Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

sábado, junho 27, 2009

Saudoso Peter Pan da vida real, au revoir!

REI DO POP, dono do disco mais vendido da história, inventor do videoclipe, maior entertainer vivo. Muitos são os adjetivos para se referir a Michael Joseph Jackson, que morreu na última Quinta-feira, 25, aos 50 anos, após sofrer uma parada cardíaca em sua mansão,”Neverland” (Terra do Nunca) em Los Angeles, na Califórnia . O artista, que vendeu 750 milhões de álbuns e venceu 13 prêmios Grammy, encarou os holofotes logo cedo, e teve uma vida marcada por duas constantes, com a mesma grandeza e proporção: sucesso e polêmica.
JACKSON nasceu em 29 de agosto de 1958, em Gary, no Estado de Indiana. Ele tinha três filhos: Michael Joseph Jackson Jr., Paris Michael Katherine Jackson e Prince Michael Jackson II. O cantor saiu do anonimato ao lado de seus quatro irmãos - Jackie, Tito, Jermaine, Marlon - à frente do grupo Jackson Five, que emplacou consecutivos sucessos nas paradas durante as décadas de 1960 e 1970. Em 1974, o grupo veio ao País para apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília e Belo Horizonte. Porém, foi sozinho que Jackson viveu o auge e a decadência de sua carreira.
 
COM o lançamento do álbum Off The Wall - seu primeiro solo em 1979, que arrancou elogios da crítica ao combinar R&B, Black Music e Disco - o cantor começou a experimentar uma exposição cada vez maior na mídia, que se culminaria em 1982, com Thriller, até hoje o CD mais vendido do mundo, com cerca de 100 milhões de cópias. Em 16 de maio de 1983, Jackson apresentou ao mundo o moonwalk, passo de dança em que o cantor deslizava sobre o palco, durante a canção Billie Jean, em um show em Los Angeles (EUA). Estava imortalizada sua marca registrada.
 
COM THRILLER também começou a era de videoclipes na TV, a partir das superproduções exibidas na MTV, emissora que acabara de despontar. Em 1984, Jackson recebeu das mãos de Ronald Reagan, então presidente da República dos Estados Unidos da América (EUA), um prêmio por suas ações filantrópicas. No ano seguinte, ele adquiriu, por US$ 47,5 milhões, os direitos sobre as músicas dos Beatles (uma década depois, ele vendeu 50% do catálogo para a Sony Music). O emblemático gesto é visto mais do uma simples demonstração de poder financeiro: era uma lenda pop comprando a obra de outra. Nesta época, o cantor também gravou parcerias com o ex-Beatle Paul McCartney. (“The Girl is Mine” e “Say Say Say”). 
 
MESES ANTES de lançar seu próximo álbum, Jackson se juntou a 44 celebridades para gravar a canção We Are The World, com o objetivo de levantar fundos para a África. Como resultado, além dos US$ 200 milhões arrecadados para a campanha USA For Africa, o astro levou mais dois Grammys.
 
EM 1987, entre uma turnê e outra, veio seu terceiro álbum solo, Bad. Apesar de não repetir o sucesso estrondoso do anterior - vendendo "apenas" cerca de 30 milhões de cópias - o disco manteve Jackson em rotação máxima nas rádios e TVs do mundo. Foi nessa época que as especulações sobre quantas cirurgias plásticas o cantor já teria feito começaram a tirar a atenção de sua música. O astro aparecia cada vez mais branco e suas feições já estavam diferentes. As mudanças não passaram batido pela Imprensa e anos depois, em 1993, Jackson admitiu na TV norte-americana que a sua "nova cor" era consequência do já acelerado estágio do vitiligo - explicação que foi contestada por muitos.
  
EM 1991, Jackson lançou Dangerous, álbum cujo título parecia prenunciar o perigoso declínio que a carreira do astro estava prestes a enfrentar. Logo no primeiro single, Black Or White, o cantor brincava com a discussão sobre a mudança da cor de sua pele ("Se você estiver pensando em ser minha, não importa se é branca ou preta", dizia o refrão), mas o disco não emplacou no mercado norte-americano da mesma maneira que os anteriores, pelas mudanças trazidas pelo grunge de Nirvana e Pearl Jam, que agora comandavam paradas. Resultado: "só" 7 milhões de álbuns vendidos nos EUA.
 
DOIS ANOS depois, Jackson estava ocupado na turnê de promoção do disco - que o traria ao País para dois shows em São Paulo, em outubro de 1993 - quando uma denúncia veio à tona. O pai de Jordan Chandler, de 13 anos, afirmava que o cantor havia molestado seu filho no rancho de Neverland, excêntrica residência do artista que contava com seu próprio parque de diversões. Jackson negou veementemente as acusações na TV norte-americana e, depois, fez um acordo judicial de US$ 22 milhões com a família de Chandler para tentar encerrar a polêmica. Não conseguiu: nos próximos anos, mais denúncias de pedofilia iriam obscurecer seu prestígio artístico.
 
EM 1994, casou-se com Lisa Marie Presley, filha do rei do rock, Elvis, em um matrimônio que durou dois anos e foi visto pela imprensa como uma tentativa de deixar para trás a má fase vivida pelas denúncias do escândalo de pedofilia. Um ano depois, lançou um disco duplo (HIStory: Past, Present and Future) que teve a maior campanha de marketing já usada na indústria fonográfica e, mesmo vendendo cerca de 30 milhões de cópias, decepcionou a gravadora. Um dos clipes do disco (They Don't Care About Us) foi gravado no Pelourinho, em Salvador. Em 1996, casou-se com a dermatologista Deborah Rowe, com quem teve dois filhos: Michael Joseph Jackson Jr e Paris Katherine Jackson. Terminado o relacionamento, Deborah abriu mão da guarda das crianças para Jackson.
 
