Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, junho 20, 2010

A primeira vítima do cipoal de rivalidade e estupidez

O “CARTOLA-MOR” do futebol brasileiro, Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo Fifa’ 2014, fez questão de deixar claro que não existe o risco de a maior cidade do Brasil ficar fora da competição. A declaração de Teixeira foi colhida pela nossa reportagem exatamente no mesmo dia em que a Federação Internacional de Futebol (Fifa) anunciou a exclusão do Estádio do Morumbi da Copa do Mundo que será realizada no Brasil em 2014. "A cidade de São Paulo é imprescindível para a Copa do Mundo. Vai ter uma posição de destaque na competição. A abertura tem de ser lá, com uma grande festa", disse o “cartola” da CBF na África do Sul, onde acompanha a delegação brasileira na a atual competição em andamento.

DE FATO é muito difícil de imaginar uma Copa do Mundo de Futebol sem a maior e mais rica metrópole do País e da América do Sul, mas é exatamente para isso que se caminha, ao se deixar o Estádio do Morumbi de fora a esta altura dos preparativos, independentemente das razões que levaram a essa decisão. Não será fácil encontrar uma solução para o problema, principalmente tendo em vista que parece fora de cogitação que se coloque dinheiro público na construção de um novo estádio, que vai depender assim do capital privado. Estariam os donos desse capital dispostos a correr o risco, que é alto, de entrar numa empreitada como essa, que envolve algumas centenas de milhões de dólares?

O QUE os brasileiros em geral - que evidentemente esperam que o País "faça bonito" na Copa de 2014 -, e especialmente os paulistas se perguntam é como e por que se chegou a essa situação. Alegam os representantes da Fifa e do COL que a responsabilidade pelo desfecho desse caso cabe ao São Paulo Futebol Clube (SPFC) - tricampeão mundial, tricampeão da Taça Libertadores da América e hexacampeão brasileiro de futebol -, que é o proprietário absoluto do Estádio do Morumbi, cuja diretoria não apresentou as garantias financeiras necessárias para o projeto de reforma do estádio - destinada a adaptá-lo às exigências da competição -, de R$ 630 milhões. Em vez disso, acrescentam, apresentaram outro projeto, mais modesto, de R$ 265 milhões.

A DIRETORIA do São Paulo Futebol Clube, claro, nega essa versão. Seu presidente, Juvenal Juvêncio, afirma que aquela decisão foi tomada de forma arbitrária exatamente no momento em que o clube tinha acabado de apresentar um projeto de reforma do Morumbi "absolutamente aderente às exigências da Fifa, suportado por um plano de viabilidade financeira ratificado pelo Comitê Paulista e apoiado em seguras garantias oferecidas pela iniciativa privada".

NESTE ponto a que chegou a questão não importa mais saber quem tem ou não razão, e em que medida, até porque seria muito difícil determinar a responsabilidade de cada um nesse cipoal de rivalidades e disputas de poder e influência que é a relação dos clubes de futebol entre si e com a CBF e a Fifa. Rivalidades e disputas que crescem à medida que o futebol se transforma num negócio bilionário. Infelizmente, isto é o máximo que se pode obter como resposta à pergunta sobre como e por que se criou esse imbróglio.

O QUE de fato importa é saber se existe uma solução para não deixar São Paulo fora da Copa do Mundo Fifa em 2014. Ideias não faltam: reformar e adaptar às exigências da Fifa o Estádio Municipal do Pacaembu e o Estádio do Palmeiras, construir um novo estádio do Corinthians, em Itaquera ou em Pirituba, cujo projeto, de custo total de R$ 700 milhões, já teria financiamento certo de R$ 400 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

TODOS esses projetos já apresentados esbarram na pergunta decisiva - quem vai investir neles, pagar a conta? Sobre o projeto alternativo ao Morumbi, qualquer que seja ele, e sua viabilização, Teixeira diz que "esse é um assunto pertinente às autoridades públicas de São Paulo". Ele está completamente enganado, como já fizeram questão de esclarecer a Prefeitura Municipal da Cidade de São Paulo e o governo do Estado de São Paulo. Esta é uma posição correta, da qual ambos não devem se afastar, apesar das fortes pressões que certamente sofrerão. O governo municipal e o governo estadual têm coisas muito mais importantes para investir dinheiro público do que em um estádio de futebol como o que se deseja; que custa centenas de milhões e depois da Copa em 2014 tem tudo para se tornar um “elefante branco”, fonte de prejuízo permanente.

TEIXEIRA e outros “cartolas” do esporte devem procurar a iniciativa privada para resolver o problema que criaram.