Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, setembro 21, 2011

Reação constrangedora mas certeira

OUTRO dia o (ainda) ministro de Estado da Educação, Fernando Haddad (PT-SP), foi vaiado na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FAE-USP) e se envolveu em bate-boca com estudantes que criticavam a situação de abandono de várias Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Depois, Haddad acompanhado pelo ex-presidente da República Luiz Inácio da Silva (PT-SP), também, foram vaiados em um evento no ABC Paulista. Esses infortúnios ocorreram uma semana após a divulgação dos resultados da edição de 2010 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ter mostrado uma acentuada queda no desempenho das 50 melhores escolas de São Paulo (SP), a metrópole para qual Haddad pretende candidatar-se a prefeito municipal em 2012.

A EXPANSÃO das Universidades Públicas Federais é uma das bandeiras que Haddad pretende usar em sua campanha política eleitoral e os estudantes que o vaiaram eram, justamente, supostos beneficiários de sua política. Criadas com base mais em critérios de marketing político do que acadêmicos, tendo em vista a eleição presidencial de 2010, várias Universidades Federais foram inauguradas às pressas em instalações improvisadas, sem laboratórios e professores em número suficiente.

POR isso, os grupos e facções do movimento estudantil que não se deixaram cooptar pelo governo federal - que converteu a União Nacional dos Estudantes (UNE) numa entidade chapa branca, por meio de generosos repasses financeiros - definiram uma pauta de reivindicações e um cronograma de protestos contra Haddad. Também acusam o ministro de Estado da Educação de não reivindicar um aumento mais expressivo do orçamento para a área.

NESTA década, o governo tem investido, anualmente, 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação. No Plano Nacional de Educação (PNE), que tramita lentamente no Congresso Nacional, o governo propôs aumentar os investimentos para 7% do PIB. As organizações estudantis reivindicam 10%. Para tentar granjear a simpatia dos estudantes da USP, Haddad chegou a invocar, sem sucesso, sua condição de ex-líder estudantil. E, ainda, tentou comparar os gastos com a educação dos governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio da Silva (2003-10). Segundo Haddad, o orçamento do Ministério da Educação (MEC) subiu de R$ 32,1bilhões para R$ 69,7 bilhões, nos seis anos em que está no cargo. O problema da gestão Haddad, portanto, não é de escassez de recursos, mas de falta de competência administrativa.

COM o objetivo de mudar o foco do noticiário, que destacava o quadro desolador em que se encontra o Ensino Médio, revelado pelo último Enem, Haddad agora defende o aumento do tempo de permanência dos alunos na escola, seja ampliando de 200 para 220 o número de dias do ano letivo, seja elevando a carga horária diária.

ESPECIALISTAS e dirigentes de escolas afirmaram que a ampliação da jornada diária é a medida mais recomendada para a melhoria de qualidade do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, mas lembraram que ela é de difícil implementação, pois não houve investimento na melhoria da infraestrutura da rede pública de ensino, nem na mudança dos currículos. Haddad disse que já começou a discutir sua proposta com especialistas e secretários de educação, mas entidades do setor informaram que não foram procuradas para tratar do tema.

DE FATO esta tem sido a característica da gestão de Haddad à frente do MEC. Outro estorvo herdado do governo Luiz Inácio da Silva (2003-10) e que a presidente da República, Dilma Wana Rousseff (PT-RS), foi obrigada a engolir por questões que só lullopestimo pode explicar, Haddad agita bandeiras vistosas, que lhe permitem sonhar com voos políticos eleitoreiros mais altos, mas que carecem de eficácia e desperdiçam recursos escassos em programas sem a necessária conexão entre si. O ministro de Estado da Educação já defendeu a democratização do acesso ao Ensino Superior, sem tratar seriamente do Ensino Fundamental. Ele defendeu propostas irrealistas, como a adoção do tempo integral no Ensino Básico, quando deveria cuidar de questões fundamentais, como melhorar a qualidade do ensino da língua e literatura portuguesa, da matemática e das ciências. Endossou a introdução de filosofia e sociologia no currículo do Ensino Médio, sem que o País disponha de professores para lecionar com competência tais disciplinas e em número suficiente. Estimulou a ampliação desenfreada de escolas técnicas, sem que a rede já existente tivesse recursos suficientes para atender às despesas de custeio. E, ao tentar utilizar o Enem para unificar os concursos vestibulares das IFES, desmoralizou esse mecanismo de avaliação.

ESSA constrangedora vaia dos alunos da USP para Haddad não causa surpresa. Ela é a reação natural a uma gestão errática, demagógica e, principalmente, inepta.