Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

terça-feira, março 03, 2009

Arte fulanizada

Como explicar tanta unanimidade em torno de um filme como aconteceu com (Slumdog Millionaire) "Quem quer ser um milionário?". Alguns críticos dizem que ele foi feito da maneira certa, no momento certo, ou seja, com um orçamento enxuto num momento de crise. O diretor Danny Boyle, resolveu apelar para o realismo total sem efeitos especiais ou tecnologia sofisticada. Um filme de ator, como diriam alguns.



O melhor é que muitos nem eram atores de verdade. Os personagens foram interpretados por gente desconhecida. A maioria indianos, alguns até que vivem na miséria das favelas de Mumbai, na Índia, chamados de "Slumdogs". O casal protagonista, apesar de ter feito algumas participações na "Bolywood" dos indianos ainda não tinham feito o "crossover" para a Hollywood dos americanos. Agora, com tanto sucesso, ambos já têm convite de trabalho em produções nos Estados Unidos da América (EUA).



Desde que começou a concorrer em festivais de cinema pelo mundo em 2008, o filme foi premiado dezenas de vezes. Só no Globo de Ouro foram cinco e no Oscar, 8 estatuetas. Um fenômeno daqueles que só acontecem de vez em quando, mesmo assim envolvendo grandes e luxuosas produções, como o "Titanic" por exemplo, que levou 11 Oscar, mas custou US$ 200 milhões. Slumdog, custou US$ 5 milhões e levou 8. Se levarmos em conta a relação custo/benefício …





A verdade é que "Quem quer ser um milionário?" conseguiu que Hollywood fizesse um mea culpa ao derrubar seus muros, deixando entrar em seus salões de premiação, uma nova cultura, uma concepção de cinema mais realista e verdadeira, sem muitos efeitos ou artifícios, revelando a vida como ela é em cada canto do mundo.




Mas, mesmo sem ter o filme anglo-indiano lançado no Brasil, já tem gente dizendo que o diretor de "Slumdog" se inspirou no nosso "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, ao ambientar a história em favelas e na relação entre dois irmãos. Danny Boyle, o diretor inglês, não gosta nem um pouco quando tocam nesse assunto e nega qualquer comparação.



Bem, eu vi os dois filmes e confesso que fora o clima de miséria e a vida dura do menor carente, características evidentes em países como o Brasil e a Índia (em edição piorada no segundo), não vi semelhança alguma entre os dois filmes. São histórias parecidas, mas completamente diferentes.



A principal diferença talvez esteja no fato de que no filme brasileiro é a violência pela violência o tempo todo, não há uma dosagem de lirismo, de romantismo. O público não tem direito a nem um momento de relax ou de se deliciar com um fundo musical alegre embalando situações mais leves. Não existem os dois lados. É só um e este é duro demais.




Em "Slumdog" o diretor consegue misturar a dor da miséria à esperança do reencontro de um grande amor sem cair na mesmice de um romantismo gratuito e muito menos no melodrama e na pieguice, muito comuns quando o assunto é amor no cinema.




O importante é que tanto "Cidade de Deus" como "Quem quer ser um milionário?", deram sua contribuição social, mostrando que é possível encher as salas de cinema com produções de baixo custo e realistas, bem mais próximas do momento de instabilidade que o mundo está vivendo. Além disso, mais carente e vulnerável diante dos tempos difíceis, o público fica mais sensível aos problemas do dia a dia de quem quer apenas sobreviver.