Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Sem lastro

Depois de cumprir um mandato de 4 anos no cargo de Diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), O engenheiro Jerson Kelman deixa o posto nesta 3ª feira, 13/01. Kelman é aquele mesmo profissional que alertou o, então, presidente da República Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) para o risco de racionamento de eletricidade em 2001; e mais tarde chamou a atenção do residente da República Luiz Inácio da Silva (2003-10) para um perigo semelhante, em janeiro de 2008.

Sua presença na chefia da agência reguladora, neste (des) Governo conhecido pelo empenho em manter esse tipo de autarquia subordinado aos interesses políticos do Executivo, já soava duvidosa. Mais duvidosa seria uma indicação do presidente da República para sua permanência no cargo, na renovação do mandato.

Kelman foi Diretor-geral da Agência Nacional de Águas (Ana) no seu nascedouro, no Governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP). Era um técnico em melhores condições para alertar o Executivo sobre o risco de crise de abastecimento de energia. Agiu com discrição peculiar antes da crise. Mas foi bastante claro quando produziu um relatório sobre o “apagão” expondo os fatos de maneira transparente: a crise não se deveu apenas à estiagem prolongada, como também a insuficiência de investimento.

Há tempos a administração Luiz Inácio da Silva vem deixando de aparelhar as agências reguladoras, enfraquecendo organismos importantes para a segurança dos investidores para o planejamento estratégico de longo prazo e tranqüilidade dos consumidores (como é o caso da Agência Nacional de Aviação Civil – Anac; e da Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel).

Jerson Kelman foi uma exceção num governo dominado pela “república do compadrio sindical de boteco” disposta a ágil como subordinada ao primeiro mandatário deste País. Quando alerto do risco de novo apagão em 2008 Kelman previu algo com alguma conseqüência bem maior que o corrido em 2001; e sua previsão não se confirmou porque com a ajuda de São Pedro as chuvas caíram em março de 2008. E o Governo preferiu, enquanto havia o risco, evitar a impopularidade de qualquer ação preventiva. Agora que Kelman se vai, menos preocupações desse tipo haverá neste governo.