NOS ANOS seguintes, novamente a polêmica tomaria o lugar do sucesso. Em 2001 veio Invincible, disco que resultou numa queda de braço com a Sony, que tomou decisões sobre a divulgação do trabalho a contragosto do cantor. Jackson alegou preconceito por ser um artista negro e o CD vendeu “apenas” 10 milhões de cópias no mundo todo, tornando-se o menos vendido de sua carreira.
 
EM 2002, o cantor teve seu terceiro filho, Prince Michael Jackson II, cuja mãe foi mantida em segredo. Um ano depois, outra denúncia de pedofilia: a família do adolescente Gavin Arvizo acusou o astro de ter molestado o filho em Neverland. Em junho de 2005, Jackson foi absolvido pela Justiça norte-americana por falta de provas.
 
DE LÁ para cá, foram raras as aparições do cantor, embora seu catálogo estivesse sendo amplamente explorado pela Sony, que lançou várias coletâneas. Neste ano, ele anunciou 50 shows em Londres, cujos ingressos se esgotaram em questão de horas. Segundo Jackson, seriam suas últimas apresentações. A morte, porém, não permitiu que o Rei do Pop se despedisse oficialmente dos palcos, e veio da mesma maneira que seu sucesso: fugaz, precoce e incontestável.

MICHAEL JACKSON mudou a história da música no século 20, tanto quanto os Beatles, os Rolling Stones ou Bob Dylan. Sem ele, teria sido mais difícil para Justin Timberlake, Ashanti, Jay-Z, Madonna, Beyoncé, Britney, Ja Rule e mesmo Eminem. Todas as boys band, de Boyzone a New Kids on the Block, deveriam pagar royalties para Michael Jackson. Não só pelos passos de dança que ele inventou (como o moonwalk, aquele jeito de parecer que está deslizando para trás numa escada rolante), mas pelo fato de que ele ajudou a quebrar o preconceito de gerações em relação à música pop, sobretudo pelo fato de o pop praticamente empurrar a estrela para o mundo da dança e da encenação nos palcos.
 
HÁ 26 anos, quando lançou o disco Thriller, inscreveu definitivamente seu nome na história da música, mas sua obra-prima não foi o único momento em que vitaminou a música popular (Off the Wall e Bad são igualmente impressionantes). Já criança, com os irmãos Tito, Jermaine, Jackie, Marlon e Randy, balançou os alicerces da música negra norte-americana nos anos 1970.
LOGO depois, em carreira-solo, trouxe os códigos do hip-hop para uma região confortável da música, isso quando o hip-hop ainda não era o mainstream. Flertou com o heavy metal, trazendo outro maluco famoso, Slash, do Guns N’ Roses, para tocar consigo. Também rompeu barreiras sociais, integrando sons do gueto e do povo com as tramas da alta sociedade.
 
O REI do Pop criou as regras prototecnológicas do moderno espetáculo de arena, e foi seguido por outros de sua geração, como Madonna, U2 e mesmo os Rolling Stones. Nos anos 1980, tornou-se o primeiro artista afro-americano a entrar de sola na grande janela da adolescência branca com seus videoclipes insuperáveis, como Beat It, Billie Jean e Thriller. No ano passado, ao fazer 50 anos de idade, Jacko, como era mais conhecido, tinha deixado de ser gênio para ser só excêntrico. Fez discos a custos astronômicos (Invincible, um dos mais recentes, teve gasto de US$ 30 milhões, o que fazia cada cópia do álbum custar uma fortuna).
 
FORA de forma e com a saúde abalada, voltou a fazer shows e anunciou 50 apresentações em Londres até março de 2010 - precisava pagar contas atrasadas, que eram muitas. Michael Jackson esteve no Brasil em 1993 e depois voltou para gravar videoclipe com o grupo baiano Olodum. Andou pelo morro Dona Marta, no Rio de Janeiro e pelo Pelourinho, em Salvador (BA), como para reencontrar algum elo fundamental que o reengatasse com seu passado. Mas atropelou um garoto durante fuga dos paparazzi em São Paulo (SP) e ficou em choque.
 
EXTRAVAGANTE, recluso, esquizofrênio, supostamente pedófilo e vítima de abusos do próprio pai na infância, teve a pele embranquecida, o rosto deformado pela sucessivas cirurgias plásticas e enfureceu os críticos. Peter Pan da terra do pop, criou o rancho da “Terra do Nunca” para perpetuar sua busca de um Eldorado onde o tempo não corre. Amigo de outros esquisitões do star system, como Liz Taylor, Donna Summer, Diana Ross, Naomi Campbell e Macaulay Culkin, foi execrado e amado na mesma intensidade. Quando exibiu os filhos na janela de um hotel, perigosamente, passou o atestado definitivo de insanidade aos seus insaciáveis críticos.
 
MICHAEL JACKSON passou a vida surpreendendo as pessoas, e nos anos recentes nos espantou mais por sua capacidade de causar escândalos e por sua vida pessoal (cirurgias plásticas, acusações de desvios sexuais, dívidas impagáveis) do que por seu talento, que era imenso.