Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, junho 17, 2009

Nenhuma surpresa

A DECISÃO do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) satisfez ao vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP) cuja preocupação maior é manter "crescimento eleitoral". E mais ainda ao ministro de Estado da Fazenda, Guido Mantega (PT-SP), que, com uma taxa básica menor, paga menos juros pela dívida interna e com isso compensa a pressão exercida indiretamente pelo aumento da remuneração dos títulos norte-americanos. Até a diretoria do BC obtém vantagem com a nova Taxa Selic: reduz o custo de constituição de reservas internacionais.

SE A ATITUDE do Copom surpreendeu, ou tentou surpreender o mercado financeiro, ao reduzir a Taxa Selic de 1 ponto porcentual, num momento em que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) se mostra melhor do que o previsto, é de perguntar se as autoridades monetárias do País não teriam descoberto que os bancos tornam dispensável uma política monetária ortodoxa do Banco Central (BC), ao praticar juros tão elevados...

O EFEITO sobre a taxa cambial também pode ser benéfico, na medida em que reduz o incentivo à entrada de dólares no País em operações de arbitragem.

MAS EU pergunto: qual será o efeito dessa decisão corajosa do Copom sobre o custo do dinheiro? Portanto, sobre o crescimento da produção e do consumo?

NOS ÚLTIMOS meses as instituições financeiras não acompanharam, com suas taxas de juros, a redução da Taxa Selic. Pelas primeiras reações dos bancos, vê-se que pretendem fazer um corte muito modesto nas suas taxas e, de preferência, nas operações com pessoas físicas que oferecem mais alta rentabilidade.

DEPOIS disso se podem esperar dois efeitos: as empresas continuarão muito cautelosas em tomar créditos para investimento com juros muito superiores à rentabilidade que podem esperar das suas operações. E aos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) as pequenas empresas não têm acesso.

NA CONTRAPARTIDA, as famílias brasileiras, ao verificarem a redução das taxas (em grande parte insignificante), continuarão se endividando sem aproveitar a oportunidade para formar uma poupança com as taxas de remuneração das cadernetas de poupança. Isso cria o risco de um descasamento entre a demanda doméstica e a produção.

É TAREFA do Banco Central e do Governo conseguirem maior contribuição dos bancos para a redução do custo do dinheiro. O fato a destacar é que melhorou nossa posição no contexto internacional, no que se refere à comparação entre taxa de juros básica e inflação. Todavia não estamos convencidos de que tal melhora se consolide, quando se tomam por referência as taxas de juros efetivamente praticadas...