Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Publicação descuidada

UMA PUBLICAÇÃO dos dados sobre a produção industrial regional trouxe uma anomalia que o corpo técnico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deveria esclarecer, pois indicaria que a queda de 0,2% para o conjunto do País poderá ser revisada.

ENTRE OS 14 Estados da Federação analisados pelo IBGE, em apenas 5 houve queda industrial - Pará, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina. Três deles são importantes exportadores de minério de ferro, produto de baixo valor. Somente 2 têm uma produção significativa de manufaturados - Minas Gerais e Espírito Santo.

PARA compensar, Estados com peso importante na produção de bens com alto valor agregado - São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e, em menor proporção, Pernambuco e Bahia - tiveram crescimento positivo, o que parece contradizer o resultado nacional de queda de 0,2%.

O QUE mais nos intriga é o fato de o Estado de São Paulo, que apresentou, em Novembro, um aumento da produção industrial de 1,6% e cuja participação na produção nacional é de 40%.

O IBGE não nos forneceu nenhuma explicação (apesar de solicitada) sobre essa anomalia, parecendo indicar que os funcionários do Instituto não haviam notado a discrepância que, aliás, teria justificado uma explicação junto mesmo com a publicação do documento.

TAL COMPORTAMENTO nos leva a pensar que os dados de Novembro de 2009 serão modificados, fato importante para o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), sabendo que o resultado de Novembro surpreendeu e afetou as decisões dos industriais, muito atentos à formação de estoques acima do normal.

É INEGÁVEL que os institutos de estatísticas do País têm um papel importante na orientação dos negócios. A rapidez em divulgar dados estatísticos é louvável, mas caberia alertar que se trata de dados incompletos, que serão revisados, e até indicar os pontos frágeis do levantamento. Hoje, os mercados financeiros e econômicos reagem mais à diferença entre as previsões e a realidade do que ao dado efetivamente publicado. Pode-se dizer que esse é o maior fator de especulação que, porém, faz muitos estragos.

DE NOSSA parte, não se trata de condenar aqui as previsões ou a divulgação de dados que serão modificados, mas apenas de exigir das instituições de estatísticas, de um lado, uma clara explicação quanto aos meios utilizados para o levantamento dos dados e, de outro, maior humildade diante dos resultados, tomando o cuidado de não os utilizar para fazer previsões sem explicar suas fragilidades.