Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, dezembro 12, 2011

As negociatas do Doutor Pimentel

TODAS essas “consultorias” prestadas pelo Professor Doutor Fernando Damata Pimentel (PT-MG), em 2009 e 2010, quando não ocupava cargo público forçaram, por inevitável, comparações entre seu caso e o caso do deputado federal Antônio Palocci Filho (PT-SP), ex-ministro chefe da Casa Civil da Presidência da República, que mal pôde assumir de fato o posto no governo Dilma Rousseff (2011-14), pois foi obrigado a se afastar do governo devido a explicações não fornecidas por ele também sobre consultorias.


NAS duas histórias não há, em si, ilegalidades na prestação dos serviços. Pimentel, formalmente na vida privada, tinha todo o direito de buscar o sustento; Palocci Filho, mesmo com mandato de deputado federal, não atropelou barreiras legais ao exercer este tipo de atividade.


MAS o quadro fica menos simples quando se entra em nuances. Recolher os devidos impostos cobrados sobre as notas fiscais emitidas não resolve a questão. Palocci Filho foi forçado a sair da chefia da Casa Civil da Presidência da República porque optou por manter a lista de clientes em segredo, algo natural e aceitável em consultorias profissionais, mas não se o consultor é uma pessoa influente no partido político no poder, ex-ministro poderoso e que recebeu pagamentos de clientes durante a campanha política da presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), da qual era coordenador. E a caixa registradora da firma de Palocci funcionou mesmo quando dona Rousseff já ganhara o pleito presidencial de 2010, e ele era o virtual chefe da Casa Civil do novo governo instalado em Janeiro último. Não havia alternativa a não ser a demissão da chefia da Casa Civil da Presidência da República.


FERNANDO Damata Pimentel também não era um consultor qualquer, como têm revelado a reportagem a nossa reportagem. Ex-prefeito municipal de Belo Horizonte (MG), parte-chave na montagem de uma frente política plural com a participação do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) liderado em Minas Gerais pelo então governador do Estado e agora senador da República, Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG), Pimentel se manteve influente na Capital mineira com a eleição do prefeito Marcio Lacerda (PSB-MG), candidato da frente, na sua sucessão em 2008. A ponto de Otílio Prado (PT-MG), exonerado do cargo de assessor pelo prefeito Pimentel, a horas do fim do mandato, ter sido renomeado no mesmo posto pelo prefeito Lacerda. Prado era sócio do atual ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Damata Pimentel, na P-21 Consultoria e Projetos Ltda.


DO Palocci Filho não se conheceram os clientes. De Pimentel sabe-se bem mais, e o quadro não o favorece, porque há indícios da prática de lobby junto à Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH), bem como de coleta de dinheiro “não contabilizado” para caixa dois político-partidário.


E NÃO ajuda o ministro Pimentel o fato de ter prestado consultorias em 2009 por exemplo, para a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), quando sempre foi notória sua ligação pessoal com a então ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Dilma Rosseff, já cotada para receber o "dedazzo" do então presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP). O empresário Robson Andrade, então presidente da Fiemg, o cliente, explicou que os serviços de Pimentel foram contratados para preparar projetos a fim de serem apresentados também ao governo federal. Hoje, Andrade é presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).


ESTE caso de Fernando Pimentel não pode ser incluído na safra de escândalos em que uma miríade de Organizações Não-Governamentais (ONGs) foi usada para roubar dinheiro público. Ou colocado no mesmo plano dos balcões de negociatas, abertos por partidos em ministérios para superfaturar compra de bens e serviços pelo governo, e embolsar a diferença.


O PROBLEMA do Ministro Fernando Pimentel se encaminha para ser enquadrado no escaninho dos desvios de conduta observados entre quadros do Partido dos Trabalhadores (PT). Não será o primeiro desvio moral causado em hostes petistas devido à proximidade descuidada entre interesses políticos e negócios.