Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sábado, fevereiro 16, 2013

Ações perniciosas

RIO DE JANEIRO (RJ) – O FRACO desempenho da economia nos dois últimos anos não explica inteiramente as perdas que o mercado acionário brasileiro vem sofrendo, na comparação com os resultados de outras bolsas de valores. O baixo crescimento da economia - que o governo vem tentando reverter, sem resultados até agora, o que tem gerado previsões pessimistas também para o desempenho deste ano - por certo desanima os investidores do mercado acionário, muito suscetíveis aos resultados das empresas e às tendências da economia real. Mas essa característica natural do mercado acionário está sendo visivelmente perturbada pelo ativismo econômico excessivo do governo do Partido dos Trabalhadores (PT), que turva as expectativas dos investidores, lança dúvidas sobre a segurança das aplicações e produz ainda mais pessimismo.



DESSA combinação não se poderia esperar resultados diferentes dos que a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) vem apresentando. Depois de ter superado 70 mil pontos em Janeiro de 2011, o Ibovespa, que mede a variação dos papéis mais negociados, manteve-se em torno de 60 mil pontos nos últimos pregões. É uma redução de cerca de 14% em dois anos. A título de comparação, observe-se que, depois de ter crescido 7,5% em 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 2,7% em 2011 e cerca de 1% no ano passado. Os dois últimos resultados são muito fracos, mas não negativos.



NOS Estados Unidos da América (EUA), cujo governo ainda não conseguiu negociar com a Oposição os termos definitivos de um acordo que permita a solução de longo prazo para seus problemas financeiros, a bolsa de valores está em franca recuperação. O principal índice da Bolsa de Nova York, o Dow Jones, está prestes a bater seu recorde. Mesmo na Europa em crise, os mercados de ações estão em alta, incluindo os da Grécia, Portugal e Espanha, países em situação econômica e fiscal mais complicada.



DESDE Janeiro de 2010, a cotação da ação preferencial da companhia pública Petróleo do Brasil S/A (a Petrobrás), uma das mais negociadas na Bovespa, perdeu mais de 40%. O valor de mercado da empresa despencou de US$ 199,3 bilhões no início de 2010 para cerca de US$ 107 bilhões neste Fevereiro carnavalesco, uma perda de mais de US$ 90 bilhões em três anos. Tendo sido a segunda maior companhia de gás e petróleo das Américas, atrás apenas da ExxonMobil, a Petrobrás S/A agora ocupa a quarta posição, atrás também da Chevron e da colombiana Ecopetrol.



E POR que a Petrobrás S/A caiu tanto? Utilizada politicamente pelo governo do PT, a companhia perdeu eficiência, teve de reduzir seus programas de investimentos em exploração e refino para, por pressão do governo petista, investir no caro programa do pré-sal e, assim, viu cair sua produção e foi obrigada a importar combustíveis.



TAMBÉM, transformada em instrumento da política de preços do governo petista, teve que suportar, com graves ônus financeiros, o congelamento dos preços dos combustíveis, que vem importando em quantidades crescentes, porque não ampliou sua capacidade de refino. Estima-se que, só no passado, essa política insensata de importar por determinado preço e vender por outro, menor, tenha imposto perdas de R$ 20 bilhões à Petrobrás S/A. Com razão o mercado reduziu o preço de suas ações. O recente aumento da gasolina não muda substancialmente o quadro.



SEMELHANTE situação o governo Rousseff (2011-14) impôs às empresas do setor elétrico - inclusive a principal empresa pública federal, a Eletrobrás S/A -, com seu programa de renovação de concessões associada à redução das tarifas para consumidores residenciais e industriais. A redução das tarifas resultará em graves ônus para as companhias energéticas, razão pela qual algumas delas (as mais lucrativas e eficientes), e hoje, controladas por governos estaduais se recusaram a aderir ao programa. O mercado, também nesse caso, agiu como o esperado, e as ações das companhias energéticas despencaram.



JÁ HÁ algum tempo, o governo interveio na gestão da Companhia Vale do Rio Doce S/A, uma empresa privada na qual o governo ainda tem alguma presença, o que igualmente provocou a reação do mercado.



ESTE intervencionismo do governo em empresas cujas ações estão entre os mais negociados na bolsa de valores é pernicioso para as empresas, para o mercado e para o País.