Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, junho 06, 2011

Sentença final

"O SILÊNCIO vale ouro", diz um velho ditado popular universalmente conhecido. As virtudes da contenção verbal no comportamento humano são louvadas nas mais diferentes culturas mundo afora. Mas, em relação ao silêncio de que se fala sem parar neste grande e bobo País de três semanas para cá, a evocação do nobre metal é despropositada. Se for para associar ao reino mineral a mudez do ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Antonio Palocci Filho (PT-SP), sobre o seu estupendo enriquecimento entre a sua saída do Ministério da Fazenda, no governo Luiz Inácio da Silva (2003-10), em 2006, e até pouco antes de assumir a chefia da Casa Civil no governo Dilma Rousseff (2001-14), em 01 de Janeiro último, a comparação certa é com a pirita, o ouro dos tolos, por sua enganadora cintilação.

DE TOLINHO, o senhor ministro de Estado não tem nada. Por isso mesmo, a sua a confusa e nada convincente explicação ao povo deste pobre e bobo País, como fez fortuna de forma limpa e ética levou a uma situação-limite as suas condições de continuar no cargo de ministro de Estado deste governo. Tanto por desfigurar a positiva imagem pública que a sua chefe vinha construindo nos meses que antecederam a crise quanto por expô-la ao desmedido apetite da alcateia com que tem de se haver no Congresso Nacional. Além disso, cada vez mais inquieto com a perspectiva de novos danos ao governo, o Partido dos Trabalhadores (PT) já não se limita a manter profilática distância do escândalo - como, aliás, fez a presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), logo na sua irrupção.

NOS bastidores, parcela talvez substancial dos companheiros do lullopetismo tampouco fica apenas no chamamento do ministro de Estado às falas. A demanda tem sido a sua substituição - e o rol de nomes já corre solto para o seu cargo na Esplanada dos Ministérios. A manifestação mais comentada foi a da senadora Gleisi Hoffmann (PR-SC). No almoço da bancada com o ex-presidente Luiz Inácio da Silva (PT-SP), semana passada, quando ele se abalou a Brasília (DF) para aplacar os atritos entre Rousseff e a caciquia do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), ela teria pedido a cabeça do ministro Palocci. Esposa do atual ministro de Estado das Comunicações, Paulo Bernardo (PT-SC), que está na lista dos eventuais sucessores de Palocci na Casa Civil da Presidência da República, teria argumentado que uma coisa era amparar os petistas envolvidos com o Mensalão - que, afinal, operavam em benefício do PT -, outra é defender quem se dedicou a engordar o próprio patrimônio. Hoffmann desmente.

QUANDO também se reuniu com os companheiros senadores, Palocci Filho disse que os seus serviços de consultoria consistiam em palestras, análises de alternativas de investimentos financeiros e assessoria para empresas interessadas em fusões. Decerto não esperava que um de seus ouvintes, o senador da República, Eduardo Matarazzo Suplicy (PT-SP), viesse a revelar candidamente que o ministro Palocci Filho contara ter recebido R$ 1 milhão por seus conselhos a uma empresa em processo de fusão. O ministro de Estado, de todo modo, insistiu em que não praticou nenhuma ilegalidade - e acusou a Oposição de fabricar pretextos para desestabilizar o governo Rousseff. Para não se prestar a esse jogo, a base aliada faz bem em impedir as tentativas de convocá-lo a depor no Congresso Nacional.
PORÉM, na última Quarta-feira, 01, prova da desarticulação política da coalizão governista, a base "engoliu vergonhoso frango" - para usar a retórica de lullista - ao deixar passar uma daquelas iniciativas na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. Alheio à agenda de sessões naquela Casa e esquecido de que a Oposição não desistira de aproveitar todas as brechas disponíveis para requerer a oitiva de Palocci, assessores da Presidência da República marcaram um encontro do Conselho Político com dona Rousseff naquela mesma Quarta-feira, 01, em que as comissões dos deputados federais se reúnem rotineiramente. Na Comissão de Agricultura, a convocação de Palocci foi aprovada a toque de caixa, em circunstâncias controversas. O presidente da Câmara dos Deputados, o petista Marco Maia (PT-RS), sustou a decisão. Não o terá feito por Palocci, mas por dever de ofício - a Oposição não pode prevalecer sobre o governo, ponto.

PALOCCI Filho já tinha feito saber que se pronunciaria assim que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, desse o seu parecer sobre as representações oposicionistas contra ele e as suas réplicas por escrito. A situação se complicou quando o procurador não se contentou com as explicações dadas até agora e pediu ao acusado esclarecimentos adicionais. Mas não é por aí que se decidirá a atual crise. Em todos os lados, as reservas de boa vontade com Palocci parecem esgotadas. Cabe à presidente Rousseff lavrar a sentença final.