Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quinta-feira, setembro 07, 2006

Diga-me com quem andas...

WLADMIR ÁLVARO PINHEIRO JARDIM
RIO DE JANEIRO



Dias atrás, alguns artistas procuraram redefinir o ditado "quem nasceu para tostão, não chega a milhão" - um conceito antigo, pelos próprios termos do ditado, e solidamente enraizado no bom senso. Disseram não se preocupar "com a ética do PT, que o PT fez um jogo que tem que fazer para governar o país", e que "não dá pra fazer política sem colocar a mão na merda".

Essa chula (tanto verbal quanto mental) tentativa de redefinição, considerada até "corajosa" por alguns, reflete apenas o adiantado estado de decomposição em que se encontram os atuais entes a cargo da grave tarefa que é a manutenção dos princípios e valores maiores desta Nação.

São eles completamente culpados por pensar assim? Não, coitados. Num País onde a mediocridade tem sido o valor mais forte, cultuado há décadas, pode-se chegar à conclusão de que o músico mineiro Wagner Tiso e o ator carioca Paulo Betti (TV GLOBO) sejam apenas produtos do meio, da mesma forma que boa parte dos violentos criminosos que ameaçam a segurança dos brasileiros em todas as cidades seja o produto de uma falta de políticas públicas destinadas a transformar cada habitante deste País num cidadão.

O que não se pode aceitar é esse pronto rebaixamento de conceitos muito sérios a um mínimo denominador comum, é esse despudorado e inconseqüente ato de "rasgar a fantasia" quando há o futuro de tanta gente em jogo - um futuro com o qual essa dupla, a partir de suas declarações, não demonstra possuir nenhum tipo de vínculo associativo ou responsabilidade cidadã.

Esses comentários, amplamente veiculados pelos jornais, batem de frente com o próprio conceito maior de atuação política, onde se busca um equilíbrio entre a sede de poder individual e a nobreza do serviço prestado à comunidade como um todo (leia-se ricos e pobres, negros, pardos, pretos, amarelos e brancos, industriais e desempregados, homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais, e jovens e idosos). Os fundamentos da ciência política são postos em prática diariamente por seres humanos (ainda que seja difícil de acreditar nisso), os políticos, que em condições normais de temperatura e pressão deveriam agir no equilíbrio de suas ambições pessoais e das exigências do serviço público.

É claro que há um grande espaço para manobras nesta atividade. Dos grandes rumos, entretanto, não se pode desviar, e a hipocrisia talvez seja a expressão mais evidente no ramo da atuação política. Mas a hipocrisia pode ser confrontada mais dia, menos dia, e no fim das contas, quem não pode bancar suas promessas e cumprir seus acordos tem que ser desmascarado e substituído. Esse é o fundamento do sistema democrático que a dupla artística Tiso & Betti, entre outros da classe, parece desprezar.

Não custa lembrar, aproveitando as palavras de um dos artistas, que "o jogo que o PT tem que fazer para governar o País" não é apenas antiético. É antidemocrático, também. Esse "jogo" configura o que se convencionou chamar de "estelionato eleitoral", quando todos os conceitos e promessas de mudança cravados na mente de eleitores fartos da eterna picaretagem posta em prática por outros governos foram sumariamente substituídos por um esquema ainda pior, em nome do poder pelo poder. Como se vê, a equação poder/ serviço público foi inapelavelmente alterada.

Um exemplo de indigência intelectual a que se pode chegar, aliás, quando se busca o poder pelo poder, é investigado hoje em dia pelo Departamento de Polícia Federal (DPF), segundo os jornais locais, e tem a ver com a destruição deliberada dos cacaueiros baianos. A disseminação criminosa da praga conhecida como "vassoura de bruxa" - o método escolhido pelos bioterroristas para dizimar o poder econômico das elites do Recôncavo - já foi detalhada ao DPF, inclusive, por um dos "revolucionários" participantes.

Esse é o subproduto lamentável da mediocridade avassaladora que toma conta do Brasil nos dias atuais: é a política da terra arrasada, é o desprezo por conceitos elevados, é o pensar pequeno.

É realmente uma merda!