúncias de irregularidades - evidencia mais uma vez o dilema e a consequente hesitação da presidente da República, sempre que precisa se livrar de colaboradores envolvidos em mal feitos. A demissão de Negromonte era previsível desde o fim de 2011, quando o Ministério das Cidades foi objeto de denúncias de graves irregularidades relativas a obras para a Copa do Mundo da Fifa em 2014, em Cuiabá (MT), e de relações promíscuas com lobistas. Além disso, Rousseff já vinha confidenciando, a muitos interlocutores, que considerava Negromonte um mau gestor. Depois disso, mandou demitir o chefe de gabinete e o chefe da Assessoria Parlamentar do Ministério das Cidades. No ultimo dia 30, em Salvador (BA), antes de viajar para a região do Caribe, a presidente da República deixou claro que a fritura de Negromonte teria o seu desfecho tão longo dona Rousseff retornasse a Brasília (DF).

DE FATO um processo tão tortuoso permite supor que, descartada a hipótese de que a presidente da República tenha prazer em prolongar a agonia dos condenados à guilhotina, o processo de tomada de decisões que envolvem interesses políticos de aliados não deixa à vontade uma chefe de governo tida e havida como enérgica e decidida. O que leva ao paradoxo de ela, na verdade, tornar-se refém, em vez de comandante, da tão enaltecida aliança hegemônica arquitetada pelo lullopetismo. É claro que qualquer aliança política se apoia numa complexa e delicada dinâmica de acordos em torno de interesses pontuais. Mas tudo leva a crer que, sem a incontrastável autoridade política de seu antecesso e padrinho político, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), a mandatária da nação enfrenta sérias dificuldades para equilibrar esses acordos, inclusive para votar matérias do seu interesse no Congresso Nacional.

TAL enredo ajuda a compreender, por exemplo, a razão pela qual o ministro de Estado da Integração Nacional, Fernando Bezerra (PSB-PE), e o ministro de Estado do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior, Fernando Damata Pimentel (PT-MG), apesar de tão enrolados em denúncias e evidências de malfeitos quanto seus colegas da Esplanada que foram defenestrados, permanecem impávidos à frente de suas pastas. Do ponto de vista do governo, o PSB, presidido pelo governador do Estado de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB-PE), é peça-chave no xadrez eleitoral que começa a ser jogado este ano para desaguar na sucessão presidencial de 2014. O mesmo se poderia dizer a respeito do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), que já teve dois ministros de Estado demitidos. Mas o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP) e seus correligionários são "do ramo" e estão habituados a assimilar com tranquilidade golpes que a eles não fazem mossa, mas pegariam muito mal para a imagem do PSB, que pretende se apresentar como uma nova e imaculada opção para o eleitor.

NO caso de Pimentel, ex-prefeito municipal de Belo Horizonte, importante líder petista mineiro, acusado de desvios do mesmo gênero daqueles que custaram o cargo de ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, ao deputado federal Antonio Palocci Filho (PT-SP), devem estar contando a favor de sua permanência à frente do Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior os interesses do Partido dos Trabalhadores (PT) em Minas Gerais, um Estado de enorme importância eleitoral.

MAS de qualquer modo, da mesma forma que não houve a tal reforma ministerial, nada garante que a temporada de faxina - expressão que a presidente Rousseff detesta - no primeiro escalão tenha terminado.