Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, março 16, 2010

Bazófia educacional

DURANTE o discurso que fez, no Estado da Bahia, no final da última semana, o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), voltou a afirmar que passará para a História como o governante que mais investiu na expansão do Ensino Público Superior, tendo criado 13 novas Instituições Federais de Ensino (IFEs) e encaminhado ao Congresso Nacional o projeto de criação de mais uma, a Universidade Federal da Lusofonia Afro-Brasileira. Até agora, o recorde era detido pelo ex-presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, em cujo governo (1955-60) foram criadas 10 IFEs. Segundo dados do Ministério da Educação (MEC), durante os dois mandatos do lullismo os gastos da União Federal no setor dobraram, passando de R$ 9,9 bilhões para R$ 18,3 bilhões (em valores nominais). A Oposição, no entanto, observa que na relação das novas IFEs estão incluídas instituições que ainda não funcionam, como a Universidade Federal da Fronteira do Sul (UFFS), a Universidade Federal de Integração Latino-Americana (UFLA) e a Universidade Federal do Oeste do Paraná (UFOPR), e outras que, por causa da campanha eleitoral, foram inauguradas às pressas, não dispondo de edifícios, acessos, equipamentos e até de professores. Esse é o caso da Universidade do Vale do Jequitinhonha (UFVJ), que ainda não têm corpo docente, e Universidade Federal do ABC-Paulista (UFABC), que funciona em meio a um canteiro de obras atrasadas. O campus de Santo André (SP), que estava planejado para ser entregue em 2009, só deverá estar concluído em 2011.


ESSA pressa com que o governo vem inaugurando o que ainda não existe, motivado por razões eleiçoeiras, é um dos aspectos do problema. Outro aspecto diz respeito à utilidade das novas universidades federais. Muitas delas operam com altas taxas de ociosidade, o que revela que sua criação era desnecessária. Outras, por estarem desaparelhadas, apresentam altas taxas de evasão. São universidades que não atendem às exigências dos alunos mais qualificados, que acabam se transferindo para instituições melhores, nem conseguem reter os estudantes beneficiados pelo sistema de cotas, que chegam despreparados da rede pública de ensino médio.


DE UMA primeira turma que entrou na Universidade Federal do ABC, em 2006, por exemplo, 46% dos estudantes desistiram. Em várias instituições de Ensino Superior mantidas pela União Federal, a taxa média de ociosidade tem ficado em torno de 20%. E a terceira e última etapa de inscrições no Sistema de Seleção Unificada (SiSU) para 51 Universidades Públicas Federais, que permite a matrícula com base nas notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), começou com quase metade das vagas ainda disponíveis. Das 47,9 mil oferecidas, só haviam sido preenchidas até então cerca de 26,2 mil.


E MUITO apesar das bazófias do “CARA!”, que se gaba de ter expandido a rede de IFEs e promovido a interiorização de campi universitários, a ponto de o MEC estar ainda hoje gerindo obras em 104 cidades, fica evidente que a política educacional de seu governo foi equivocada. Em outras palavras, ela errou o alvo. As taxas de ociosidade das IFEs, apesar de serem mais baixas do que as das Instituições Privadas e Confessionais do Ensino Superior, revelam que um dos principais gargalos do sistema educacional está no precário Ensino Médio, que não forma estudantes qualificados em número suficiente para preencher as vagas propiciadas pela expansão do ensino superior.

SEGUNDO dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), no final de 2007, o número de formandos do Ensino Médio ficou em torno de 1,7 milhão de jovens, enquanto no início de 2008 o Ensino Público Superior, Privado e Confessional oferecia 2,9 milhões de vagas para ingresso. Para as autoridades educacionais, a ociosidade, nas Universidades Públicas Federais, é um problema passageiro e, a médio e longo prazos, o Ensino médio e o Ensino superior passarão por um natural "processo de alinhamento".


TAL ARGUMENTO, porém, não convence. A verdade é que, tendo gasto recursos escassos com a contratação de milhares de professores para o Ensino Superior e a construção de novos campi, além de ter perdido tempo com uma demagógica e malograda proposta de reforma universitária, o governo Luiz Inácio da Silva (2003-10) não estabeleceu prioridades corretas no campo da Educação. Por isso, não tem maior significado o recorde que “O-CARA!” se orgulha de ter quebrado, superando JK. Ao investir na meta errada, o lullismo nada mais fez do que promover um enorme desperdício de dinheiro e potencial humano.