Notas do Pinheiro

Jornalismo Analítico

quarta-feira, junho 10, 2009

Êta nós!!...

PARA INÍCIO de conversa, o vosso presidente da República, Luiz Inácio da Silva (PT-SP), em plena crise de choque causada pela tragédia que se abateu sobre o avião da Air France, que desapareceu no oceano com mais de 200 pessoas, no Domingo, 31, diz que, se os técnicos da Petrobras S/A conseguem encontrar o pré-sal no litoral brasileiro, vai ser fácil encontrar o Airbus no fundo do mar. Mas pode alguém argumentar que “O-CARA” de uns tempos pra cá pode dizer o que quiser, já que é “blindado” e esse tipo de declaração faz parte de sua retórica, de seu “folclore”, o lulês. É a mesma incontinência verbal que o acometeu quando tachou de “marolinha” a crise financeira que se abateu sobre o mundo a partir dos Estados Unidos da América (EUA). Ou como, em visita à Namíbia, disse “Pô, mas isso aqui nem parece a África, é tudo limpinho”. Ou quando soltou o “sou filho de uma mulher que nasceu analfabeta”, ou ainda quando falou “vocês sabem quando Napoleão foi à China!”; ou quando disse em Nova Iorque que “o Brasil só não faz fronteira com o Chile, o Equador e a Bolívia”, e mesmo quando ofereceu um brinde ao presidente da Síria, Bachar Assad, um notório muçulmano e, portanto, abstênio. Com ”O- CARA”, afinal, dá-se o desconto, já que ele não é um doutor, chegou ao poder vindo direto do sindicalismo como um ex-metalúrgico de carisma indiscutível, depois de ter descido do Nordeste para São Paulo num caminhão pau-de-arara, como fizeram milhares de brasileiros batalhadores e cavadores da vida.

PORÉM QUANDO o ministro de Estado da Defesa, Nelson Jobim (PMDB-RS), um jurista respeitado, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), garante que não há chance de o avião da Air France ter explodido, com base no rastro de óleo encontrado sobre o mar, fato que dias depois foi descartado como sendo óleo do avião, eu na minha ignorância dos assuntos aéreos, fico ruborizado interiormente, como bom brasileiro que sou.

AS AUTORIDADES da França, ao contrário de nós, muito educadamente, não quiseram comentar as declarações do ministro de Estado da Defesa do Brasil e mantiveram a linha, apesar de não tirarem nenhuma hipótese das possibilidades. Uma sabedoria, já que logo a seguir soubemos que, naquele primeiro momento, nem os objetos encontrados eram do avião. Jobim perdeu a oportunidade de se calar diante do desconhecido, mas como bom brasileiro, preferiu dar seu palpite, mesmo com base em suposições.

AINDA OUTRO dia, eis que o ministro de Estado do Meio Ambiente, Carlos Minc (PV-RJ), trouxe à tona outra pérola com o “estão querendo tirar uma picanha do Carlinhos Minc” referindo-se a si próprio ao falar dos ruralistas brasileiros. Ou o “estão pedindo meu pobre pescocinho”, sobre o pedido levantado pelos mesmos ruralistas que criticou, ao chamá-los de “vigaristas”.
Minc tomou um “puxão de orelhas” do “Chefe” e confessou depois: “Como ministro obediente em relação ao meu chefe, desde que não seja para dar licença sem cumprir as leis, não farei mais polêmicas públicas com os ministros”.

CONTUDO essa incontinência verbal parece ser comum aos brasileiros. Ciro Gomes, que sonha em ser um dia presidente deste grande e bobo País, ainda outro dia disse aos repórteres um grosseiro “Ministério Público é o cacete...e pode por aí é o cacete”, quando questionado sobre o uso da cota aérea da Câmara dos Deputados em que teria dado passagens para viagem de parentes com o dinheiro público disponível no Congresso Nacional. Mas são tantos os exemplos que, tenho que admitir: não somos mesmo um país sério, como bem reparou um dia o saudoso presidente francês Charles De Gaulle em passagem pelo Brasil.