Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

domingo, maio 27, 2018

Erram todos

HOJE, sétimo dia do Lockout dos caminhoneiros que levou o caos a todo o País, as forças militares federais utilizadas para liberar rodovias bloqueadas pelos manifestantes começaram a mostrar a que vieram. Já não era sem tempo.


PARECE obvio, mas nenhuma reivindicação é justa o bastante para legitimar a absurda agressão cometida pelos caminhoneiros contra todos os brasileiros, cujo cotidiano foi severamente afetado pela paralisação. Mais grave ainda é o fato de que o lockout continuou a despeito dos esforços do governo federal e da diretoria da Petrobrás S/A para atender, naquilo que lhes competia e era possível, às demandas dos grevistas, numa espantosa demonstração de irresponsabilidade, que deve encontrar do poder público uma resposta à altura.


DIAS atrás ao anunciar o plano de segurança para desbloquear as estradas, com ajuda dos Estados, o presidente da República, Michel Temer (MDB-SP) disse que o governo não vai permitir “que a população fique sem os gêneros de primeira necessidade, que os hospitais fiquem sem insumos para salvar vidas e crianças fiquem sem escolas”. Segundo Temer, “quem bloqueia estradas de maneira radical será responsabilizado”. A Advocacia-Geral da União (AGU) acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para que a “greve” seja considerada ilegal, inclusive com pagamento de multa e cassação de licença.Em seu despacho o ministro do STF, Alexandre de Moraes, determinou o desbloqueio imediato das vias sob pena de multa de 100 mil por dia de bloqueio imposta aos sindicatos envolvidos no movimento. Será apurada ainda se os atos representam desobediência civil coletiva,


MAS tudo isso deveria ter sido feito muito antes, quando ficou claro que o movimento, um lockout, traria imensos transtornos em todo o País. Nesse sentido, o governo demonstrou lentidão excessiva para reagir à greve, permitindo que o movimento ganhasse força, a ponto de julgar-se em condições de chantagear toda a sociedade e de ignorar o acordo para encerrar o protesto. A propósito, é o caso de questionar onde estava a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), que não detectou a possibilidade de deflagração de um movimento dessa magnitude, cuja dimensão representa ameaça evidente à segurança nacional – com aeroportos fechados, carros da polícia sem combustível, desabastecimento generalizado e possibilidade concreta de tumultos em todo o País. É justamente para prevenir tais situações que a ABIN existe.


TAMBÉM é o caso de perguntar o que fazia esse tempo todo o ministro de estado das Minas e Energia, Moreira Franco (MDB-RJ), além de dar palpites demagógicos sobre a política de preços da Petrobrás. Ou então os governadores de Estado, que preferiram lavar as mãos apesar de serem parte considerável do problema, porque o maior peso tributário sobre o diesel é estadual. Por último, mas não menos importante, é o caso de destacar o lamentável papel desempenhado pelos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado Federal, Eunício Oliveira (MDB-CE), que, em vez de colaborar para o fim da crise, se entregaram, cada um a sua maneira, à mais rasteira política eleitoreira, na presunção de que sairíam fortalecidos caso o governo federal se enfraquecesse. O comando do Congresso Nacional está entregue a quem simplesmente não consegue entender o grave momento que o País atravessa.


ALÉM da evidente fragilidade do governo federal, do silêncio dos governadores de estado e do oportunismo de parlamentares que não enxergam além das urnas, a crise contou com a omissão do Ministério Público (MP), que, sempre tão ativo, desta vez mal se fez ouvir a respeito de greve tão danosa ao País. Para piorar, os governos estaduais tampouco mandaram cumprir as diversas ordens judiciais que proibiam o bloqueio de estradas.


NO meio de todo esse emaranhado de irresponsabilidades e omissões ficaram os brasileiros comuns, que estão há dias enfrentando um verdadeiro pesadelo. Não sabem se a gasolina no tanque do carro será suficiente, se haverá ônibus para ir ao trabalho, se os supermercados e as feiras ainda têm alimentos para vender, se as escolas vão funcionar, se os aeroportos vão abrir, se os hospitais terão condições de atendimento, se estradas e avenidas estarão livres ou bloqueadas. Um cenário como esse é característico de um país em guerra.


E, DE fato, o País está em guerra. De um lado, estão as corporações, os políticos venais e os viciados em subsídios e favores estatais; de outro, os brasileiros que trabalham e pagam impostos. Infelizmente, por ora, são estes que estão perdendo.