Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, outubro 10, 2012

Uma herança de peso

SÃO PAULO (SP) – IMEDIATAMENTE vem se desfazendo rapidamente a imagem que o ex-presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP) construiu de si mesmo no poder, e que parecia indestrutível. As dificuldades eleitorais que os candidatos por ele impostos ao seu Partido dos Trabalhadores (PT) enfrentam em várias capitais neste segundo turno das eleições municipais são uma demonstração de que, menos de dois anos depois de deixar o poder com índice inédito de popularidade, pouca valia tem seu apoio. A isso se soma a substituição gradual, por sua sucessora Dilma Wana Rousseff (PT-RS) – também, um produto de sua escolha pessoal -, de práticas e políticas que marcaram seu governo. Concretamente, o fracasso da gestão Luiz Inácio da Silva está explícito no abandono, paralisia, atraso e dificuldades de execução de seus principais planos, anunciados como a marca de seu governo (2003-10). Eles vão, de fato, moldando a marca de seu governo – a marco do fracasso.



COMO demonstra a reportagem do Jornal Valor Econômico, publicada no final de Setembro último - de um fracasso exemplar, articulado, minucioso, que quase nada deixa de positivo dos grandes projetos de Luiz Inácio da Silva na região em que nasceu e onde ele e sua sucessora obtiveram suas mais estrondosas vitórias eleitorais – a Região Nordeste. As deficiências desses projetos eram conhecidas. O que a reportagem do Jornal Valor Econômico acrescenta é que, frutos do apetite político-eleitoral do ex-presidente da República e da sistemática incompetência gerencial de seu governo, essas deficiências são comuns aos vários projetos.



FERROVIAS, rodovias, obras de infraestrutura em geral, a transposição do Rio São Francisco, refinarias petroquímicas, tudo foi anunciado com grande estardalhaço em seus oito anos de governo, com resultados eleitorais espetaculares para o PT e seus aliados, mas com pouco, quase nenhum proveito para o País até agora. Como se fossem partes de uma ação cuidadosamente planejada, essas obras têm atraso médio semelhante, enfrentam problemas parecidos e, todas, geram custos adicionais astronômicos para os contribuintes.



OS GRANDES empreendimentos do governo Luiz Inácio da Silva para a Região Nordeste somam investimentos de mais de R$ 110 bilhões. Excluídos os projetos cuja complexidade impede a fixação de novo prazo de conclusão, eles têm atraso médio de três anos e meio. Isso equivale a sete oitavos de um mandato presidencial. Obras que Luiz Inácio da Silva prometeu inaugurar talvez não sejam concluídas nem na gestão Rousseff (2010-14). Veja-se o caso das refinarias petroquímicas anunciadas para a Região Nordeste, a Premium I (no Estado do Maranhão) e a Premium II (no Estado do Ceará), que devem custar quase R$ 60 bilhões. A refinaria do Maranhão, cujas obras foram "oficiosamente" iniciadas em Janeiro de 2010, deveria estar pronta em 2013, mas agora está classificada como "em avaliação" pela Companhia pública Petróleo do Brasil (Petrobrás S/A), ou seja, já não é nem mesmo certo que ela será construída. A Refinaria do Ceará, lançada em Dezembro de 2010, deveria estar pronta em 2014, mas foi adiada sua conclusão para as calendas.



ESTA refinaria que está em obras, a Refinaria de Abreu e Lima, no Estado de Pernambuco, transformou-se num poço de problemas e atrasos. Resultado de um acordo que Luiz Inácio da Silva fez com o caudilho venezuelano Hugo Chávez, a refinaria deveria ser construída em parceria pela Petrobrás S/A e a companhia estatal petrolífera venezuelana, a PDVSA, mas esta, até o momento, não aplicou nenhum centavo. O custo previsto atualmente para a obra equivale a cinco vezes o orçamento original.



NA área de infraestrutura, estão atrasadas as duas ferrovias em construção na Região Nordeste, a Ferrovia Nova Transnordestina, com 1.728 quilômetros, e a Ferrovia Oeste-Leste, que se estende de Ilhéus, no litoral do Estado da Bahia, até Figueirópolis, no Estado do Tocantins. A primeira, que teve substituída a empreiteira, tem um trecho paralisado no Estado do Ceará e enfrentou problemas com o atraso na liberação de recursos, mas seu andamento, assim mesmo, é considerado "adequado" nos balanços periódicos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do qual faz parte. Pode-se imaginar a situação da segunda, considerada "preocupante" pelos gestores do PAC.



A TRANSPOSIÇÃO do Rio São Francisco, cujos problemas têm sido apontados com frequência em nossas reportagens, faz parte desse conjunto. O que ele exibe é uma sucessão de projetos incompletos, contratos mal elaborados, descuido da questão ambiental, fiscalização inadequada. O resultado não poderia ser diferente: atrasos, paralisação de obras por órgãos ambientais, aumento de custos. É parte da herança deixada pelo governo Luiz Inácio da Silva.