Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

segunda-feira, outubro 15, 2012

Quase todos

RIO DE JANEIRO (RJ) – A “ABERTURA” das urnas na noite do último dia 07 em âmbito nacional trouxe resultados para quase todos os gostos. O Partido Socialista Brasileiro (PSB), liderado pelo governador do Estado de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB-PE), por exemplo, tornou-se a quarta maior força eleitoral do País, tendo avançado (com 51% em número de votos para prefeito) desde a primeira rodada da disputa municipal de 2008 - coroando as suas robustas vitórias em Recife (PE) e em Belo Horizonte (MG). Já o Partido Social Democrata (PSD) liderado pelo prefeito municipal paulistano, Gilberto Kassab (PSD-SP), na sua eleição de estreia, foi o que mais elegeu prefeitos municipais em proporção ao total de candidatos apresentados, passando a ocupar a antiga 5ª colocação do PSB na configuração política das cidades brasileiras. Mas a relativa dispersão das preferências do eleitorado, acrescentando dois atores ao elenco principal e confirmando o rebaixamento do Democratas (DEM) a coadjuvante, não abalou a hierarquia partidária estabelecida.



O CAMPEÃO do fisiologismo político nacional, Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) continua sendo a agremiação municipal hegemônica do Brasil. Embora tivesse perdido 280 das posições conquistadas em 2008 e 10% do seu eleitorado, ainda fez cerca de 1.020 prefeitos - a começar do campeão de votos, Eduardo Paes (PMDB-RJ), no Rio de Janeiro (RJ) - e levou outros 15 de seus candidatos ao segundo turno, agendado para o próximo dia 28. O Partido dos Trabalhadores (PT) manteve a trajetória de alta nas urnas municipais. Com 17,3 milhões de sufrágios, o PT desbancou o PMDB como o partido mais votado para o governo das cidades e agregou 69 prefeituras às 558 conquistas de 2008. Por fim, no pelotão da frente, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) ratificou a sua condição de maior partido oposicionista. Embora tivessem perdido, grosso modo, 100 prefeituras e 630 mil eleitores, os peessedebistas foram mais uma vez a primeira escolha dos brasileiros refratários ao Partido mensaleiro do ex-presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP) e da sua sucessora Dilma Wana Rousseff (PT-RS). A sua taxa de sucesso - proporção de eleitos no conjunto de seus candidatos - é sete pontos superior à do partido governista.



EM nenhuma das principais cidades, a preferência por uma ou outra das maiores legendas em confronto foi tão nítida como em São Paulo, precisamente onde, há poucos dias, um candidato da periferia do sistema partidário, o deputado federal Celso Russomanno (PRB-SP), parecia a caminho de subverter o padrão consolidado de distribuição de votos, eleição depois de eleição. Peessedebistas e petistas tardaram a ir para cima do outsider - o primeiro a fazê-lo foi o deputado federal e candidato peemedebista Gabriel Chalita (PMDB-SP). Mas, a partir do momento em que passaram a expor a contrafação que era a candidatura do "menino malufinho" (Russomano) tutelado pela Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo de Bezerra, um dos “donos” do Partido Republicano Brasileiro, começou a "volta aos quadros constitucionais vigentes".




O MINISTRO de Estado do Planejamento Orçamento e Gestão (1995-1998), ex-ministro de Estado da Saúde (1999-2002), ex-prefeito municipal de São Paulo (2005-6) e ex-governador do Estado de São Paulo (2007-10), José Serra (PSDB-SP), terminou na ponta, com 30,7% dos votos.



ESTE restabelecimento da normalidade eleitoral na metrópole paulistana levou ao segundo turno, com praticamente 29% dos votos, o ex-ministro de Estado da Educação, Fernando Haddad (PT-SP), neófito em eleições. Não faz muito, o cenário tido como o mais provável para o tira-teima do próximo dia 28 opunha Serra a Russomanno. A recuperação de Haddad na reta final desta eleição municipal na maior cidade do País premiou o seu patrono Luiz Inácio da Silva (PT-SP), que tinha prometido "até morder canela de adversário" para levar o afilhado adiante. Agora é que não arredará o pé das ruas paulistanas. Isso, alinhado ao êxito no seu reduto de São Bernardo do Campo (SP) e em outros municípios da Região Metropolitana de São Paulo, decerto lhe servirá de consolo para o vexame sofrido em Recife (PE), outro bastião lulista, onde o candidato que impôs ao PT local, o senador da República e ex-ministro da Saúde, Humberto Costa (PT-PE), aquele da gestão marcada pelo “escândalo dos sanguessugas”, ficou com a humilhante terceira colocação em número de votos no último dia 07.




DONA Rousseff, por sua vez, carregará a derrota de seu escolhido em Belo Horizonte, Patrus Ananias, para o prefeito municipal reeleito Marcio Lacerda (PSB-MG), com o apoio entusiástico do ex-presidente da Câmara dos Deputados (2000-02), ex-governador do Estado de Minas Gerais (2003-10), e pré-candidato da Oposição à Presidência da República em 2014, o senador da República Aécio Neves da Cunha (PSDB-MG), maior liderança política em Minas Gerais nas últimas duas décadas.



MAS o que chama a atenção em São Paulo (SP), tanto quanto a repetição dos embates de 2004 e 2008 entre PSDB e PT, é a cristalização da geografia eleitoral do Município, com os peessedebistas dominando o centro expandido a oeste e a norte, e os petistas prevalecendo nas regiões leste e sul - duas realidades estruturadas.



POR fim, ressalte-se a eficiência operacional "escandinava" do sistema de votação, apuração e divulgação dos resultados em todo o País. Se a área pública em geral funcionasse assim, o Brasil seria outro.