Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, abril 21, 2009

Pole position da mediocridade

CONSERVATÓRIA (RJ) - A propósito deste 21 de Abril: ninguém discute que o caminho do Brasil rumo ao espaço sideral é cercado de perigos e de nebulosos interesses. Briga de cachorro grande, dizem alguns. Para quem acredita numa imensa teoria da conspiração, o Governo dos Estados Unidos da América (EUA) estão por trás de tudo, negando acesso a tecnologias, proibindo a aquisição de certos produtos, fechando a porta de laboratórios a pesquisadores e bolsistas brasileiros. Afinal, o perigo da disseminação de armas nucleares intercontinentais - um subproduto da pesquisa espacial pacífica - é grande.

O Brasil, nesses anos todos, não desistiu completamente - o que foi (e tem sido) péssimo. Num magistral esquema de stop and go, tentativas foram feitas com outros parceiros, na falta de uma cooperação mais estreita por parte do Governo dos EUA. Chegou-se mesmo a designar uma área - Alcântara, no estado do Maranhão - para o desenvolvimento de um programa espacial, com lançadores, mísseis, satélites, the works. O local é privilegiado, por sua posição rente à linha equatorial.

Os vinte e tantos anos da existência de Alcântara como base de lançamento são um retrato do Brasil arcaico, hoje e sempre: três lançamentos fracassados, uma explosão de grandes proporções que vaporizou um grande contingente de cientistas e técnicos... Parece até uma promessa feita recentemente, de um milhão de casas (só não me perguntem para quando!, disse o chefe do atual desgoverno), ou da expectativa de Rubinho Pé-de-Chinelo na conquista da centésima vitória em GPs da Fórmula 1: "Claro, acho que vou conseguir, só não sei quando". Só para relembrar: o Rei dos Quartos Lugares, The King of Excuses, pilota atualmente o melhor carro da categoria - e do alto de toda a sua "experiência", consegue ficar atrás de seu companheiro de equipe.

Na utilização de Alcântara, que deveria ser objeto de interesse nacional prioritário - afinal, a tecnologia de satélites permitiria ao (des)governo brasileiro economizar uma baba com, entre outras coisas, controle de fronteiras, controle de tráfego aéreo, monitoramento de queimadas na Amazônia - encontrou apenas um entusiasmo meia-bomba por parte dos sucessivos gerentes do fazendão. Com isso, até os quilombolas da região resolveram se insurgir, jogando areia na pipa. Os famigerados (e aparelhados) Instituto Brasileiro do Meio ambiente (Ibama) e o Instituto Nacional para Conservação e Desenvolvimento do Reforma Agrária (Incra) se juntaram ao coro anti- foguete, proibindo licenças ambientais, fechando estradas, reduzindo porções de terra. Se alguém pensasse novamente em teorias da conspiração, ia achar que o Governo dos EUA cooptaram os quilombolas, se infiltraram no Ibama e no Incra, e estão praticando a nefanda interferência nos negócios internos do Brasil.

Nada disso amigo leitor. A incompetência, nesse caso, é 100 por cento nacional. O voto de burrice que transforma tudo em mediocridade e toma conta das veias da sociedade infecta até o programa espacial brasileiro, ou o que resta dele. Não que seus técnicos e gestores sejam burros, ou desprovidos de visão estratégica. Fala-se do Zé Mané da Esquina, que não estuda e acha que vai virar presidente da republiqueta como você-sabe-quem, que tem como interesse maior as grandes aventuras do Big Brother Brasil, que tem certeza de que o programa bolsa-esmola é pra sempre e que, por meio dos "movimentos sociais", acha que, com sua miopia estrábica, pode tomar decisões de governo como se estivesse a par de todas as variáveis.

Ora, "a nível de" gestão, o programa espacial está à míngua. É como cão de muitos donos: vive passando fome. Dos 62 mil hectares de Alcântara, hoje só restam 4 hectares e meio. Cada pedaço da quase-extinta Agência Aero-Espacial Brasileira (AAEB) é gerido por um ministério ou autarquia diferente.

Por aqui nem é necessária qualquer teoria da conspiração, como se vê. O subdesenvolvimento deste País não surge naturalmente. Ele precisa de um esforço concentrado de uma grande e dedicada maioria de imbecis.